Sophie

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Ao que a agulha da vitrola passava por cima das inúmeras ranhuras do disco de vinil, Fifty-fifty clown, ressoava de dentro do amplificador do antigo toca discos que Sophie havia ganhado de presente de sua mãe, Paullete. Eram exatamente 05:40 da manhã, sentada no solo do quarto com as pernas o mais afastadas possível e a barriga encostada no chão gelado de linóleo, Sophie terminava de alongar as pernas.

— Vamos tomar café da manhã, meu amor! — diz uma voz à porta. Sophie ergue a cabeça e volta sua atenção a sua mãe, que acabara de adentrar o quarto. — O que teremos de café hoje, mamãe? — perguntou Sophie, com um leve sorriso estampado nos lábios.
—Irene fez tomates grelhados, linguiças e cogumelos salteados. Junte-se a nós antes do seu pai e eu irmos para a viagem— Paullete diz enquanto se retira do cômodo.

Sophie levanta-se do chão e caminha até o armário, seus passos leves ecoando pelo quarto. Com um gesto delicado, ela abre a porta e retira seu uniforme escolar cuidadosamente dobrado. Enquanto veste a saia e a blusa com elegância, seus cabelos castanhos cacheados caem suavemente sobre os ombros. Com dedos ágeis, ela começa a trançar os fios, criando uma intricada obra de arte capilar que realçava sua beleza natural. Cada movimento era um ballet silencioso, refletindo a harmonia entre a rotina diária e a graça inata de Sophie.

Com passos suaves e seguros, Sophie desceu as escadas imponentes do casarão, seus olhos curiosos pousando nos quadros meticulosamente dispostos ao longo da parede de um tom sereno de bege. As obras de arte, cada uma contando uma história única, pareciam sussurrar segredos de épocas passadas. Ao alcançar a aconchegante cozinha, o cheiro acolhedor de café fresco preencheu o ar. Com um sorriso caloroso, ela se aproximou do seu pai e depositou um terno selar na bochecha dele. — Bom dia minha princesa! Dormiu bem essa noite? — perguntou Christopher, pai de Sophie. — Finalmente consegui ter uma boa noite de sono, papai — diz Sophie enquanto senta-se à mesa ao lado de sua mãe. A mesma estende o braço e pega uma das torradas que estavam empilhadas sobre um prato de porcelana.

Irene, com sua gentileza característica, preparou uma xícara de chá fumegante e ofereceu a Sophie, — Gostaria de um pouco de chá, Soso? — perguntou Irene, com um terno sorriso nos lábios. Esse era um gesto que refletia os laços que haviam se entrelaçado ao longo dos anos. Ela havia sido uma constante presença na casa da família Brown por um impressionante período de 13 anos, desempenhando não apenas suas funções, mas também um papel essencial no cuidado e na criação de Sophie, desde os primeiros passos vacilantes até os sonhos noturnos acalmados.

—Muito obrigada, Irene!— Sophie tomou a xícara em suas mãos, lentamente levando a porcelana italiana aos lábios. Todos os gestos da garota eram meticulosamente calculados com a intenção de levar o mais tempo possível. Ela sabia que logo os pais sairiam e nenhum dos dois perderia tempo somente para esperar ela terminar de comer.

—Soph, já estamos indo. Passaremos três dias na Escócia! Thomas vai estar encarregado de lhe levar à escola.— disse Christopher ao que se retirava da cozinha acompanhado da mãe de Sophie. —Te amo, querida. Tenha juízo.— gritou Paullete do exterior da casa.

Ao ouvir o ronco do motor do carro se distanciando, Sophie levantou-se da cadeira com uma empolgação palpável e correu com determinação para a garagem, despedindo-se rapidamente de Irene. Encostado junto à imponente Mercedes-Benz preta estava Thomas, aguardando com um sorriso acolhedor, pronto para conduzir Sophie até a "escola". A luz do dia realçava o brilho metálico do veículo, enquanto a ansiedade e a expectativa se misturavam no ar, criando uma atmosfera de entusiasmo entre Thomas e Sophie, já  que somente os dois sabiam o que estava por vir.

—As vezes eu penso que seria melhor se eu nunca tivesse te levado lá— disse Thomas enquanto abria a porta do passageiro para Sophie.
—Nem você acredita no que está falando! Agora deixa de enrolação e vamos logo. Você não tem ideia de quanto tempo eu estava esperando por isso— proferiu Sophie com um tremendo entusiasmo na voz.

Nas ocasiões em que os pais de Sophie embarcavam em suas viagens de negócios, era Thomas quem assumia o papel de acompanhante, levando-a cuidadosamente ao seu refúgio predileto, Candem Town. O local exalava uma aura mágica, um ponto de encontro para almas genuinamente únicas. Sophie ansiava por chegar cedo, ansiosa por testemunhar o momento em que o jovem alto de cabelos negros e compridos deslizava a chave na fechadura da antiquada loja de discos. Ele se destacava imensamente da garota, com sua estatura imponente, tez pálida e visível paixão pelo metal, traçando um contraste intrigante com a personalidade dela.

—Sophie, não vamos levar muito tempo, okay? Ainda tenho de levar você a escola, não se esqueça disso!— disse Thomas enquanto estacionava o carro na vaga em que normalmente ficava enquanto esperava pela jovem garota.
—Fica tranquilo, Tom. Você sabe que eu só demoro quando a gente vem no período da tarde! Agora eu só vou dar uma olhadinha.— proferiu Sophie enquanto se retirava do automóvel.

Sophie caminhava decididamente em direção à famosa Out on the Floor Records, seus passos carregados de curiosidade e uma leve ansiedade. Com cada movimento calculado, ela desfazia a trança que adornava seus cabelos, desejando apresentar uma imagem mais ousada e despojada. Enquanto suas mechas caíam graciosamente em torno dos ombros.

A garota buscava de qualquer jeito se desfazer da imagem de menina certinha que emanava, ela não queria de jeito nenhum que ele a achasse careta ou nariz empinado. Seu uniforme escolar de prestígio já a fazia se destacar o suficiente, e ela estava determinada a deixar uma impressão duradoura. Ao se aproximar do estabelecimento, o mundo ao seu redor parecia desvanecer-se, deixando espaço apenas para o jovem que abria as portas da loja.

Ele estava lá, seu cabelo negro e longo sombreando parte de seu rosto, uma aura de mistério e rebeldia emanando dele. Vestia-se com a casualidade de alguém que não se importava com convenções, usando uma calça jeans rasgada nos joelhos e uma camiseta preta da banda Quiet Riot, que contrastava fortemente com a jaqueta de couro desgastada, um ícone constante em sua aparência.

O garoto adentrou a loja com uma confiança juvenil, seus olhos percorrendo os corredores repletos de artefatos musicais. Sophie, observando discretamente, seguiu logo em seguida, sua postura casual camuflando sua verdadeira intenção. Entre as inúmeras prateleiras, ela fingiu procurar um disco, seus movimentos calculados para atrair o mínimo de atenção possível. No entanto, ela sabia que ele não olharia pra ela, ele nunca olhava.

Finalmente, a garota escolheu um disco da banda Cocteau Twins e dirigiu-se ao caixa onde o garoto estava. Mesmo quando ela se aproximou, ele não se deu o trabalho de erguer a cabeça para olhar em seus olhos. Com a voz calma e grave de sempre, o garoto informou o preço —Vai ficar £ 14,50– proferiu enquanto colocava o precioso disco de vinil em uma sacola de plástico. A interação breve, mas significativa, permaneceu envolta em um silêncio carregado de emoções não expressas por Sophie.

Ao que pagou pelo álbum a jovem saiu da loja em um ímpeto, correndo em direção à imponente Mercedes estacionada nas proximidades. Com destreza, Sophie se lançou dentro do veículo, fechando a porta com agilidade, ansiosa para dar sequência à sua jornada.

—Vamos, Tom! Mais tarde voltamos.— disse a garota ainda com a respiração descompassada da corrida que tinha acabado de dar.
—Você sempre fala que não vai demorar mas no final só falta morar lá dentro— proferiu Thomas com o seu típico tom sarcástico.
—Não enche a paciência. Você já quer tirar o meu bom humor? Eu voltei tão leve pro carro— disse com um sorriso gigantesco estampado no rosto.

Thomas simplesmente ignorou o comentário da garota e seguiu viagem em direção ao próximo destino de sophie naquela manhã.

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⏰ Last updated: Aug 12, 2023 ⏰

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