Cruel Lies ⚢

01 | ANJO CAÍDO

— Você acha que eu deveria colocar um piercing na boceta ou nos mamilos? Talvez em ambas opções? Meu umbigo está se sentindo muito solitário ultimamente... E que porra de barulho é esse? Onde você está?

— Ambos, com certeza. E estou dirigindo agora, preciso desligar antes que eu cometa um acidente e não esteja viva para ver o resultado deles. — Ouço minha melhor amiga gargalhar do outro lado da linha o que quase me faz rir... quase.

— Não queremos isso, então. Eu te amo, Chloe. Dirija com cuidado. — Desliga antes que eu tenha a chance de responder que a amo de volta.

Jogo o celular no banco do passageiro e acelero meu Porsche pelas vias noturnas de Los Angeles, onde a chuva torrencial desaba lá fora, e nem mesmo o limpador de para-brisas consegue desembaçar o vidro para melhorar minha visão. A escuridão da madrugada só dificulta ainda mais a situação, que já é precária.

Acabo de sair da fraternidade do meu namorado após uma briga intensa que quase resultou em agressão física, além da psicológica. As discussões já não são mais uma novidade no nosso relacionamento, especialmente quando você é a capitã das líderes de torcida e ele é o quarterback do time de futebol. Estamos juntos apenas por status, nossa união foi praticamente arranjada. Nossas famílias se reuniram para uma tarde de chá e decidiram que nosso namoro traria benefícios para os negócios.

Tenho um namorado que só quer me usar e me exibir como seu maldito troféu. E por que diabos eu não termino esse relacionamento fracassado? A resposta é simples: meu pai. Fui criada há 19 anos com um único propósito: ser uma herdeira perfeitamente moldada — filha perfeita, namorada perfeita, corpo perfeito, notas perfeitas — nada menos que a encarnação da perfeição. Eu me encaixo em todos esses padrões? Nem de longe. Mas me esforço ao máximo para chegar perto. Se eu falhar, meu querido pai vai tirar a única coisa que posso chamar de minha: a liderança da equipe de animadoras de torcida da USC.

Se tem uma coisa da qual meu coração se enche de orgulho é ter conquistado o cargo de capitã, liderando essas meninas. Ver o brilho em seus olhos toda vez que acertam um passo, observá-las deslumbrantes em seus uniformes enquanto animam o público, balançando seus pompons com um sorriso de orelha a orelha no rosto. Contemplar seus esforços valerem a pena é tudo o que importa para mim.

Deixo meu devaneio quando sinto um aperto no peito, como se fosse uma premonição. No mesmo instante, uma luz surge em minha direção, sem tempo para raciocinar, cortando a via arborizada e quase batendo no meu carro. No susto, viro o volante e paro o Porsche no acostamento. Meu coração está quase saltando do peito.

Que porra foi essa?

A mesma luz permanece acesa, mas agora está parada no meio das árvores, vinda de um farol. Acredito que seja uma moto, mas não fico muito tempo refletindo. Pego meu celular para ligar a lanterna e desço do carro. A chuva agride minha pele com gotas grossas, e a rodovia está quase deserta neste horário. Os poucos carros que passam nem se incomodam em parar, provavelmente porque, com a chuva, não conseguem ver uma figura feminina desnorteada e sozinha usando uma saia curta. Caso contrário, parariam apenas para analisar mais de perto, especialmente o que tem por baixo dela.