— só conversamos sobre café uma vez — ele lembrou.

— tenho uma boa memória — ela levantou assim que terminou o suco, colocando as coisas de volta na bandeja e passando o guardanapo de papel na boca.

— podemos conversar depois?

— não.

Ele franziu o cenho e a seguiu até o balcão, a vendo jogar os papéis no lixo.

— por que não?

— Jason, não estamos na escola. Temos vidas diferentes e eu não tenho tempo pra isso.

Ele continuava confuso, a irritando um pouquinho.

— você faz aquilo — deu ênfase e ele pareceu entender. — desculpa, mas não é um risco que tô disposta a correr.

— eu não tinha pensado nisso.

Ela apenas sorriu, enquanto os ombros dele abaixavam e sua expressão desanimava.

— tudo bem. A gente... Se vê por aí.

Ela concordou e ele deixou dez dólares no balcão, então se afastou, deixando a cafeteria. Ela suspirou e voltou ao trabalho, sem tempo pra pensar no assunto. Ainda assim, Jason estava em seus pensamentos mesmo sem perceber.

O resto do dia passou se arrastando, e quando finalmente chegou as 21, o expediente dela acabou. Layla colocou os fones de ouvido, o capuz e a máscara como em todas as outras noites. Foi a melhor maneira que encontrou de não se aproximarem. Parecer suspeita era proposital, a parte não proposital era o seguidor chamado Jason Todd, sob a máscara de Robin.

Mas naquela noite ele não apareceu pra segui-la. Layla sentiu o vazio e a ansiedade causada pela ausência de seu perseguidor. Não esperava que ele parasse tão rápido, afinal, Jason era a pessoa mais teimosa que conhecia. Ela apressou o passo e chegou ao prédio em alguns minutos. Entrou no apartamento e trancou a porta, deixando a mochila no sofá e indo pra cozinha preparar seu jantar.

Um arrepio subiu por seu corpo ao ouvir o barulho da porta de entrada sendo forçada e batida. Estavam tentando abrir. Layla correu pro quarto e escondeu tudo comprometedor que poderiam querer, documentos, fotos, dinheiro, qualquer coisa.

Voltou pra cozinha e pegou uma das facas. Quando a porta enfim caiu no chão com um baque alto, ela colou as costas na parede ao lado da entrada da cozinha, segurando a faca firmemente em sua mão. Ouviu os passos pesados e descuidados se aproximarem, e fechou os olhos respirando fundo. Não queria perder o controle, só queria escapar.

Ela abriu os olhos, contou até cinco e saiu da cozinha, chutando a arma do homem. A luta corpo a corpo era injusta devido a diferença de porte, mas o tipo de luta era parecido, foi aí que percebeu. Ele era da academia.

Com um chute no rosto, seguido de um no estômago, Layla rolou pelo chão, perdendo a faca. Quando o homem se colocou em cima dela, e tentou a sufocar, ela usou isso como vantagem. Passando as pernas pelos braços dele e o estrangulando. As mãos dele caíram pras suas pernas, tentando soltar, mas Layla apenas apertou mais. Foi então que ele se levantou, a segurando e batendo contra a parede. O impacto das costas com a parede a fazendo relaxar o aperto das pernas, sendo jogada no chão outra vez.

Layla se levantou tonta, se apoiando na parede. Quando o homem veio em sua direção de novo, ela pegou a faca caída no chão, a usando pra cortar a mão e o braço dele. Mas logo acabou, quando ele chutou sua mão fazendo a faca cair, a empurrando pra parede.

Com um grunhido de dor e frustração, a garota levantou, de novo. Outra vez corpo a corpo, e então um soco que fez sua cabeça girar. Ele a segurou pelo pescoço e a colocou contra a parede, foi a deixa pra Layla usar o vaso de flores e o quebrar em sua cabeça, o levando ao chão. Sem tempo, ela correu pra fora do apartamento, seguindo até a escadaria, acabando por trombar em um corpo forte que a segurou pra não cair.

— Layla, o que houve? — a voz de Jason a tranquilizou por um momento, ele tocou seu rosto e passou o dedo pelo corte em seu lábio. Observando agoniado o olhar ansioso dela.

— invadiram meu apartamento — ela disse.

— o que? Quem?

Ela negou com a cabeça, ofegante e sem tempo pra explicar, até porque nem ela sabia.

— eu não sei. Mas...

— tá, se acalma. Vou cuidar disso — falou ao perceber sua agitação, passando as mãos por seus ombros, tentando acalma-la.

— sozinho? Isso é uma péssima idéia.

Ele não ouviu, a levando pro elevador e apertando o botão do térreo.

— não vai conseguir — ela disse.

— não me subestime, gata.

As portas fecharam e o elevador desceu, Jason fazendo o caminho pro apartamento dela e arrumando a máscara em seu rosto.

Layla saiu do elevador e logo do prédio, as ruas escuras como sempre não ajudavam. Tudo piorou quando homens saíram de uma van, indo em sua direção. Ela até tentou correr, mas seu corpo todo doía. A alcançaram e a empurraram na direção das lixeiras, a fazendo cair sobre elas e derruba-las. Foi erguida pelos braços e uma mão se chocou forte contra seu rosto, a fazendo cair no chão e cuspir sangue.

— sabemos que anda falando com o Robin — Elliot disse com a voz rouca.

— eu não disse nada — ela apoiou as mãos no chão e se arrependeu em seguida de ter falado, pois a mão se chocou contra seu rosto de novo.

— é bom você ficar calada.

Ela se apoiou no chão de novo, erguendo a cabeça pra olha-lo.

— só está viva porque a chefe quer.

— e você só está vivo porque eu fiz uma promessa — ela disse entre dentes.

Dessa vez ele a chutou, a fazendo cair no chão e gemer. Sem forças pra levantar de novo, ela apenas ficou lá.

— e é bom cumpri-la.

— Layla?! — a voz alta chamou a atenção dos homens e eles começaram a se afastar, Jason arregalando os olhos ao ver a situação.

— fique longe dele — Elliot avisou e correu pra van.

Jason tentou para-la mas não deu, então voltou correndo pra garota e tocou seu rosto.

— ei... Layla — ele a colocou sobre o colo, analisando seus machucados.

O sangue escorria de seu nariz até o queixo, o olho roxo e a boca cortada. Isso fora os hematomas em seus braços. Doía fisicamente nele vê-la daquela maneira.

— consegue me ouvir?

Ela assentiu levemente, forçando os olhos a ficarem abertos.

— aguenta só um pouco — ele tirou o celular do bolso e discou o número da polícia.

Depois de avisar e passar o endereço, desligou o celular e voltou a olhar pra ela. Ele afastou os fios do cabelo da frente de seu rosto, limpando um pouco do sangue de seu nariz. Com o pouco de força que restava, Layla ergueu a mão pra tocar o machucado na bochecha dele, limpando o pouco sangue que tinha alí. Jason tocou a mão dela suavemente, a acariciando.

Seus machucados não eram nem arranhões comparados aos dela. Vê-la daquele jeito foi como levar um tiro. Ele não queria sentir aquilo de novo. Não queria, nunca mais, vê-la passar por aquilo de novo.

Seu coração remoendo em pura culpa.





[Revisado]

Capítulo bem tranquilo graças a Deus.

Até quarta.


RED, Jason Todd - NVWhere stories live. Discover now