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     Corpos translúcidos andavam em minha volta, estava em um lugar escuro, o chão era feito de uma terra escura e grossa, olhei para cima e onde devia estar o céu estava um teto de terra. Tanto no chão quanto no teto, era possível ver algumas formas brilhantes, rapidamente as reconheci como pedras preciosas, das mais variadas possíveis. Eu não fazia ideia de como chegara ali, e muito menos que lugar era aquele, devia se tratar de um sonho estranho.
     Comecei a andar, os corpos translúcidos se viraram em minha direção, alguns me encararam, outros baixavam a cabeça quando eu passava. Enxerguei um rio, ali perto e algo dentro de mim dizia que o melhor era seguir sua correnteza, ao contrário. Era um grande e com uma água preta, dentro dele eu via mais alguns corpos translúcidos, pareciam querer se levantar dali. A correnteza descia para um lugar que não enxergava, então decidi acompanhar a correnteza subindo o rio, pelas margens. Conforme caminhava, vi um barco descendo o rio, estava cheio de corpos translúcidos, o barqueiro era um homem pálido, com a pele meio transparente, o que me permitia ver alguns de seus ossos. Seu olhar cruzou o meu, e ele fez uma pequena reverência antes de voltar a descer o rio para o fundo daquele lugar.
     Segui meu caminho, aquele lugar era assustador, mas me era familiar. Durante meu caminho vi mais algumas coisas estranhas como um velho empurrando uma pedra para o todo de uma montanha, mas quando chegou lá em cima, a pedra rolou para baixo e ele voltou a empurrá-la. Parei de andar quando cheguei ao que parecia ser um pórtico feito de obsidiana, uma pequena faixa de luz vinha dali, era quase imperceptível, parei em frente ao pórtico e me virei para trás. A cerca de uns 20 metros de distância, estava um homem, o mesmo homem pálido que havia falado comigo antes de eu fugir de casa. Nossos olhares se encontraram, e com um aceno de cabeça, desapareceu. Passei pelo pórtico, uma luz forte invadiu minha visão, eu quase não enxergava mais e então...

     Eu acordei em um susto, estava escorado em uma árvore, mas não era a mesma na qual havia pego no sono. Me levantei ainda assustado, e assim que o fiz, minha perna falhou, uma dor subiu por meu corpo, minha calça rasgada e suja de sangue, meu braço doía tanto quanto. Minha barriga roncou, fazia um tempo que eu não comia, me sentei outra vez e abri minha mochila. Além do que eu tinha colocado ali, agora eu tinha um pacote com fecho zip, dentro dele o que pareciam ser bolachas brancas, no pacote havia um post it, onde estava escrito com uma caligrafia relaxada "um pedaço deve bastar, não coma mais do que isso, você não querer saber o resultado — Hades".
     Hades? Isso não é uma marca de suco de caixinha? "Claro que não, idiota! É um deus grego!", disse uma voz em minha cabeça, eu devo estar enlouquecendo, só pode ser isso.
     Apesar de assustado, não resisti e comi uma bolacha, tinha um gosto inexplicável, seu sabor esquentou todo meu interior, me senti revigorado, quando terminei, guardei o pacote de volta na mochila, e peguei a bolacha que eu havia pego em casa, comi algumas e bebi um pouco d'água. Fiquei ali por mais um tempo, até finalmente minha dor diminuir consideravelmente, ainda estava machucado, mas por algum motivo, aquela bolacha havia deixado, tanto minha perna quanto meu braço, quase cicatrizados. Coloquei a mochila nas costas e me levantei, ainda sentia um pouco de dor, mas isso não me incomodava mais.
     Comecei a andar, segui por um caminho que parecia ser mais fácil, embora não fosse tanto, visto que a floresta era um pouco fechada. Segui por um caminho que eu nem sabia o motivo, apenas andei pela floresta. Caminhei por uns trinta minutos, sem saber pra onde ir, e sem saber se de fato encontraria algum lugar.
     Parei para descansar um pouco, me sentei e bebi água. Fiquei alguns ali, e me assustei com um barulho, como se alguém estivesse andando por ali. Me levantei já com a mochila de volta às costas, observei o lugar de onde o barulho vinha, algo se movia ali, e chegava cada vez mais perto.
     Se fiquei com medo? Depois, do que eu já tinha visto, definitivamente sim. Admito que estava pronto para sair correndo, mas me surpreendi quando do meio das árvores, saiu…um garoto. Devia ter uns quatorze ou quinze anos, seus olhos verdes me encararam por alguns segundos, antes de o garoto se jogar para a direita desviando de cachorro gigante que se jogou contra ele.
     Só então percebi que o garoto segurava uma faca, ele acertou o cachorro com ela, o animal rosnou e o garoto se levantou rapidamente. Ele olhou para mim outra vez, e o cão se jogou contra ele, o pegando desprevenido. Admito que me assustei com a brutalidade daquele cão, o garoto se debatia com os arranhões do cachorro.
     Apesar de não saber o que fazer, me lembrei do dia anterior, e que aparentemente meu colar era mágico ou algo do tipo. O puxei com força, e o pingente deu lugar a uma espada negra. O garoto olhou para mim surpreso e gritou:
     — Acerta ele!
     Eu não sabia bem como fazer isso, mas me aproximei rápido, e fiz um grande corte em uma de suas patas dianteiras. O cão desapareceu em uma explosão de uma poeira dourada, a qual ficou por cima do garoto. O garoto estava um pouco arranhado e com as roupas um pouco rasgadas. Estendi minha mão para ajudá-lo a se levantar, ele me olhou relutante, mas acabou aceitando a ajuda. Assim que se levantou, olhou para as roupas sujas de poeira dourada, ele começou a bater em suas roupas para se limpar.
     Ele tinha a pele bronzeada, e os olhos verdes. O cabelo era raspado e castanho escuro nas laterais e descolorido no topo, estava bagunçado e um pouco sujo, assim como seu rosto e roupas. Um pouco de sangue pingava de seu queixo, e ele tinha uma faixa de pano enrolada no braço direito, a qual estava suja de vermelho, parecia ser sangue seco. Carregava uma camisa roxa amarrada na cintura, vestia um jeans claro rasgado, e uma camiseta de manga comprida acinzentada, com as mangas arregaçadas. Ele era ao menos dez centímetros mais alto que eu, e também era mais forte fisicamente, não que fosse difícil, afinal eu não passava de um garoto magricela.
     — Hã… valeu pela ajuda aí. — o garoto agradeceu e eu simplesmente sorri minimamente — Quem é você?
     Ele me olhava com um ar de curiosidade, chegava a ser estranha.
     — Christian.
     — Eu sou Yuri, e… como você chegou aqui, Christ?
     Me mexi inquieto, eu não sabia como responder.
     — Okay… vou tentar outra pergunta então — ele apontou para a espada em minhas mãos — onde conseguiu isso aí?
     — Ontem a tarde, eu acho, um cara estranho apareceu em casa e falou com a minha mãe, antes de ir embora ele falou comigo — contei, ele provavelmente me acharia maluco, mas não custava tentar.  — Ele sumiu, literalmente, ele desapareceu na minha frente, e apareceu um colar, que virou essa espada.
     Ele sorriu, me senti um pouco estranho por ver aquele cara dirigir um sorriso a mim.
     — Tá, faz um pouco de sentido, acho que somos parecidos, Christ.
     — Somos?
     — Fugiu de casa? — era estranho pensar que eu acabara de ter feito isso, mas assenti — Sua família te odeia ou você sempre se sentiu deslocado? — assenti outra vez — Já foi convidado a se retirar de alguma escola? — baixei a cabeça e assenti — Não tem contato ou foi abandonado pela sua mãe ou seu pai? — assenti — Já aconteceu coisas sem explicação com você, coisas que ninguém acredita quando você conta? — Já viu… monstros? Tipo… um cara só com um olho, um cachorro gigantesco, pássaros assassinos, ou outras coisas assim, e eles tentaram te matar?
     Me mexi, assustado.
     — Como você…?
     Ele sorriu de lado.
     — Aconteceu, tipo, a mesma coisa comigo.
     — V-você não acha que eu tô doido?
     — Nope. — ele me deu um tapinha nas costas — Já passei por isso, Christ. Você é como eu, bem vindo à vida de pessoas que nasceram com um alvo nas costas! — ele falou isso abrindo os braços, como se estivesse me apresentando um lugar — Você também pode falar semideus, mas do outro jeito é mais emocionante.
     Eu achei engraçado, e… acreditei? Ele foi extremamente convincente, mesmo que não tenha feito nada demais, mesmo assim não pude evitar minha expressão de confusão, ele sorriu outra vez.
     — Ah é, né, eu esqueci de explicar essa parte. — ele se abaixou um pouco ficando da minha altura, seus olhos verdes brilhantes me encarando — deuses gregos são reais e blá-blá-blá. Igual na mitologia e na Grécia antiga eles não se aguentam quando veem um rabo de saia. Aí eles tem filhos semideuses, meio humanos e meio deuses e blá-blá-blá. E é claro que tem os monstros também, iguais os monstros dos mitos e lendas, quando eles não tão tentando te matar, tão caçando você pra te matar. Deu pra entender?
     Pisquei meio confuso e desviei o olhar de seus olhos.
     — Não muito. Mas depois de ontem que um esqueleto salvou minha vida e desapareceu, acho que eu acredito em qualquer coisa.
     — Relaxa, gatito, você se acostuma. — ele passou o braço direito pelos meus ombros — E você não está mais sozinho, vamos, Christ, eu sei de um lugar seguro pra gente como a gente.
     Ele começou a andar pela floresta me levando com ele, eu não pude resistir, afinal ele foi extremamente convincente e parecia ser um cara legal. O que podia dar errado? Tudo, na verdade, mas eu não tenho nada a perder.

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E assim termina mais um pedacinho dessa história! Espero que você tenha se divertido tanto quanto eu. Mas não se preocupe, ainda tem muita coisa boa vindo por aí. Quer saber no que isso aqui vai dar? Então fique ligado nos próximos capítulos e não perca nenhum detalhe.

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Então é isso, pessoal. Muito obrigado pela sua atenção e até a próxima.
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