Eunseok havia perdido seu marido para a doença viral que assolava seu país. Solitário em uma cidade totalmente abandonada e em ruinas de um pós guerra, Eunseok começa a arquitetar seu projeto, uma cópia de seu amado falecido, um robô que ele criaria...
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Certamente vocês leram a sinopse e estão cientes do que será falado aqui. Então se acha que não se sentirá confortável lendo, escolha não ler!
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Mais um gole no café amargo e mais um esfregar de olhos. O dia havia se passado rápido, a neblina escura da poluição cobria o céu deixando a noite ainda mais obscura e apática. Ali estrelas eram impossíveis de serem vistas no céu, nem se quer os insetos atormentavam mais suas noites de calor. Eunseok desviou o olhar de seu trabalho e fitou a janela, foi possível ver um único corvo voando dentre a massa escura da meia noite. Certamente esse também morreria com a existência escassa de animais selvagens.
Após a guerra entre os países vizinhos tudo havia ficado assim, obscuro, morto e sem esperança. A bomba que havia destruído o país ao lado, também havia quebrado boa parte da Coreia. A radiação matava pessoas e animais a cada dia que se passava, doenças pulmonares atingiam os mais fracos e os mais pobres morriam de fome. Apenas pessoas de grande poder aquisitivo tinham acesso a comida de boa qualidade que era cultivada e criada em grandes estufas e pastos dentro de uma redoma que protegia as últimas esperanças da região.
Eunseok encarou o teto de seu apartamento que se mantinha iluminado por boa quantidade de velas e, mais uma vez naquela noite, tentou conter as lágrimas que insistiam em cair de seus olhos. A cada parafuso que rosqueava, a cada peça que encaixava, as lembranças invadiam seus pensamentos como um grande tsunami que devasta a costa. Sungchan estava em sua cabeça em todos os momentos e em todas as ocasiões, não podia evitar se lembrar, não podia evitar se levar pela tristeza.
Mais uma peça encaixada e mais uma lembrança. Fechou seus olhos com força quando a recordação de seu último momento com seu amado veio à tona. Sabia que aquilo aconteceria, Sungchan estava doente há bons meses, nenhum médico iria resolver aquilo e nem a tecnologia mais avançada evitaria o inevitável. Sungchan morreria mais cedo ou mais tarde, seu pulmão estava fraco e suas tosses constantes vinham em peso com algumas gotas de sangue. Sangue esse que era mais escurecido e espesso que o normal, a poluição do ar entrava em suas narinas e levava a sujeira do ar e bactérias para seu organismo já fraco e doente piorando ainda mais sua situação.
Viu os olhos do marido brilharem pela última vez naquela cama que era cercada de remédios e de toalhas sujas de sangue. "Estarei com você" suas últimas palavras foram ditas com dificuldade antes que desse seu último suspiro. Eunseok ficou ao lado do corpo e, segurou em sua mão gelada por um bom tempo até que o cheiro que exalava fosse insuportável. Não queria aceitar que havia perdido a única pessoa que amava, a única pessoa que ele teve contato intenso nos últimos anos, sentiu como se ele mesmo estivesse morrido, sua vida já não fazia mais sentido naquele mundo despedaçado.
Preferiria morrer ali mesmo a continuar sobrevivendo sem Sungchan, porém, antes que cometesse qualquer besteira, as engrenagens do relógio antigo de seu falecido marido começaram a se mover novamente. A relíquia da família era tão antiga que nunca pensaria que aquilo voltaria a funcionar algum dia. Foi à esperança que ele precisava para a ideia que iria suceder. Desmontou o relógio com certo cuidado para que não perdesse nem se quer um parafuso e, com o auxílio de alguns papéis e de seu conhecimento na área, começou a planejar como poderia construir uma carcaça humana com aquelas engrenagens antigas. Estava há alguns dias concentrado em seus desenhos até que lhe entregassem itens que precisaria para realizar aquilo com destreza. Baterias, e peças de última geração para que nada falhasse e, com o auxílio de todas as lembranças que havia vivido e que se recordava de seu marido, digitou tudo no sistema que ficaria na região superior de seu robô.
