— Continuamos andando, ele ria e concordava com as coisas que eu falava. — sua voz começa a estremecer — Até chegarmos perto da esquina, bem em frente à padaria.
Riki fecha os olhos, amaldiçoando sua cabeça por conseguir projetar perfeitamente a cena.
— Demorei para perceber que estava falando sozinho. Quando olhei para trás, Sunoo estava ofegante e uma mancha vermelha se formou em sua blusa, ao redor do peito. — ele morde os lábios trêmulos — Ele caiu no chão e eu corri até ele, gritei por ajuda e um garoto americano veio e chamou a ambulância.
A história piorava a cada palavra e Riki não estava sendo capaz de associar tudo aquilo de uma única vez. Sua visão ficou vagamente turva com a queda de pressão e ele precisou apoiar as mãos no banco para prevenir um possível desmaio.
— Ele lutou muito, Riki. — Jungwon se rende ao choro — Continuou me pedindo desculpas mesmo quando eu disse que não havia necessidade, e repetir seu nome, querendo que você estivesse ali.
A culpa o atingiu tão forte quanto um soco. Não podia acreditar que enquanto ele festejava e pensava em desembrulhar presentes, Sunoo estava sofrendo naquelas condições e almejando sua presença. Riki só conseguia pensar que devia ter estado lá.
— Ele obviamente não estava sentindo dor, mas o local atingido pelo tiro foi afetado e estava suportando as consequências. Eu não quis soltar a mão dele, mas os médicos me impediram de continuar lá.
Jungwon estende em sua direção um caderno, reconhecido sem precisar de muito custo. Era o mesmo caderno rosa que Sunoo estava protegendo no banheiro masculino para que Heeseung e Sunghoon não pegassem.
— Ele me pediu para te entregar isso e a última coisa que me disse antes de morrer foi que te amou o quanto pôde. — o choro começou a atrapalhar — “Jungwon, diga ao Riki que nunca imaginei que seria possível amar tanto alguém quanto amei ele”.
As lágrimas de Riki escorreram na capa do caderno, qual ele alisou delicadamente com a ponta dos dedos, agindo como se estivesse acariciando o cabelo macio de Sunoo uma última vez.
Nem mesmo Jungwon sabia o que estava escondido atrás daquela capa, Sunoo nunca o contou o que tanto escrevia naquelas linhas, mas imaginou que se deveria entregar ao Riki, apenas ele poderia descobrir.
O Yang afastou o corpo para permitir que o japonês lesse o conteúdo nas folhas e chorou mais um pouco. A primeira coisa encontrada foi um papel solto escrito “De: Sun / Para: Ni-ki”.
Estendeu o papel sobre o caderno e soube que terminaria aos prantos assim que leu as primeiras palavras escritas com caneta preta.
“Inesquecível Riki,
se estiver lendo isso, quer dizer que falhei no simples ato de viver, não é? Isso é tão estúpido de se dizer, e espero que esteja conseguindo lidar bem com isso.
Eu nunca te odiei, Nishimura, mesmo você sendo o garoto mais insistente que conheci em minha limitada vida e te querendo o mais longe possível para poupar seu tempo e esforço, mas também nunca acreditei em Jungwon todas as vezes que ele disse que você era alguém legal e que aceitar sua amizade literalmente não doeria.
No dia que você esbarrou em mim, não imaginei que aquele cabelo loiro pedindo por um retoque e aquela pinta no queixo seriam tão valiosos para a minha história, e acabaram sendo muito mais do que eu poderia calcular, o que é irônico, porque nem mesmo eu teria conseguido convencer o Sunoo do passado de que ele acabaria permitindo que o novato japonês entrasse em sua vida, e o incentivasse a mudar radicalmente o cabelo, e a fugir da escola para conhecer um cachorro, e algumas outras maluquices.
De todas essas ações que fariam minha mãe enlouquecer se ela descobrisse, a sua mais ousada foi, com certeza, ter feito eu me apaixonar por você. É sério, Nishimura, que droga você fez para que eu me rendesse tão facilmente ao amor? Por mais que eu vivesse fantasiando com um romance igual o dos livros que eu lia, não conseguia me imaginar vivendo um por diversos motivos. Pensei que ninguém amaria um garoto que não pode ser curado e eu também não permitia aproximações, mas você simplesmente chegou e acabou com tudo.
