Capítulo 2 - Ágatha

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Merda! Merda! Merda!

Apressei o passo assim que percebi o desgraçado atrás de mim, mas para ser sincera, tinha pouca esperança de conseguir fugir.

Se eu já devia antes, depois de perder o pacote, estava ferrada! Para não dizer coisa pior.

Virei uma esquina e me misturei no meio dos passageiros que tinham acabado de sair de outro voo, com sorte, eu passaria despercebida, mas obviamente não funcionou.

Corre Ágatha, corre! — o desespero gritava, mas eu nem podia atender.

Caso chamasse atenção demais, ia acabar dando pinta do que tinha dentro da minha mochila e aí meu problema seria ainda maior. Eu podia não ter passagem, mas meu irmão tinha e não ia demorar para alguém me associar a ele assim que puxasse o nome de quem comprou meu bilhete aéreo.

Respirei fundo, baixei a cabeça e mantive o ritmo, faltava pouco para chegar aos portões e, se o universo não foder o que restava de mim, teria um táxi parado e vazio, prontinho para eu entrar e dar um jeito de sumir.

Vamos, vamos! — eu torcia mentalmente, vendo as portas de vidro se aproximarem.

Passei pela entrada, olhando rápido de um lado para o outro, até que vi um ônibus de turismo parado com as portas abertas. Subi as escadas correndo, aproveitando a distração do motorista. Até que ele percebesse minha presença, eu teria despistado o capanga do Milton e poderia descer com um pedido de desculpas.

Acomodei-me em um dos bancos no fundo do ônibus, onde estava mais escuro e puxei a cortina, rezando para que o homem não tivesse acompanhado minha fuga.

Pela fresta, esperei que ele passasse, mas não o vi.

Alguns segundos depois, o motorista ligou o motor e eu senti meu coração acelerar. Não queria descer ainda, mas não tinha ideia de qual seria o meu destino.

Ganhamos movimento e eu me encolhi um pouco mais. O ônibus estava vazio, então imaginei que iríamos para uma garagem ou coisa parecida.

Esperei. Aquela adrenalina intensa correndo pelas veias de um jeito que começava a incomodar. Eu não tivera uma vida fácil, mas o último mês estava de parabéns. Desde a morte do meu irmão as coisas haviam se complicado um pouco mais.

Gustavo era dois anos mais velho do que eu, mas havia um abismo imenso entre nós. Enquanto eu tinha me esforçado muito para terminar a faculdade de jornalismo e estava até fazendo estágio em uma rede de TV, meu irmão havia deixado nossa casa em São Paulo para se afundar nas drogas lá no Vidigal. Talvez fosse culpa de termos crescido sozinhos, ou ele só fosse fraco mesmo, mas o fato é que sua morte havia deixado para mim uma dívida que eu não tinha como saldar.

Eu me mantive longe das merdas do Guga enquanto pude, mas não tive como ignorar sua morte e abandonar o corpo para ser enterrado como indigente. Meu amor por ele acabou por selar minha ruína e foi durante o velório que conheci o Milton. O filho da puta que era dono do pacote perdido.

Droga, Ágatha, isso que dá uma tonta feito você se meter com coisa errada! Lógico que algo ia acontecer você estava tão desesperada que havia sinos tilintando ao seu redor.

Fechei os olhos lembrando do voo. Ao menos você escapou da polícia. Abri de leve o zíper, conferindo que ao menos um dos pacotes ainda estava comigo.

De repente, o ônibus deu um solavanco e parou abruptamente.

Meu coração saltou no peito e eu me levantei, já preparada para o sermão que ia levar.

— Ei, mocinha! — o motorista chamou. — O que está fazendo aqui?

— Acho que entrei no ônibus errado. — Menti, usando minha melhor cara de inocente. — Eu... Eu desço. É só você abrir a porta.

Sob a Proteção do Bilionário Turco (SOMENTE DEGUSTAÇÃO)Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu