VINTE E UM: Salvação

Começar do início
                                    

— Por quê? — Yael franziu o cenho.

— Sempre achei você e Winston meio frios. — Jacque contemplou. — Tipo, missão dada é missão cumprida, não se importando com a verdade ou os desdobramentos.

— Eu tenho um interesse especial no prisioneiro. — Yael fechou os olhos e respirou fundo. — É pessoal.

— Zach?

Yael não respondeu, cabisbaixa. Jacque entendia bem os demônios da agente. Pensar em Aziz lá fora, sofrendo na mão de terroristas ou entidades piores, a deixava com um embrulho no estômago.

Jacque passou a mão pelas leggings de couro e fitou o relógio acima da porta.

— Não vai dar uma de Jack Bauer, não é? — Jacque a olhou de soslaio.

— Se eu fosse, não aceitaria vir com você. — A resposta de Yael foi seca. — Digamos que se for fazer a rotina do bom e mau policial, já sabemos quem será quem.

Cinco minutos. Foi o tempo que demorou para Ruslan surgir na pequena sala, onde uma câmera fora previamente posta em cima da mesa de metal. Algemado à cadeira, o homem passou a mão em seus lábios.

Umedeceu a boca e sorriu para as duas mulheres ao perceber que elas o encaravam. O guarda prontamente se retirou.

— Vou gravar nossa conversa. — Era de praxe. Com Youssouf, sentiu um pouco de pena, Ruslan não teria nada disso dela.

— Tem certeza? — Levantou um pouco os punhos, arrastando as correntes. A envergadura e tamanho dele mal cabiam na cadeira. — Pela cara da princesa número 2, acho que ela quer fazer outras coisas comigo.

— Vá a merda, Ruslan! — Em um movimento gracioso, Yael voou para a mesa. O impacto do soco dela ecoou em toda a sala. — Me diga onde está, Zach!

— Quem? — Ruslan coçou o queixo, mal sentindo o golpe. — Não conheço ninguém com esse nome. — Debochou.

— Ora, seu...!

Yael retesou o braço, mirando o potente soco para a ponta do nariz do espião russo. Jacque agiu rapidamente e entrelaçou seu braço no dela. Possessa, a agente israelense lhe acertou uma cotovelada no rim antes de se acalmar.

Mais pela tosse de Jacque do que pela própria reação.

— Se acalme... — Jacqueline pigarreou algumas vezes, massageando o local do golpe. Nem mesmo seus parceiros lhe poupavam. — Não está vendo que é isso o que ele quer?

Yael encarou o deleite estampado na face de Ruslan.

— Desculpe, Jacque. — Suspirou fundo e esfregou os olhos. — Não sou assim.

— Eu te entendo. — Sorriu, tentando, e falhando, em ocultar a dor. — Ainda assim, se continuar, eu vou ter que pedir para você se retirar. E vamos ter que apagar a fita também, não podemos dar a ele uma vantagem para ele escapar.

Yael anuiu.

Awn, Jacque. — Ruslan se debruçou sobre a mesa, o barulho agudo das correntes ecoando pelo comado apertado. — Estava tão bom ver duas mulheres gostosas se pegando. Uma loira e uma morena, o sonho de todo homem.

As sobrancelhas tremeram com o comentário, mas ela era melhor do que isso.

— Jacqueline Andrade, investigadora da força-tarefa para a captura de Papai Noel, vulgo Ruslan Gusev — ela disse mais para a câmera do que em prol do preso —, natural de Irkoutsk, Rússia. 38 anos.

Ele grunhiu, ela continuou.

— Ruslan. — Ela não tinha a mínima vontade de criar uma conexão com ele. — Você está na merda, seu próprio governo não lhe quer mais e os Estados Unidos está doidinho para pôr as mãos em você. — Jacque o perscrutou minuciosamente. — Então, porque não cortamos o papo furado, e nos diz o que quer em troca da localização de Zachary Mitchell.

O Grande JogoOnde histórias criam vida. Descubra agora