Capítulo 3 - A MENTIRA

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— Ele parecia estranho, não sei dizer, não parece estar bem.

— Não olhei em seu rosto tempo suficiente para reparar isso, mas se estiver sofrendo, bem feito. Que ele sofra. Que seja infeliz todos os dias de sua vida. Você está com pena dele, por acaso?

— Não! — ela responde rapidamente. — Jamais sentiria pena de um homem que renegou a própria filha!

Imediatamente engasgo com o segundo rolinho de frios que havia enfiado na boca.

— Vou te servir uma bebida, vai ajudar a descer. Este é um vinho espumante, Prosecco, Igor trouxe da Itália, mas não posso beber.

— Quer que eu beba a essa hora? Eu não dormi nada esta noite e vou abrir a floricultura. Queria não abrir, mas tenho que entregar os arranjos da festa de quinze anos. Estão praticamente prontos.

— Não quero que beba, apenas que prove e me diga que sabor tem — ela explica. — É um vinho leve, Igor disse que é delicioso.

Levo a taça aos lábios e o líquido parece borbulhar em minha língua. É leve e tem um aroma de maçã verde, mas também percebo notas sutis de flores. É realmente muito bom! Tomo mais um gole, enchendo minha boca, quando ela diz:

— Por que mentiu sobre ter contado ao Éder que vocês têm uma filha?

Engasgo, cuspindo o vinho para frente, Sury escapa por pouco do banho.

— Fazer as pessoas engasgarem deve ser algum dom seu! — ralho. Tenho certeza que está saindo vinho pelo meu nariz.

— Por que você mentiu? Você disse que levou Anya até ele, mas ele a rejeitou quando ela tinha um ano, Sammy. Só que ele afirmou que esteve fora do país nos últimos cinco anos e não retornou uma única vez. Ele até se lembra da roupa que você usava quando se viram pela última vez, que foi no dia em que ele partiu. Por que você mentiu para mim?

— Sury...

— Por favor, Sammy, não minta.

— O que queria que eu fizesse? Você insistia que eu deveria pensar na Anya e contar sobre ela ao pai, mas eu não queria! Ele tinha me deixado, eu não queria! Além do mais, como eu o encontraria? Eu não sabia onde ele estava, nem por onde começar a procurar. Eu não sabia nem mesmo quem ele era, não sabia de nada! — Respiro fundo e viro o resto do vinho na taça se precisarei falar disso e lembrar desses momentos. — Naquele dia, fui até o escritório cujo endereço estava no envelope dos papéis do divórcio e me encontrei com o advogado dele, mas até ele não sabia nada sobre o paradeiro do Éder. Eu nem tinha por onde começar a procurá-lo.

Seus olhos iguais aos meus me observam atentamente. Sury não é alguém que julga as pessoas, mas temo que fará isso agora, já que tenho mentido para ela por anos.

— Sammy, a gente tinha acabado de hipotecar o apartamento para pagar um detetive, então você podia ter pedido a ele que o encontrasse.

Meus olhos enchem, mas Sury quer a verdade. Então direi a verdade.

— Por que eu faria isso? Ir embora foi uma escolha dele. Você pode dizer que foi vingança, egoísmo ou ressentimento. Mas eu não queria me tornar a mulher abandonada que percorre o mundo atrás do homem que a deixou só para dizer: "Ei, olha só, temos um bebê agora." Como você acha que isso pareceria? Eu vou te dizer como: pareceria que estaria usando nossa filha como uma maneira de fazê-lo voltar para mim. E eu não queria que ele pensasse assim, porque eu nunca vou voltar para ele!

Ela se levanta e dá a volta pela mesa, sentando-se ao meu lado, passa os braços à minha volta e me abraça. E só então percebo que estou chorando.

— Eu sinto muito, Sammy. Você não precisava ter mentido, podia ter dito que não queria contar e pronto. É sua vida, sua filha, é você quem decide isso, ninguém tem o direito de decidir por você.

DEGUSTAÇÃO - UMA MENTIRA PARA O CEOWhere stories live. Discover now