CAP.1

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     O dia de hoje está limpo mas parece nublado, preste a chover.
     Os pássaros cantam logo pela manhã mas parecem corvos na escuridão.
     O pequeno almoço foi panquecas acabadas de fazer com xarope por cima mas parece uma papa de há dias cheio de larvas e bolor.

     É o que vejo há 2 anos depois da separação da minha mãe e do meu padrasto, nunca mais foi a mesma coisa. Antes via as nuvens, as estrelas, o pôr do sol, as coisas pequenas da vida que iluminavam o meu espírito da felicidade e agora só vejo escuridão, corvos e tudo quase sem vida.
     Atualmente, estou a viver com o meu namorado, tenho o meu trabalho estável e com os estudos inacabados, enquanto a minha mãe está metida no álcool dentro da casa da minha avó e com os meus irmãos lá viver. Eu sinto que a culpa é toda minha porque como filha do meio sempre senti uma pressão enorme pelos adultos que eu não irei conseguir sair de casa, concretizar o meu sonho por ser demasiado burra e incompetente e ao longo dos 15 anos que a minha mãe esteve junta com o namorado dela, sempre foi assim desde à 2 anos. E agora olhem bem para mim, estou noiva, tenho a minha casa, tenho trabalho, tenho carro, tenho tudo menos licenciatura e saúde mental.


2 ANOS ANTES

      Estou sozinha em casa com o meu irmão e hoje é o meu primeiro dia de trabalho, estou tão ansiosa que nem consigo expressar o que sinto no momento. Começo daqui a 2 horas o trabalho mas o local fica a 5 min por isso vou já arrumar o meu quarto e tratar dos meus animais, não posso esquecer de ligar para a minha mãe já que ela está no norte do país com a minha irmã mais nova e com o namorado dela, já passaram 2 semanas que estão fora e já deviam estar a caminho.
      Assim que vou digito o número da minha mãe a campainha toca e, pela minha surpresa, é ela e minha irmã. Mas o que aconteceu? A minha mãe está toda vermelha, os olhos dela pareciam o mar vermelho.

     -Mãe? o que se passou? Pensei que vinham mais na madrugada. - Alcancei ela e agarrei suavemente nos ombros dela, simplesmente desabou para cima de mim a chorar intensamente no meu ombro, senti chuva a escorrer no meu ombro e costas.
     -Mãe...?
     -Eu... Desculpa... Não con..consigo...
     Ela só pedia desculpas. A minha irmã trancou se no quarto e o meu padrasto estava a descarregar as coisas do carro e colocar dentro de casa silencioso.
     -Mãe, eu não sei o que aconteceu, mas eu preciso de ir trabalhar. Assim que chegar vais contar me o que aconteceu ok? - Sussurrei ainda no abraço, larguei com cuidado os braços da minha mãe e limpei-lhe o rosto com as minha mangas do casaco. - Eu não demoro nada.

     Ela desejou sorte para o meu primeiro dia e beijou a minha testa, sorriu esforçadamente com as lágrimas a escorrer nas bochechas.

     E eu... fiz o meu maior erro da minha vida naquele momento.

     Eu fui trabalhar naquele dia que se tornou uma escuridão, sem esperanças e sem apoio.

     

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⏰ Last updated: Sep 23, 2023 ⏰

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