Não é tão comum para os dois se beijarem em público, mas Ramiro está com uma saudade absurda que lhe aperta o peito, pois era época de colheita nas terras dos La Selva e ele esteve atolado de trabalho por vários dias. Além disso, Kelvin está lindo. Não que ele não esteja todos os dias, mas essa noite parece ser um dos ápices de sua beleza. Por isso, Ramiro não hesita em se inclinar levemente, ficando rosto a rosto com Kelvin para depositar um selinho rápido naqueles lábios que tanto adora.

— O patrão saiu pra jantar com a Dona Irene, daí me liberou mais cedo. — Ramiro explica sem deixar de notar o sorrisinho no rosto de Kelvin depois de ser beijado e o leve rubor que se forma nas bochechas dele. É quase impossível para Ramiro não se sentir metido – e sortudo! – por ser o único que consegue deixar Kelvin, desinibido que só ele, envergonhado.

Ambos os homens se olham, perdendo-se por alguns segundos um no outro com sorrisos contidos no rosto, até que escutam a reclamação de Zezinho ao fundo: — Todo mundo com seu amorzinho essa noite e eu aqui, fritando salgado! — O cozinheiro exclama e coloca a mão na testa em sofrimento, fingindo um drama que todos ali conhecem bem.

Ramiro ri e Kelvin revira os olhos em um falso aborrecimento ao ouvir as reclamações do colega de trabalho, logo respondendo: — Não pense que eu não sei dos teus rolos pela cidade, Zezinho! — Dito isso, ele segura a mão de Ramiro e corre para fora da cozinha antes que Zezinho retruque jogando uma espátula na direção deles. Ambos riem juntos da situação enquanto andam de mãos dadas até um canto mais vazio do bar, perto da escada que leva aos quartos dos funcionários.

Quando as risadas se cessam, Kelvin pergunta: — vai ter folga amanhã, amor? — Ele leva as mãos à gola da camisa bege de Ramiro e a endireita, pois havia saído do lugar durante a pequena corrida com a mochila nas costas, depois alisa o tecido que cobre os ombros do homem, tirando o amassado que se formou ali.

Ao ver isso, Ramiro ri baixinho consigo mesmo, pois percebeu há um tempo que Kelvin, embora já tendo dito que não tem vocação para lavar e passar, é extremamente cuidadoso com suas coisas. Ramiro já havia explicado a Kelvin que não é necessário ele cuidar das suas roupas que ficam pelo pequeno quarto, que ele mesmo irá levar para casa e lavar, mas o rapaz sempre o ignora, dizendo que seu amorzinho merece.

— Pior que não, bem. — Ramiro responde enquanto coloca uma mão sobre o final das costas de Kelvin e o puxa mais para perto, pois há várias pessoas passando próximo deles e o encostando. — Mas também não vou precisar chegar lá tão cedo. — Ele logo acrescenta ao ver se formar a carinha triste de Kelvin após a resposta.

O sorriso de Kelvin retorna assim que ouve a segunda parte das palavras de Ramiro, feliz por saber que terão mais um tempinho juntos na manhã seguinte, mesmo que seja curto. Ele ainda não concorda com a forma que seu amado é tratado no que os La Selva chamam de emprego e tenta alertar-lo todos os dias; Ramiro sabe disso e até já percebe certas situações em que se sente injustiçado pelos patrões, mas ainda é difícil sair de um ciclo vicioso ao qual se acostumou tanto.

— Então vai dormir agarrado comigo até tarde, é? — Kelvin pergunta enquanto dá um sorriso provocativo e aproxima o rosto ao de Ramiro, mordendo levemente o lábio inferior quando sente a mão grande do homem se encaixando na curva da sua cintura como alerta.

Ramiro, por sua vez, também sorri ladino ao ser provocado por Kelvin. A essa altura do campeonato, os dois já haviam se acostumado a essa dinâmica de provocação, mas, para ambos, nunca perdia a graça poder falar as coisas mais absurdas para deixar o outro envergonhado. Embora ele nunca admita isso em voz alta para não perder a pose, Ramiro sabe que Kelvin é o expert nisso.

Então, deixando uma trilha de selos rápidos desde o canto da boca até o lóbulo da orelha de Kelvin, Ramiro murmura contra a pele sensível do local: — Com outra pessoa é que ocê não vai dormir, né, Seu Kelvin? — Ele dá ênfase à pergunta ao olhar para Kelvin com uma das sobrancelhas arqueadas, desafiando-o.

equalize | kelmiroWhere stories live. Discover now