Prólogo

59 9 51
                                    

Robby desceu as escadas de pedra rapidamente, de forma instintiva

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Robby desceu as escadas de pedra rapidamente, de forma instintiva. Já estava completamente familiarizado à casa, apesar de estarem morando ali há poucos meses. Podia ouvir o vento uivando no penhasco onde a residência se encontrava, bem como o barulho constante das ondas quebrando nas pedras logo abaixo. Entrou na cozinha e sentiu o vento frio do inverno açoitá-lo impiedosamente, vindo da janela que havia sido deixada aberta na noite anterior. A fechou com um suspiro de alívio, se aconchegando mais no casaco felpudo que vestia. 

Encheu uma leiteira de água e a pôs para ferver, esperando que o café lhe aquecesse e desse energia para que pudesse fazer tudo que pretendia naquele dia. A casa era enorme e a cada caixa que abria e cada cômodo que arrumava, pareciam surgir mais coisas no meio das embalagens da mudança. Já havia arrumado tudo no quarto do casal, na cozinha e no banheiro. Não queria mexer na estrutura da casa, afinal seria muito dispendioso e acabaria com o charme da construção, mas começou a pintar as paredes desgastadas pelo tempo ainda na primeira semana. 

Quando recebeu a notícia de que havia herdado uma propriedade da avó paterna no litoral escocês, ficou bastante surpreso. Mas ao ver o quanto era isolada, entendeu por que ninguém da família havia se interessado. Para sua sorte, tudo que ele queria era poder viver longe da cidade agitada. Mudar de país havia sido uma escolha difícil, mas o dinheiro que havia vindo junto com a casa era suficiente para visitá-los quando quisesse, sem ter quem o cobrasse e se metesse em sua vida diariamente.

A água finalmente ferveu, e Robby se aproximou, deixando o vapor aliviar um pouco o frio que sentia, para em seguida terminar de preparar a bebida tão desejada. Comeu uma fatia de bolo para não agredir seu estômago vazio com uma bebida irritante, e se deu por satisfeito. Nunca foi de comer muito pela manhã, de qualquer forma.

Decidiu que aquele dia seria dedicado à biblioteca, cujas paredes havia pintado de azul, querendo algo escuro o suficiente para ser aconchegante, mas transmitindo tranquilidade. Seria um dos lugares onde certamente passaria mais tempo, pois era apaixonado por ler. E também por escrever, o que faria na grande mesa de carvalho que havia ao lado de uma das janelas. Levou as caixas correspondentes uma a uma, pacientemente, para evitar acidentes, e então começou a ordenar os livros de acordo com seu sistema de gêneros, autores e ordem alfabética. Doug não gostava muito de ler, então não opinava na forma de organização do marido.

Pensar nele fez Robby pausar o trabalho e olhar pela janela, falhando em perceber o horário. Os dias eram quase sempre nublados e enevoados, as noites eram longas. Ele ainda não era capaz de se virar bem sem um relógio, mas imaginava que fosse o meio da tarde, pelo estômago reclamando. Checou o celular e eram mesmo 3:42, havia passado mais tempo ali e se distraído mais do que esperava. Havia algumas notificações novas, dos amigos, dos Larusso, todos contando novidades e perguntando sobre a nova rotina. Deixou para lê-las mais tarde e priorizou a conversa com o marido, recebendo um balde de água fria. 

Robby era escritor, havia aceitado bem a mudança pois trabalhava de casa e sabia que não teria problemas quanto a isso. Além de não ter realmente necessidade de renda, o que facilitava muito as coisas e o permitia fazer o que amava. Mas Doug era advogado, e passava praticamente a semana inteira na cidade vizinha, onde ficava o fórum, voltando para casa apenas nos finais de semana. 

Doug:
Oi, querido. Desculpa avisar em cima da hora, mas não vou voltar hoje. A audiência foi remarcada pra segunda e tamos atolados… Vou trabalhar o fim de semana todo. Prometo te recompensar! Torce por mim ❤️

Robby bufou de frustração, com saudades do marido e de interagir com alguém diariamente. Estava há cinco dias sozinho na casa gigantesca, ouvindo apenas o som dos pássaros de manhã e dos morcegos à noite, além do barulho do mar e do vento. Ouvia as vozes dos amigos em ligações, mas não era a mesma coisa. A interação pessoal mais frequente que tinha era com a funcionária da mercearia, até a qual andava quase trinta minutos. Pelo menos era uma forma de se exercitar e manter a saúde em dia com alguma atividade ao ar livre. 

A praia só poderia ser frequentada na primavera e no verão, e ele descobriu isso no primeiro dia, ao se animar com a visão da água e experimentar a temperatura, quase sentindo seus pés congelarem. As árvores estavam secas e não havia muito para ver, nada que fizesse valer a pena sair no vento gélido. Ia duas ou três vezes por semana à mercearia comprar frutas, legumes e verduras frescas para ter uma desculpa para socializar um pouco, e se sentia um pouco como os velhinhos de mercado que tanto via quando morava na Califórnia.

Pôs o telefone de lado, perdendo todo o ânimo. Havia planejado várias coisas para fazerem durante o final de semana e passado mais tempo trabalhando para adiantar o capítulo novo de seu livro e poder passar tempo com Doug, apenas para ser deixado sozinho de novo, com mais uma promessa de compensação que ele sabia que não seria cumprida, como todas as anteriores. Estava fazendo praticamente a reforma toda sozinho, pois o marido nunca achava tempo para ajudá-lo, apesar de ter prometido que o faria. 

Se sentou com as costas contra a parede, observando os livros empilhados no chão e pensando nos planos que tinha para o jantar, agora para apenas uma pessoa. Teria que congelar os legumes e verduras que sobrassem, pois não queria desperdiçar comida. Passou a mão impacientemente pelos cabelos castanhos na altura dos ombros e fechou os olhos. Estava sem a menor vontade de fazer qualquer coisa naquele momento, mas se deixassesem os livros fora da estante, a maresia e a poeira dificultariam seu trabalho depois. Havia comprado a estante com portas de vidro especificamente para proteger sua amada coleção, fazia questão de terminar o trabalho. 

Se reaproximou do móvel e partiu para a próxima pilha, suspirando tristemente sem notar que era observado com atenção e curiosidade. 

── ⋆⋅☆⋅⋆ ───── ⋆⋅☆⋅⋆ ──

Olá, gente! Espero que quem estiver aqui goste da história nova, esse é só um prólogo!

Sleeping with Ghosts - Kiaz Where stories live. Discover now