4 - ÉDER - PARTE 2

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— Você está mentindo — acuso Sammy. — Só quer me ferir, está mentindo, Sammy.

— Quem dera eu estivesse. Ela está junto com meu pai, se quiser visitar o túmulo dela. Eu sinto muito.

Sady foi o mais próximo a uma mãe que tive. Mesmo depois de tudo, ela me confortou com um abraço e me desejou boa sorte. Ela era a própria personificação da alegria, sua risada alta, escandalosa até. Seu jeito incomum e acolhedor. Alguém como ela não teria um fim como esse. Não é justo.

— Oliver, leve a Sammy em casa, por favor — peço e ele concorda.

Brenda nem questiona desta vez. Percebo que ela está ao meu lado, segurando minha mão, algo que eu nem havia percebido. Sammy segue Oliver, mas olha para mim até desaparecer de vista. Se ela soubesse...

Nos últimos dias, desde que Sammy voltou para minha vida, tenho questionado a decisão que tomei, mesmo sabendo que não havia outra escolha. E me pego imaginando como seria se, depois que eu concluir minha vingança, um milagre a fizesse me perdoar. Não que eu acredite que isso possa acontecer, mas tê-la de novo por perto fez meu coração voltar a bater. E agora, mais do que nunca, entendo que não há futuro entre nós. Nunca houve. Preciso me afastar dela, definitivamente, preciso cortar essa coisa que começa a crescer dentro de mim, que parece trazer a vida de volta quando ela está perto, porque não mereço isso.


Na manhã seguinte, dirijo-me ao bosque onde o pai de Sammy e Sury foi sepultado tantos anos atrás. Ele não teve a chance de conhecer Sury, e as lembranças de Sammy sobre ele são escassas. Sinto um misto de ansiedade e esperança de que tudo seja apenas uma mentira cruel e vingativa por parte de Sammy. Desejo ardentemente chegar lá e encontrar apenas a lápide de Yan Ferraz Lima. No entanto, ao chegar ao local, vejo a lápide ao lado: Sady Ferraz. Sammy não mentiu. A realidade se impõe diante de mim, trazendo consigo uma onda de emoções avassaladoras.

— Você prometeu, Sady, disse que tudo ficaria bem. Então por que fez isso?

Nem sei quanto tempo passo aqui questionando alguém que não me dará qualquer resposta, sentindo uma dor que não será consolada. As dores que tenho sentido não têm consolo. Nenhuma delas.

— Você prometeu! — cobro assim mesmo.

Uma mão toca meu ombro com cuidado e a voz de Sammy diz:

— O que ela te prometeu?

Não consigo olhar para ela, em vez disso sinto-me travado aqui, por seu toque. Eu deveria dizer toda verdade. Enfrentar de uma vez seu ódio, afinal, eu o mereço. O lugar onde estamos agora é a maior prova disso. Mas escolho ser egoísta.

— Que cuidaria de você — respondo. — Ela prometeu, Sammy.

— Ela cuidou o quanto pôde.

— Não, você não entende... — Não foi o que combinamos. Ela não cuidou como combinamos.

— Não a culpe. Talvez ela não tivesse consciência que estava tão perto do seu limite — ela diz e se afasta, tirando a mão do meu ombro, o calor dos seus dedos me deixando e entendo o que disse.

Acho que posso entender isso.

— Você quer falar com ela, não é? Eu estou indo — digo me levantando e finalmente a observo.

O sol banha os cabelos castanhos de Sammy, que agora estão compridos. Eles dançam ao vento no local elevado onde estamos. A luz solar também se reflete em seus olhos, tornando-os mais claros e brilhantes. Sammy é tão bela que rouba a graça de qualquer cenário. Embora estejamos em um cemitério, localizado em um bosque com uma vista serena e deslumbrante de vegetação e montanhas, não é necessário apreciar a paisagem para encontrar beleza e serenidade em meio à dor da perda. Sammy irradia essa beleza e calma. Eu estava perdido por muito tempo quando a vi pela primeira vez. E lembro-me exatamente de como me senti: fascinado e tranquilo, como se tudo estivesse bem e fizesse sentido.

— Você realmente gostava muito dela — ela observa. — Sinto muito não poder te consolar.

— Acho que você tem o direito de estar surpresa por isso — constato. — Não sinta por mim, Sammy, eu não mereço seus sentimentos. E já estou habituado a dores inconsoláveis. Nada pode me consolar.

Viro-me e a deixo ali. Saio pelo portão por onde entrei, observo os carros estacionados, mas não me lembro onde deixei o meu. Não consigo chorar. Meus olhos enchem, a dor me sufoca e não transborda, mas fica presa aqui dentro como um castigo. Tenho que acomodá-la em algum lugar entre outras dores inconsoláveis que também carrego aqui. Há dias em que elas se tornam combustível para que eu siga com minha vingança. Há dias, como hoje, em que elas me fazem sentir toda a culpa, mas essa culpa ainda me instiga a vingar-me. E há Sammy, essa dor à parte, a maior dor, a mais perigosa, porque me faz querer desesperadamente o impossível. Não posso desviar do meu propósito, e Sammy me distrai dele. 

DEGUSTAÇÃO - UMA MENTIRA PARA O CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora