Ao primeiro olhar tive a impressão de ter sido hipnotizada pela beleza daqueles olhos, já no segundo olhar, senti que eu havia perdido mais do que meu tempo vindo nesse consultório, havia perdido também o meu bom senso. Assim como os meus pais.

- Olha só! Eu tô aqui forçada, viu? Meus pais acham que eu estou doente, e não é a senhora quem vai dar a eles o meu atestado de internação, deu pra entender? - despejei de uma só vez. Grossa, ríspida, intolerante ao extremo.

- Calma mocinha! - sorriu amigavelmente. Acho que ela não entendeu uma palavra do que eu disse. Falei tão rápido. Ou será que entendeu? Segurou minha mão que a essa altura estava gelada e trêmula. Se fosse qualquer outra pessoa a me chamar de mocinha, eu teria xingado de imediato um palavrão qualquer. Eu estava sentido isso... Por quê? Na minha frente era só uma mulher que queria me ferrar, oras!

- Antes de tudo, quero que confie em mim, está bem? - disse enquanto fitava os meus olhos me passando segurança. Como posso confiar em alguém que nunca vi na vida? Só sei que senti um calor subir pelo meu corpo, e uma vontade inexplicável de beijar os lábios daquela estranha que estava a minha frente. Pensei que isso só acontecesse nos filmes. Já tiveram a impressão de conhecer alguém sem que os seus olhos jamais tivessem cruzado com os dela um dia? É uma sensação de impotência.

- Tive uma briga feia com os meus pais, e agora eles querem me punir por isso! - disse afobada.

- Quer se sentar? - apontou o divă. Cruzei os braços, fechei a cara.

- Estou bem de pé.

- Quero te ajudar - se aproximou de mim. Senti meu coração disparar quando o cheiro amadeirado do perfume dela entrou nas minhas narinas.

- Eles... Não contaram o que eu tenho? - pela primeira vez demonstrei insegurança.

- Apenas sei o seu nome, Enid Sinclair-sussurrou como se 1 as sílabas do meu nome derretessem na sua boca. Gelei. Minha visão ficou turva, minha pele vibrou arrepiando os pêlos do meu corpo. Queria sair dali o mais rápido possível para não dar a ela a chance de me cativar ainda mais com aquele jeitinho despretensioso.

- Quer saber? A consulta acabou! - disse e fiz o caminho de volta. Ela ficou estática no meio da sala. Saí do consultório com a certeza de que ela me achava louca, uma doida varrida mesmo. Mal educada ainda bati a porta. Minha mãe estava a minha espera na recepção da clínica e me olhou assustada com a rapidez e principalmente com o estado perturbado que sai daquela sala.

- O quê aconteceu, Enid Sinclair? - veio falando atrás de mim como um papagaio de piratas - Você tinha uma hora para ficar lá dentro e não ficou nem quinze minutos menina

- Não preciso de um médico de malucos!!! - apertei o botão para chamar o elevador - Não estou doente! Além do mais, não fui com a cara daquela... Mulher.

- O combinado foi...

- O combinado? Não combinamos nada! A senhora e o papai que decidiram que sou louca e me arrastaram para essa merda de clínica pra malucos. – o elevador chegou no andar. Entramos, continuei falando, e matando a minha mãe de vergonha, pois havia um casal junto com a gente - E se eu falasse pra senhora que tenho um câncer terminal? Que sou drogada? Que tenho AIDS? Seria melhor do que o fato deu ser lésbica?

- Fala baixo menina! - me beliscou.

- Ai! - resmunguei - Pára de me beliscar. Tá com vergonha de ter uma filha lésbica?

O casal arregalou os olhos e me olharam os dois intrigados...

- O que foi? Eu tô de verde por acaso? - me irritei. A mulher parecia que estava vendo um ET.

- Enid Sinclair! – sussurrou minha mãe por entre os dentes me arrastando para fora do elevador.

Enquanto caminhávamos em direção ao estacionamento, disse a ela que nunca mais me submeteria àquela humilhação novamente, mas não era humilhação, era algo que eu não sabia explicar. Quando olhei para Wednesday, sabia que seria... Especial? Como intitulamos uma estranha como especial? Devo estar carente por causa da proibição de ver Yoko novamente.

Fui para casa aguentar o sermão do meu pai, a bronca da minha mãe eu já estava absorvendo pelo caminho. Desse jeito eles vão conseguir me enlouquecer! Onde já se viu me trancar em casa até que eu esquecesse essa história de namorar mulheres? Como assim ser levada e trazida da escola todos os dias como uma prisioneira? Parece piada, mas em pleno século vinte um, as pessoas ainda passam por isso! Fui me trancar no quarto. Enjaulada como o bicho que eles achavam que eu era. Não porque meus pais mandaram, e sim porque eu precisava colocar os meus pensamentos em ordem. Aquela psicóloga me deixou completamente inquieta, isso pra não dizer excitada, tá? Nossa! Queria que vocês tivessem os meus olhos no momento em que entrei naquela sala... Abracei o travesseiro e adormeci pensando nela.

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É isso cambada, quem ainda não viu minha primeira fanfic vão olhar!

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Bjss da Nah💕💕

Minha Doce Psicóloga |  Wenclair (adaptação)Where stories live. Discover now