Capítulo 3 / Hospital

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Anderson

- Anderson vá com eles e qualquer coisa nos avise, garoto.

- Certo Bia, qualquer coisa eu te ligo.

Porra, como eu queria poder gritar, espernear, e arrancar os meus cabelos, mas a única coisa que faço é chorar com a minha cabeça entre o ombro e o pescoço do moço chamado Benício, a única fratura que já tive em toda minha carreira foi ter quebrado o quinto metatarso, uma coisa tão pequena me deu um trabalhão, mas nada fora do normal no mundo do balé, só que dessa vez eu sei e eu sinto que alguma merda maior aconteceu, meu tornozelo dói como uma cadela.

- Anderson respira ou você vai acabar passando mal, sei que está doendo, mas vou fazer de tudo para chegarmos ao hospital o mais rápido possível - A voz rouca e baixinha perto do meu ouvido me arrepia inteiro, e se eu não estivesse em uma situação tão merda quanto essa, estaria aproveitando muito do corpo maravilhoso que ele deve ter abaixo desse couro todo.

Passo minha mão em meu rosto tentando limpar as lágrimas, olho bem em seus olhos para conversar, se tem algo que a vovó me ensinou é que quem não deve não teme, e que não tem nada que mostre mais verdades nas nossas palavras do que falar olhando no olho da outra pessoa.

Quando abro a boca para falar, a única coisa que sai é um bufo;

- Eu estou calmo!

Ele dá uma leve risada, onde vejo seu sorriso tomando forma bem de pertinho, posso constatar que ele é um homem muito bonito. Dentes perfeitamente alinhados, lábios medianos e rosadinhos, cabelo e barba em tons de preto. Simplesmente lindo, e se seu sorriso for uma ideia da sua personalidade, posso dizer que ele é totalmente extrovertido.

Sem contar a maldita pintinha preta só lado do lábio superior.

- Estou vendo mesmo, esse bico aí em seus lábios não engana ninguém.

Cruzo meus braços, sei que estou sendo um pé no saco, mas porra meu dói pra cacete, então eu tenho o direito de ser um pentelho.

- Tenho direito de ficar chateado - não queria parecer um garoto mimado, já tenho vinte e oito anos nas costas, mas imprevistos assim me chateiam mais do que posso contar. - Um fratura como a que provavelmente aconteceu, vai me deixar de molho por meses, o que significa que eu não poderei viajar com a companhia para a turnê que vamos fazer pela Europa, e eu ensaiei tanto para isso.

Mesmo com dor posso sentir o quão verdadeiras são as palavras de Benício, e ele tendo a voz e a postura tão doce não poderia sentir outra coisa além de amparo com o que ele fala:

- Calma, não sofra por antecipação, já estamos a caminho do hospital, e chegando lá você pode tirar suas dúvidas com o médico, ficar de bico e encucado com isso, só vai fazer com que você se estresse mais. Sem contar no bailarino incrível, que eu tive o prazer de ver, que você é.

Acho graça da sua fala e sem que eu perceba um sorriso se forma em meu rosto quando volto a apoiar minha cabeça na curva do seu pescoço e do ombro.

- Você me viu dançar?

- Se eu vi? Meus olhos ficaram grudados em você a peça toda, ninguém me preparou para alguém tão entregue a dança assim como você - sinto minhas bochechas corarem, e não é como se eu nunca tivesse recebido um elogio, a única coisa é que Benício além de lindo, é estranhamente reconfortante.

Me traz uma sensação de quentinho no coração, uma sensação de estar no lugar certo na hora certa como a muito não sentia, e totalmente apavorado com isso, tento mudar de assunto e falo a primeira coisa que vem à minha mente.

- Devo está pesado Benício, se você quiser pode me pôr no chão que eu consigo ir pulando.

Seu semblante fecha instantaneamente e ele continua a andar sem tentar me olhar novamente.

Um Bailarino para Chamar de Meu DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now