Dois

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Olhei Poncho alguns segundos com a boca entreaberta. Não era possível que ele havia esperado todo esse tempo para falar o que eu tanto queria ouvir. Ele, no entanto, esperava uma resposta, as mãos seguravam as minhas. Eu então me desvencilhei, alisei o rosto com um pouco de confusão, e só então voltei a falar.

- Isso está errado Poncho. Isso está muito errado - suspirei - Escuta, eu sou casada!

Ele soltou o ar, lentamente.

- Eu sei - suspirou, passando a mão pelos cabelos - Desculpe por isso, não devia estar falando essas coisas, mas eu queria ter ido atrás de você antes, te dizer tudo isso antes.

- Devia ter dito, oportunidades não faltaram - disse, com mágoa.

- Não era tão fácil Annie, e você estava reconstruindo sua vida depois de todas as merdas que eu disse. Não era justo fazer!

Eu ri, seca.

- E você acha que agora é justo? Agora que estou esperando mais um bebê? Só porque você terminou o seu relacionamento acha que é justo tocar nessa droga de assunto que só me magoa? - quase gritei, já farta daquilo.

- Eu só estou sendo sincero - ele lamentou.

- Eu não quero sua sinceridade Poncho. Eu não quero nada vindo de você. Não agora, não dessa forma. Você teve infinitas chances de corrigir tudo e não fez. Agora é tarde demais.

Poncho olhou pras mãos outra vez, e saiu do carro. Bateu a porta da frente, completamente irritado. Eu me deixei chorar encima do volante do carro. Como queria dizer a Poncho que tudo aquilo era recíproco, me jogar sobre os braços dele e viver a vida que eu desejava a mais de dez anos. Seríamos eu, ele e nossos filhos. Teríamos uma linda casa como aquela que um dia ele teve com Diana, mas claro que meu ego me obrigaria a comprar uma ainda maior e mais bonita. Era a parte megalomaníaca da fama dando as caras vez ou outra.

Prendi os cabelos em um coque frouxo e dirigi até o hotel. Tomei um banho quente, sentindo o corpo relaxar. O dia por si só havia tido emoções demais. Deitei na cama e fiz uma chamada de vídeo com minha mãe. Manuel estava em um evento no interior do estado, na semana seguinte o indicariam como candidato à senador pelo PVEM. Morávamos em Chiapas agora, o que eu gostava de brincar por ser praticamente longe da civilização. Com o anúncio da candidatura teríamos que nos mudar pra capital, ele inclusive já havia visto algumas casas.

Manu disse que estava com saudades de mim, e eu prometi que assim que chegasse iríamos ao parque que ele tanto adorava fazer um piquenique e jogar futebol. Ele estava enorme, e deixava meu coração de mãe pequenininho quando tinha que deixá-lo com minha mãe por algum compromisso. Mas sem duvidas ele estava em ótimas mãos pois minha mãe cuidava dele melhor do que eu mesma se duvidar.

Tentei relaxar, vendo algo na televisão, meu celular tocou, era Maite. Pensei em recusar mas eu a conhecia bem demais para saber que ela não desistiria tão fácil.

- Oi Mai - atendi, mais calma.

- Aonde você está? - pediu, uma música alta ao fundo.

- Estou no hotel, no Plaza, bem no centro da cidade. E você? Que música é essa? - perguntei, curiosa.

- Eu e Chrit vamos em uma balada. Te chamaria pra ir com a gente se a situação fosse outra, mas a julgar pela cara do Poncho, a conversa de vocês foi um verdadeiro desastre - lamentou.

- Não quero falar sobre isso agora, o dia já foi cheio o suficiente - alertei.

- Tudo bem - entendeu - Fica bem ok? Vamos combinar um café amanhã, pra você me contar o que aconteceu.

¿Qué habrá detrás de ti?Место, где живут истории. Откройте их для себя