Você roubou tudo de mim, Riki, não restou nada! Eu espero que cuide muito bem de todas as partes que tirou de mim e as carregue sempre consigo, nem que precise utilizar um minúsculo espaço em seu coração, contanto que eu esteja nele, ficarei feliz.
Acho que eu preferiria sofrer com alguma doença que afetasse minha memória, talvez isso permitisse uma vida mais tranquila para mim, onde esqueço que sou um garoto que gosta de garotos e te desconheço todos os dias. Mas, talvez, nem mesmo algo assim fosse capaz de te tirar da minha mente, nem com todo o esforço do mundo eu te esqueceria.
Mas, sabe o lado bom de tudo isso? Eu só sou incapaz de sentir fisicamente, imagina se eu também fosse incapaz de sentir psicologcamente? Seria horrível não poder te amar todos os dias quando acordo, e todas as noites antes de dormir. Creio que minha miserável vida seria ainda pior, então posso me considerar sortudo, não posso?
Talvez eu te odeie um pouco agora, Riki, por mudar completamente a minha percepção de mundo e causar uma enorme bagunça na minha vida, porque sempre me senti um imprestável tentando incansavelmente alcançar uma saída que não existe, quando, na verdade, você é minha saída, é a luz no fim do túnel, o sol após dias de frio, a chuva após dias de seca, o lar após dias viajando.
Agora, tudo que mais quero é um tempo a mais para poder ouvir com mais atenção o que você tem a dizer sobre a vida e como ela deveria ser vivida de maneira que não provoque arrependimentos no futuro e, acima de tudo, te amar. Não preciso necessariamente de um ano ou um mês, talvez nem mesmo uma semana, um único dia já basta para que eu me sinta feliz de verdade. Uma única hora ao seu lado faz eu me sentir muito mais vivo do que fui capaz de me sentir durante minha vida inteira.
Estou torcendo por algo que nunca costumei acreditar: outras vidas. Espero que tenhamos mais sorte na próxima, para eu poder segurar sua mão na rua sem medo, sentir uma dor além da psicológica e viver sem uma chuva de exames mensais. Espero que o universo seja justo e me dê uma mãe que verdadeiramente me ama.
Com tudo isso, não estou querendo apenas dizer que gosto de você, da sua companhia, da forma que você enxerga o mundo e como foi o principal responsável por me fazer querer viver. Estou querendo dizer... que te amo, Riki, como nunca amei ninguém.
Com amor, Sunoo.”
Riki acertou em sua previsão, pois quando terminou de ler a última palavra, lágrimas caíram sobre o papel e borraram um pouco a tinta da caneta.
— Isso é... tão injusto. — ele se sente patético por declarar entre um choro sofrido — Não tivemos tempo suficiente, Jungwon, eu não terminei de amar ele!
— Você ainda pode amá-lo, Riki.
— Eu amava muito mais quando achava que ele estava vivo, eu preferia continuar achando isso. — ele arrasta a manga da blusa pela bochecha com força — Não acredito que não consegui pedi-lo em namoro. Se eu não fosse tão covarde, teria tido a chance de dizer o quanto amava ele com todo o meu coração.
Voltando para o caderno, atrás da carta, Riki percebeu que se tratava de uma espécie de diário, onde todos os dias Sunoo escrevia como seus sentimentos pelo japonês se fortaleciam. Sempre incluindo coisas como “Dia 1: Nishimura não é tão ruim quanto eu pensava”, “Dia 2: Acho que fiz um novo amigo”. Pulando para o dia 28: “Gosto dele muito mais que eu deveria me permitir” e assim por diante.
Era inacreditável que não podia mais expôr para Sunoo tudo que pensava sobre ele, que realmente não o veria mais, nem que fosse às escondidas, que agora, tudo que restava eram palavras escritas. Praguejou a pessoa infeliz que um dia disse que onde há amor não há dor, porque a primeira vez que ele sofreu tanto assim na vida, foi por um primeiro amor perdido, e a experiência era muito mais cruel do que qualquer outra coisa, muito mais dolorosa do que qualquer dor física, e Riki poderia enfrentá-las se isso trouxesse Sunoo de volta.
Fim.
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com amor, sem dor • sunki
FanfictionRiki queria, a qualquer custo, descobrir qual era o segredo que Sunoo escondia.
Com amor
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