𝐘𝟕: The Talk

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— Você é real mesmo? — perguntei, sussurrando. — Ou é um fruto da minha imaginação?

— Sou real, tão real quanto você é agora. Remus me contou sobre as coisas pelas quais passou nos anos anteriores, e eu sinto muito que tenha sentido a minha falta. Nunca planejei te deixar daquele jeito.

— E por que deixou? — questionei, sentindo meus olhos marejarem. Isso já tinha acontecido tanto nos últimos dias que eu sinceramente estava começando a pensar que eu ia morrer chorando também. — Por que resolveu aparecer só agora?

— Não tive escolha. Depois daquele dia, quando atravessei o véu, tudo ficou escuro, confuso. Estive preso numa espécie de limbo, sozinho, por quase dois anos. Perdi a noção do tempo e do espaço, se estava vivo ou morto — explicou. — Mas então, ouvi uma voz, e uma espécie de portal feito de pura magia se abriu. Quando andei em sua direção, caí num lago escuro, no meio de uma floresta. Estava congelado, exceto por um buraco no meio dele, como se alguém tivesse quebrado o gelo para dar um mergulho. Como não tinha ninguém lá, aparatei algumas vezes antes de conseguir me comunicar com Moony. A segurança da casa de Lene foi muito reforçada, então demorou um pouco.

Chocada, pensei que ele pudesse estar se referindo ao mesmo lugar em que meus amigos e eu estivemos, momentos antes de nossa captura. O que significava que não nos encontramos por uma questão de poucas horas, ou talvez um ou dois dias.

— Estivemos lá. Floresta do Deão, certo? O buraco no gelo foi feito por Harry, que pulou na água no meio da madrugada.

Papai ergueu as sobrancelhas.

— O que você estava fazendo no meio do mato de madrugada, Potter?

Harry deu de ombros, ainda meio tenso devido aos momentos anteriores. Eu mesma estava.

— É uma longa história.

— Mas você disse que ouviu uma voz, como uma luz no fim do túnel. A quem pertencia?

— Não sei, não parecia ser uma voz masculina, nem feminina. Era apenas... Etérea, entende?

— E o que dizia?

— Dizia: A Morte se aproxima, Mckinnon Black.

Meu estômago se contorceu violentamente, até secar. Dessa vez não consegui esconder meu terror, o tremor de minhas mãos. Meu pai percebeu, e segurou-as antes que eu pudesse me afastar, temendo que seu toque não passasse de um sopro de vento, ou de uma oscilação da brisa marítima. Mas suas mãos firmes envolveram as minhas, e meu Deus, ele era real. Aquilo tudo estava acontecendo mesmo.

— O que foi, filha?

Engoli em seco, mas balancei a cabeça e forcei um sorriso.

— Nada — menti. Eu não queria estragar o clima. — Estou feliz que está aqui, só isso.

Papai sorriu, e me puxou para um abraço. O cheiro dele era exatamente como eu lembrava, e a sensação de estar em sua companhia era igualmente calorosa. Quando nos separamos, quase uma eternidade depois, ele e Remus carregaram algumas coisas para dentro — materiais para fazermos churrasco — , e Gui fechou a porta.

Todos ficaram muito chocados com a notícia de que Sirius estava vivo, mas a felicidade que se instalou foi contagiante. Papai abraçou Harry com entusiasmo, depois cumprimentou os outros e foi ajudar o marido com a carne. Quando retornou, me deu mais um abraço, o que me fez sorrir genuinamente. Eu nunca me cansaria daquilo, porque a saudade era tanta que consumia meu peito; só fui perceber que eu nunca havia superado a partida de meu pai quando o vi diante da porta, com o sorriso canino de sempre. Dizia para mim mesma que eu estava indo bem, que em breve esqueceria do sofrimento que sua morte me causara, e que no lugar dele haveria apenas nostalgia em relação às lembranças boas. Mas estivera cega.

𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potterWhere stories live. Discover now