01 | Urrea

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Josh Cabeça de Repolho🥬: Estou esperando na lanchonete. Tá todo mundo aqui.

Josh Cabeça de Repolho 🥬: E dizer "Meu pai não deixa eu ir" não faz sentido. Ele não é seu dono.

 Josh Cabeça de Repolho🥬: Você tem dez minutos para aparecer aqui!

Respirei fundo ao ler as mensagens. Tirei meu celular do carregador e fui procurar uma roupa, afinal minha namorada ordenou que eu saísse. Não entendo como consegui uma mãe em vez de um melhor amigo. Este era Josh. Ele me criou mais do que meus pais.

Depois de borrifar o perfume, me olhei no espelho e vi que estava bonito. Depois de arrumar o cabelo para deixá-lo menos emaranhado, molhei os lábios. Peguei minhas chaves da mesa e coloquei meu telefone no bolso da frente. Desci e vi meu pai sentado em uma cadeira com um jornal e minha mãe no sofá com uma revista. Seu olhar penetrante estava em mim, e a tensão tomou conta de mim, mas me aproximei de minha mãe, fingindo não me importar.

— Vou encontrar a galera, ok? — a beijei na  testa e ela sorriu e acenou com a cabeça.

— Divirta-se, e não chegue muito tarde. — concordei.

— Você sabe quem lhe deu permissão para fazer isso? — eu pude ouvir a zombaria ecoando pela sala.

Meu pai não era liberal, muito pelo contrário. Ele era muito sério, muito contido e, claro, um gangster. Marco Urrea era o maior dono de gangue da Califórnia, homem rico, traficante de drogas e... acho que você entendeu.

E como era homem e seu único filho mais apto, meu futuro como herdeiro de todas as coisas estava garantido. Meu pai me treinou desde os quinze anos para substituí-lo quando ele se aposentasse. Eu não gostava desse tipo de vida, mas acabei me acostumando com a ideia.

Josh discordava. Ele era o principal inimigo dessa ideia. Ele e minha mãe, mas ela não podia fazer nada. Quando se casou com meu pai, ele já sabia sobre sua “vida”.

— Não comece, Marco. — ela advertiu e ele lançou à ela um olhar sombrio.

— Não perturbe, Wendy! — ele ergueu a mão seco para ela. — Você sai agora e mal sabe quando volta. Temos que ir ao cartel amanhã. — ele se dirigiu a mim com uma expressão fria.

— Mas... Amanhã é sábado! — gaguejei e apertei a chave do carro entre meus dedos.

— E o que eu tenho a ver com isso? — Ele murmurou com indiferença e eu respirei fundo.

— Marco!

— Dez e meia! — meu pai ignorou a voz cautelosa de minha mãe porque seu olhar quase perfurou minha alma. — Venha antes disso. — e saiu pela porta para o corredor, olhei para a mulher sentada no sofá com um olhar frio.

Meu pai não era um homem fácil, nem um homem muito paciente. Pelo contrário, ele era frio, grosso e carrasco. Ele não se importava com quem sairia ferido por suas ações ou palavras. Eu provavelmente herdei algumas das características dele. Mas tenho certeza que noventa por cento de mim era o caráter da mulher que me criou.

— Não importa o que ele diga ou não, querido. Sabemos que seu pai é complicado, mas ele não é um monstro. — disse calmamente, num tom persuasivo capaz de convencer até a alma mais temida.

— Eu não me importo com o que papai diz. Ele me considera um projeto da máfia e nada mais. — tentei soar casual.

Na verdade, eu era um projeto firmemente estabelecido para um dia me tornar o CEO da máfia que ele criou.

Antes disso, meu pai era um homem legal, engraçado, divertido para estar junto. Quando eu tinha nove anos ele me levava até a escola e em todos os treinos de futebol que aconteciam. Ele era um pai de verdade. Foram poucos os momentos bons que compartilhei com ele, depois que fiz quinze anos, sua personalidade mudou bruscamente e ele se tornou glacial, como é hoje.

𝗚𝗮𝗻𝗴𝘀𝘁𝗮 | Short Story ᴺᴼᴬᴿᵀWhere stories live. Discover now