O início da jornada

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Após alguns anos, Yu Hua retornou ao santuário com uma criança raposa de cabelos e caudas ruivas e olhos azuis que pareciam brilhar mais do que as estrelas. A mestre o chamou de Hui Ling e o santuário quase todo passou a apoiar Yu Hua no cumprimento da profecia da raposa divina.

Hui Ling cresceu e logo se tornou um jovem forte e cheio de energia. Seus dias eram repletos de atividades para que se tornasse habilidoso em diversas artes. Podia bordar e cozinhar e, com o tempo, suas roupas passaram a ter um toque especial. Os caldos apimentados que preparava faziam grande sucesso no santuário. Todas as kitsunes os adoravam, com exceção de sua tia Li Liang que odiava pimenta.

Na verdade, ela provavelmente detestava qualquer coisa a respeito do jovem, alertando as kitsunes todo o tempo sobre como ele traria desgraça para o santuário.

Para a sorte de Hui Ling, sua tia Li Liang raramente estava sóbria o bastante para que a levassem a sério. Mas o jovem a temia, se preocupando que estivesse certa no fim das contas.

O trabalho para transformar a jovem raposa em um ser divino era longo, mas treinado pela temida Li Liang, Hui Ling se tornou um exímio arqueiro.

Sua mãe também era muito próxima de Wen Lei, a segunda kitsune mais poderosa do santuário, considerada uma lutadora muito forte. Suas técnicas causavam espanto a todos e diziam que ela já havia treinado com a Tigresa Branca, a deusa da guerra. Ninguém, nem mesmo ela, confirmou isso e Hui Ling se perguntava o motivo. Mas ter sido treinado em artes marciais por tão habilidosa criatura era um privilégio que só o jovem tinha.

A única coisa que faltava para ele eram as artes mágicas, o principal dom de sua mãe, para o qual ele encontrou muita dificuldade.

No seu primeiro teste, todos estavam ansiosos para ver o desempenho de Hui Ling e logo uma névoa cor de rosa em forma de redemoinho surgia em volta do jovem, já causando gritos e palmas animadas das raposas que aos poucos passaram a se aquietarem.

— A névoa está mudando de cor... isso não parece bom. Por que está ficando cinza?

Antes que obtivesse uma resposta, uma explosão acontece, acompanhada da formação de uma tempestade que encharcou a todas as raposas. Não tem coisa que uma raposa mais odeia do que ficar molhada.

— Não passa de um inútil. — Diz Li Liang enquanto toma um gole de seu licor favorito, observando todas as raposas correndo para as suas casas.

— Não diga isso, Liang. Você nunca foi boa com magia. — diz Yu Hua defendendo o jovem kitsune.

— Eu nunca pretendi me tornar uma divindade.

— Mãe, eu não sei onde eu errei, toda vez acontece isso. Eu deveria criar fogo e não chuva. — Hui Ling diz de forma meio chorosa, frustrado com sua falha.

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Hui Ling teve que repetir o teste quatro vezes até que conseguiu criar seu redemoinho de fogo e controlá-lo. A comemoração foi quase geral, mas Li Liang, uma das mais supersticiosas do santuário, dizia que era um mal sinal, já que o número quatro simbolizava a morte.

— Tudo nele é um alerta vermelho.

Hui Ling já deve ter ouvido essa frase umas mil vezes e não se sentiu bem em nenhuma das vezes. Não parecia uma impressão, parecia uma maldição. Mas precisava manter seu foco principal, que era se tornar a raposa divina e alcançar o Monte Celestial.

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O Monte Celestial é composto por cinco principais divindades e, até hoje, apenas um indivíduo conseguiu alcançar a montanha sem ter sua alma dissipada.

A jornada da raposaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora