8- eu suporto a verdade

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Eu estava na casa da Lilian ou sei lá como é o seu verdadeiro nome. Nós estávamos no sofá e ela me olhava totalmente arrependida de algo.

— Eu tô esperando você me contar.— Eu disse a ela. Ela parecia nervosa e apreensiva.

— Cara, isso é difícil de contar, sabe? — Meu Deus.

 Eu não aguente mais e joguei as cartas na mesa.

— Eu posso te ajudar, Lilian.— Ela se assustou— Eu vou volta pra cidade com a criança, com certeza, Melanie, vai voltar a morar com os seus pais. Eu queria te levar junto...— Ela olhou incrédula para mim. — ...Lá tem mais oportunidades de emprego, você pode trabalhar e estudar, eu te ajudo. Posso te oferecer a minha casa para você ficar por um tempo, depois você pode ir embora, se quiser...— Eu falei de todo o coração. Eu não gostava de ver ela se matando, ninguém merece isso.

— Luen... Acho que você vai mudar de ideia quando eu te contar...—

— Então, conte logo! Eu não vou mudar de ideia, eu já estou decidida. — Ela respirou fundo.

— Bom... Eu sou Californiana. Eu passei por vários perrengues na vida, mas o último foi o motivo de eu, literalmente, fingir minha própria morte.— Eu a encarei com uma expressão confusa.

— Igual aquele filmes e teorias da conspiração? — Essa mulher deve ter esquizofrenia, não é possível.

— Não, Luen, deixa eu continuar...—

— Ah, então, conta logo. Você tá enrolando demais.— 

— Você não me deixa contar. — Eu me calei. — Então, aonde eu estava? Ah, bom...Eu me apaixonei perdidamente por um homem abusivo. Eu cheguei a me casar com ele, logo, o mesmo começou a controlar o meu dinheiro e ele gastava muito, eu sabia que era o meu dinheiro porque ele não trabalhava.— 

— Isso se chama abuso financeiro. Você denunciou ele? — Ela se irritou.

— Você vai deixar eu contar ou não? —

— Ah, desculpa. Pode continuar. — Ela me olhou com raiva.

— Ele estava planejando me matar, pra ficar com o dinheiro. — Ela me olhou e parou de falar. Ela esperou que eu falasse, mas eu fiquei calada. — Eu realmente pensei que você ia falar alguma merda. —

— Conta logo quem você é! —

— Eu sou a cantora Billie Eilish!— Ela disse em um pulo. — Eu estou viva e estou com muito ódio por isso. — Eu não tive reação. Coloquei as mãos na frente da boca e fiquei seria. Ela se acalmou e me olhou preocupada. — Você não vai dizer nada? —

— Agora você, definitivamente, vai pagar metade do aluguel comigo. — Ela me olhou confusa.

— O que? Essa é a sua reação? Eu acabei de fazer a confissão da minha vida e você fala isso? — Eu me peguei em suas mãos.

— Eu não sei se vai ter uma clinica especializada, mas a gente vai conseguir controlar sua esquizofrenia, eu juro. — Ela coloca as mãos na testa.

— Eu não sei se você é doida, ou se faz... Eu sou a Billie, uma das suas cantoras favoritas. —

— Isso não é possível. Billie morreu baleada em seu próprio show. —

— É o que eu estou de dizendo. Meu marido queria me matar, mas eu paguei o dobro aos assassinos. —

— Isso é bem convincente. — Disse pensando.

Bom, ela tem a voz parecida, aparência lembra um pouco, ela tem uma história bem detalhada e parece que está contando a verdade. Se isso for mentira, ela é muito boa atriz, porque eu tô acreditando.

— Eu estou te contando a verdade...— Eu não sei o que pensar... Isso realmente é real?

— Okay... Você é realmente ela? Mas o que aconteceu com você? —

— Eu fugi de tudo! — Ela gritou com lágrimas em seus olhos. Eu sabia que ela estava contando a verdade, eu só não conseguia acreditar. — Eu... Eu fiz tudo pensando em mim, mas eu não pensei em mais ninguém. Eu perdi meus amigos, eu perdi minha casa, minha antiga vida, meus hábitos, minha família...— Ela estava muito nervosa e tremendo todo o seu corpo.

— Desculpa Lilian, quer dizer... Billie, a cantora morta, mas viva... Eu não consigo acreditar. — Ela enxugou as lágrimas, respirou fundo e riu.

— Eu sei, Luen... Eu sei.— Ela olhou para baixo. — Eu sei que deve ser muito estranho...—

— É que... Eu estava no show quando ela, você morreu. Eu vi você sangrar...— Eu tentei engolir o choro. — Você era muito especial na época... Eu não parava de pensar em você por um segundo. — Ela riu e olhou para mim.

— Você era doida por mim? — Eu ri também.

A cena de nós duas nos encarando, com o rosto choroso e rindo de nervosismo, era engraçado. A ficha finalmente caiu e eu me senti mau.

— Vem aqui, Billie: a que veio dos mortos. — Eu a abracei.

Imagine a sensação de estar abraçando o seu ídolo de adolescência e pensar que você estava falando mau dele até ainda agora. É, eu queria me matar.

— Eu aceito seu convite de morar com você. — Sorri.

— Mas o aluguel fica meio-a-meio. — Nós rimos juntas. — Mas é sério, heim! — Disse em um tom sério, mas logo, voltei a ri.

Ela parou um pouco de rir e ficou séria novamente.

— Eu... Queria te contar uma última coisa. —

— Pode contar. — Disse parando de rir e me encostando do "braço" do sofá.

— Eu não sei como fizer isso, sabe? É muito difícil pra mim, mas eu vou tentar. — Ela respirou fundo. Era visível que ela estava nervosa: seu corpo tremia de ansiedade, ela suava frio. — Eu notei que meu corpo ficou diferente do começo do ano passado para cá. Eu emagreci demais, meu sistema imunológico ficou fraco, eu fico com vontade de vomitar toda hora...— Eu juntei os pontos rapidamente.

— Você está grávida? — Eu perguntei assustada. Ela deu uma risada fraca.

— Quem me dera.— Ela respirou fundo, vou nos meus olhos e contou. — Eu fiz um exame e deu positivo pra HIV. — Eu fiquei sem palavras. Eu não sabia o que pensar. Horas atrás eu poderia ter lidado com essa notícia de uma forma totalmente diferente, mas eu não quero mais ser "a chata". — Ainda está em um estado estável, por isso eu consigo fazer as coisas normalmente. — Eu senti meu coração apertar, ela ia morrer de novo?

— Na capital... Sei que tem várias clínicas que você pode ir. Acho que tomar um coquetel uma vez por mês não deve ser tão caro. Eu posso ir com você, se quiser...— Ela me olhou de cima a baixo.

— Você está sendo legal comigo só agora que eu te contei a verdade? — Eu ri e engoli o choro.

— O que? Claro que não! Eu... Eu te achava repugnante antes, mas eu passei a ter pena de você e a pena virou carinho. Sabe, eu mau posso imaginar o quanto de dinheiro você tem em sua conta. — Ela riu.

— Sua interesseira! — Ela disse me dando um pequeno e leve empurrão.

Nós rimos e eu dei um abraço nela.

— Eu sinto muito por tudo, mas eu posso afirmar que, agora, você vai ganhar outra família. — Ela não respondeu nada, mas eu sabia que ela estava chorando.

Pode ser que eu não exclame isso diretamente a ela, mas eu quero que ela seja feliz e construa a sua própria família.

The greatest -2Where stories live. Discover now