CAPITULO 1 - AS FÉRIAS

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TEMPO PASSADO

Como de costume, todos os anos no mês de Julho os alunos do colégio educacional Chistus se reuniam em viagem de férias para alguma região praiana, onde durante o período de trinta dias permaneciam alojados em um local seguro que poderia ser um hotel ou mesmo numa casa de praia, sempre a beira mar, na companhia de uma pessoa adulta, responsável e de preferência cristão.

O propósito destas viagens, comumente chamadas de Retiros Espirituais, era no objetivo de criar maior afinidade entre a parentela, visto que todos ali eram filhos das famílias provenientes da segunda geração dos Carvalhos. Porém ,neste ano em particular, diferente dos demais retiros dos quais participaram, um grupo de meninos e meninas já estavam ultrapassando da adolescência para a fase adulta e isso com certeza faria com que o ano de 2021 fosse em tudo diferente dos anteriores, visto que eles eram geralmente privados de manterem contato com moças e rapazes da mesma idade que pertencesse a outras famílias que não as suas e era chegada a hora de ultrapassar estes limites impostos pelos pais na busca por viver suas primeiras experiências no campo da paixão, do desejo e até do sexo.

Manter aqueles garotos e garotas, que se encontravam numa fase tão delicada como aquela, onde as fantasias sexuais lhes afloravam a mente e sentiam a necessidade de um relacionamento mais profundo com o sexo oposto, mesmo que durante uma paquera ou namoro, mas se viam reprimidos quanto a isso pelos pais que não lhes permitiam mesmo misturarem-se com outros do mundo exterior àquele do qual pertenciam, não era uma tarefa fácil. Assim, não se sabe ao certo se pelo acaso ou destino, porém, naquele novo cenário em suas vidas, eles passariam a perceberem-se com outros olhos daquele momento em diante.

"Atenção, aqueles que já estiveram conosco em viagens semelhantes a esta já estão por dentro de como funcionam as coisas, contudo, os que estão na condição de marinheiros de primeira viagem façam o favor de seguirem as pegadas dos mais experientes. Nós não nos reunimos nestes retiros espirituais apenas para nos divertir, mas também para orar, louvar ao nosso Criador e fazer diariamente a leitura das Escrituras, pois somos cristãos e este é nosso costume e tradição. Depois disso, aí sim, estarão liberados para andarem pela praia, tomarem banho e curtirem o verão, sempre com muito cuidado e responsabilidade.

E não esqueçam, os mais velhos devem cuidar dos mais moços, orientando e ensinando como se portar corretamente. Ao se afastarem da pousada por favor retornem antes do anoitecer e não se distanciem demais. Tomem bastante cuidado e evitem acidentes desnecessários. Não percam o café da manhã às sete. O almoço e o jantar ocorrem sempre ao meio dia e as dezoito horas, merenda sempre as quinze horas Combinado? Ok, então divirtam-se!"

Depois de ouvirem as instruções da pelo guia da pequena expedição, todos saíram para conhecer a expansão marítima e a belíssima praia do Atalaia, localizado na cidade paraense de Salinas, a pelo menos quatro horas distante da capital Belém. Ali, durante trinta dias eles estariam completamente livres das correntes sufocantes nas quais seus pais os prendiam. Assim, alguns deles ousaram abrir um pouco mais suas visões para perceber coisas antes desapercebidas. Os meninos se maravilharam com os belos corpos das meninas e vice-versa. E, devido toda essa admiração repentina, muitos dos corações mais amadurecidos passaram a palpitar.

"Caracas, meu, mas que gata!"

"Esta falando de quem, seu folgado?"

"Cara, me desculpa, mas tua irmã está ficando um pedaço de mulher!"

"Saí pra lá, Diogo, eu hem?"

"Que foi, primo, só fiz um elogio"

"Te manca, safado, ela é tua prima, esqueceu?!"

"Sei disso, mas e daí? Por acaso há algum mal em achar ela gostosa!"

"Aí, camarada, acho melhor pegar leve nesse teu papo, entendeu? Mais respeito com a menina. Que diabos de tanta liberdade é essa, por acaso ela já te deu alguma bola para estar agindo assim?"

"Calma, Antônio, fica de boa. Sabes que a Allegra não é do tipo de mulher que vive dando espaço pra qualquer um"

"É bom mesmo que pense assim e ver se pare de ficar se assanhando pro lado dela, valeu? Respeito é bom e conserva os dentes, ouviu meu irmão?"

"Porra, cara, vai querer esquentar só por causa de um comentário bobo que fiz sobre a gata? Qual é a tua, seu otário, por acaso quer ela pra ti?"

"Ei, seu trouxa, vê se te manca comigo, valeu?"

Os dois adolescentes se encontravam assentados na areia, à beira da praia, quando por uma expressão inocente de um deles deu-se início àquela confusão e sem que ninguém pudesse prever os meninos passaram a trocar violentos socos, causando espanto no restante do grupo. Devido o lugar estar repleto de banhistas, vindos de várias partes, logo se formou uma grande multidão no local onde os dois desafetos mediam forças.

Allegra, irmã de Antônio, bem como Paulo e Estela, igualmente irmãos de Diogo, cuidaram em tentar separa-los da repentina agressão na qual os dois garotos estavam envolvidos. No final, ambos saíram da briga com hematomas por todo o corpo e os olhos roxeados. Allegra, como mais velha, decidiu repreender o irmão publicamente e ainda saiu dando-lhe uns empurrões, completamente chateada por saber que era o pivô de tamanha violência.

"Me admiro de vocês dois decidirem estragar nosso passeio por causa de bobagens!"

"Como bobagens, mana, não vê que esse otário aí ficou te secando como se fosse carne de sol, querendo te comer com os olhos!"

"E daí, seu pirralho, ele arrancou algum pedaço do meu corpo por ficar me olhando?"

"Ei, não vou aceitar essa falta de respeito com irmã minha, ouviu? Se abusar meto-lhe a porrada mesmo!"

"Moleque abusado! E você, hem seu Diogo, bonito essa sua, né?"

"Nada demais, prima, eu só te elogiei e esse babaca se mordeu!"

"Elogio um cacete, que papo é esse de ficar chamando minha irmã de gostosa, seu merda?"

Vínculos de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora