Capítulo 1 - O REENCONTRO

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Abro meu maior sorriso.

— Sim, exatamente. Igor Werneck me deu. Ele também me deu um apartamento com uma vista maravilhosa. Ele tem muito dinheiro e me dá tudo o que eu peço, já que fui eu quem cuidou da mulher que ele ama nos últimos anos.

Ela parece sem graça ao não poder usar o dinheiro do marido bilionário da minha irmã caçula para me rebaixar.

— Ah, que bom! Pensei que poderia se ofender por eu dizer isso.

— Não, de maneira nenhuma! Somos família e família se ajuda. Tudo bem ele me dar seu dinheiro — digo, uma expressão tranquila de quem não se importa, mas por dentro meus pensamentos gritam: Eu vou matar você, sua piranha!

E eu nem sequer posso puxar uma respiração profunda para me acalmar, pois isso mostraria a ela que está conseguindo me afetar, coisa que decidi ao aceitar esse trabalho, ela jamais saberá. Esta mulher diante de mim, do tipo que contrata um serviço, mas age como se tivesse comprado uma pessoa, não vai saber por nenhum segundo sequer, que conseguiu me atingir.

Caminho atrás dela enquanto fala sem parar sobre todo o prestígio, renome e coisas do tipo das pessoas que estão aqui hoje, as pessoas para quem irá me apresentar. Um homem trajando um terno me pede a sacola que carrego, Brenda explica que é um procedimento comum da segurança. Sorrio, fingindo não me importar. Não há nada demais na sacola, apenas meus cartões de visita para distribuir entre suas amigas igualmente ricas, para quem sabe, caso eu conclua este trabalho sem enlouquecer, ter mais serviços que paguem tão bem. Não é como se eu tivesse trago uma arma ou algo assim para cortar fora sua língua maldosa ou degolar seu noivo.

Não. Como eu disse, Brenda Lemann Calmon não irá me afetar. Sendo assim, Éder Castello, seu noivo, menos ainda. Se com ela serei obrigada a ter o mínimo de paciência, com ele, não manterei nem mesmo a civilidade.

Não sou uma mulher amarga ou vingativa, ao menos, não costumava ser. Mas nos últimos dias descobri que não sabemos de verdade quem somos até estarmos diante de uma situação que jamais imaginaríamos. A maneira como reagimos aos extremos nos mostram aquilo que desconhecemos sobre nós mesmos. Descobri que posso ser amarga e vingativa. Mas também que sou forte. Clientes difíceis e exigentes como Brenda são comuns no ramo em que trabalho, decorar casamentos não é algo fácil. É o momento delas, elas possuem mil coisas na cabeça, costumam estar estressadas e geralmente têm seus planos e sonhos e qualquer coisa que dá errado as afeta. E tudo tende a dar errado. Estou acostumada a lidar com mulheres difíceis, com situações difíceis e pressão. Qualquer florista no meu lugar lidaria bem com uma cliente importante como Brenda, sorriria para ela, fingiria não perceber seus olhares de desdém e seus insultos disfarçados de falsa preocupação. Talvez até a bajularia por seus contatos.

Mas nenhuma outra florista estaria no meu lugar, trabalhando no casamento do homem que a abandonou sem qualquer explicação cinco anos atrás. Que enviou um estranho com os papéis do divórcio já assinados por ele e a dispensou assim, como se anos juntos não tivessem significado nada. Não. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e equilíbrio entenderia a insistência da atual noiva de seu ex-marido para que você decore seu casamento enquanto tenta esconder quem ele é, como um aviso claro de guerra e recusaria. Infelizmente para a nova noiva de Éder, nunca fui equilibrada. E, aparentemente, neste caso especificamente, não consigo agir com bom senso.

Mas não estou aqui por qualquer sentimento amoroso por aquele que uma vez me destruiu. Estou aqui porque esta é uma casa de eventos de prestígio, como sua noiva ressaltou por pelo menos dez vezes nos últimos cinco minutos e pertence à família dele. Uma família que nunca conheci. Vinda de um passado sobre o qual jamais ouvi falar. Nos seis anos em que estivemos juntos, Éder e eu lutamos para conseguir mobiliar uma casa e pagar um casamento simples. Então como de repente ele se tornou o filho único de uma das famílias mais ricas do país? Estou aqui porque preciso dessa resposta por minha filha.

DEGUSTAÇÃO - UMA MENTIRA PARA O CEOWhere stories live. Discover now