Capítulo 3

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— Nossa... Ele era tão ruim de beijo assim? – ao escutar a pergunta, a garota levantou a cabeça assustada. A velhinha que fez a pergunta mexeu nos pequenos óculos, enquanto a jovem fez um muxoxo. O nome da velhinha era Natalie.

— Bom dia Natalie. – Samantha voltou a tirar o pó dos livros que estavam na estante. Seu humor não estava dos melhores. Havia acordado com uma intensa dor de cabeça e os remédios que havia tomado, não faziam efeito.

— Muito bem, Samantha Cavendish, aconteceu alguma coisa ontem, depois que fui para casa? Largue esse maldito pano e venha me contar as novidades. – Natalie aproximou-se de Samatha, que guardou o livro que tinha nas mãos.

Estavam no café-livraria que Samantha trabalhava. Ela usava o jaleco azul marinho, com o emblema do café, por cima de um vestido florido. As sandálias baixas que usava, eram vermelhas. Ela tinha o cabelo em uma trança.

Natalie usava um vibrante caftã vermelho, com enormes brincos e colares. Os cabelos, obviamente tingidos, tinham a coloração castanha, de quando era jovem. Anéis enchiam suas mãos, dando-lhe um ar de cigana fajuta.

— Vem, Samantha, contar tudinho para a sua velha amiga Natalie. – a velha sentou-se a mesa e bateu com delicadeza no tampo. Samantha respirou fundo, buscando calma.

— Não tem muito o que contar. Fui assaltada e...

— Ai meu deus! – Natalie ergueu-se e foi até a jovem, pegando nas mãos dela. – Você está bem? Levaram muito? Bateram em você? Já foi a policia? Samantha, você não devia estar aqui, devia estar em casa descansando, talvez até no hospital...

— Natalie, eu estou bem, juro! Roubaram a pulseira de prata que a vovó me deu... E o meu celular.

— Aquela pulseira que você dizia que a sua avó dizia que os duendes tinham feito?

— Bem essa. – Samantha deu um meio sorriso, antes de ganhar um abraço de urso. Ela nem pensava em reclamar, pois estava sentindo falta disso.

— Oh, querida, sinto muito. Provavelmente já trocaram tudo por drogas. Esse mundo em que vivemos é muito perigoso... Bem, eu vou ver o que aquelas crianças estão fazendo no banheiro... E daí me paciência, porque se me der forças... chupo aquelas mangas sem dentadura mesmo!

Samantha riu baixinho, com cuidado para não doer sua cabeça tanto. Pegou o pano, recomeçando a tirar o pó dos livros, em exposição para venda. Natalie era sua empregadora a quase cinco anos. Não havia se casado, nem tido filhos... Adotava algumas poucas pessoas como família e já em diversas ocasiões, proclamara que Samantha era como se fosse sua neta.

Natalie não gostava de aspiradores de pó nem espanadores... então o trabalho de limpeza dos livros era feito manualmente. No café, trabalhavam três funcionarias, sendo Samantha com vinte anos a mais jovem e como ela parecia gostar de espanar os livros, fazia parte de sua rotina. Aproveitava naqueles momentos para ficar pensando em coisas aleatórias e distintas.

Ao escutar um determinado som, não conseguiu evitar de rir. Olhou em volta, reparando que Natalie deixara a bolsa em cima da mesa. Deu de ombros, enquanto uma espécie de arrepio lhe percorria. A risada de bebê, que Natalie tinha como toque de celular, estava mais alta. Voltou a limpar os livros, ligeiramente irritada.

O sermão que seu pai fizera questão de lhe dar, lhe deixara sem vontade de comer. Havia ido para a cama, engolindo a vontade de voltar aquela rua, onde fora beijada, para arrebentar o estúpido bêbado... Ou talvez... Deixar que ele a beijasse mais um pouco...

Balançou a cabeça, perante a ideia. Ok, o cara mesmo bêbado, beijava bem... Ou talvez ela só tivesse beijado caras que não sabiam beijar. Talvez fosse isso. Embora ela não conseguisse ver o rosto por tempo suficiente para conseguir fazer um retrato falado com precisão, com certeza não esqueceria da falta de brilho daqueles olhos. Embora seu rosto estivesse alegre, não parecia ser uma alegria verdadeira, daquelas que iluminam tudo.

Ela lhe dava uns 30 anos. Ou podia ser mais jovem e o sofrimento ter lhe envelhecido o rosto... Sua colega de trabalho Joan era assim. O sofrimento que passara mais jovem, com mãe doente, pai drogado e um marido abusivo haviam lhe dado uns bons anos de aparência. Joan parecia que não sabia sorrir.

Samantha voltou a olhar para a bolsa de Natalie, grande e roxa, que tinha o telefone tocando. Pegou a bolsa da chefe para levar até ela, quando o telefone parou de tocar. Recomeçando logo em seguida.

— Alguém quer tirar o pai da forca. – Samantha resmungou, enquanto batia na porta do banheiro. Não esperou autorizarem para abrir a porta do banheiro. Arregalou os olhos, quando percebeu as enormes manchas no corpo de Joan, que abaixou a camiseta escura rapidamente, os olhos acusadores na direção de Samantha.

— Perdeu alguma coisa aqui, menina? – o tom seco fez que Samantha desse um passo para trás.

— Desculpe, eu vim entregar a bolsa para Natalie. – felizmente o celular voltou a tocar. Natalie estava atrás de Joan, a expressão de pura revolta no rosto envelhecido.

— Joan você precisa se separar de Adam.

— Se Adam te matar em um dia que eu estiver na faculdade – Samantha começou a falar como quem não quer nada – eu não vou ir no teu funeral.

— Mais fácil eu não ir no seu enterro por estar fazendo alguma outra coisa! – Joan replicou irritada.

Samantha ficou pálida, mas não retrucou. A risada de bebe parecia debochar dela. Pendurou a bolsa na maçaneta da porta, antes de sair quase correndo para a frente do café. Estava na calçada, sentindo o calor do sol, de olhos fechados, quando sentiu uma mão colocar-se sobre seu ombro.

— Eu sei que não devia ter dito aquilo para Joan, mas será que ela não percebe que é o que Adam vai acabar fazendo? Matando ela a pancadas?

— A sua amiga vai acabar percebendo, que você está preocupada com ela.

Imediatamente Samantha deu um passo para o lado, ao escutar a voz masculina. Arregalou os olhos, ao reconhecer o homem a sua frente. Ele sorriu e percebendo o queixo caído dela, não hesitou em roubar-lhe um beijo.

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⏰ Last updated: May 30, 2023 ⏰

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