𝟓𝟕 | 𝐃𝐄 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀 𝐏𝐑𝐀 𝐂𝐀𝐒𝐀

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— Tu representa com a xota, eu represento com a piroca...

— Gabriel! — Ela dá um tapa em minha mão e nós dois caímos na gargalhada.

— 'Tô brincando. Vou cantar um sertanejo raiz porque as atuais são muito erradas pra cantar com as crianças presentes.

Ela assente, abafando uma risada.

Limpo a garganta de novo como se isso fosse tornar minha voz mágica igual a da Luanna, e, então, começo a cantar uma clássica do Jorge e Mateus.

— Fico sozinho, pensando em você. Vejo imagens, retratos de nós...

Luanna sorri para mim, gostando finalmente do que ouve e se juntando a mim numa cantoria baixa já que estamos na UTI num quartinho dividido por apenas uma cortina. Não queremos acordar ninguém.

A voz dela é bonita até quando está doente e cansada, e ainda mais mágica em voz baixa daquele jeito. Se tornou mais especial, mais íntimo. Acaricio seu cabelo o tempo todo durante a música. Vejo quando ela começa a piscar mais demoradamente e a melodia morrer cada vez mais em seus lábios. Leva só mais alguns segundos para que ela finalmente pegue no sono. 

— Descanse, preta — dou um beijo em sua testa e a observo dormir.

Meu coração dói, se afundando em meu peito enquanto encaro Luanna e vejo sua expressão de dor mesmo enquanto dorme. Sinto o medo me assolar de repente. Medo disso tudo ser muito mais grave do que imagino e de no fim achar dando tudo errado. Rapidamente me obrigo a pensar em coisas boas. Luanna vai ficar bem. Ela tem que ficar.

Minhas pálpebras pesam e abaixo a cabeça para conter as lágrimas. Deus, seja bonzinho comigo, por favor.

— É... — começo a sussurrar pra barriga da Luanna de novo enquanto contenho a vontade de chorar e penso em coisas boas. — Papai vai fazer uma surpresa pra mamãe. Algo grande pra deixar ela bem feliz. O que vocês acham? É, vai ser legal, né?

Me vejo conversando com os bebês de novo porque isso me traz conforto e não me faz pensar no pior e sim no melhor porque quero o melhor pros meus filhos e pra minha família. Penso num futuro lindo e feliz com a Luanna. Todo mundo feliz e saudável.

— Vou comprar uma cesta de chocolate pra ela — continuo. Eu sei que Luanna está viciada naquela barra da LaCreme da CacauShow. Vou comprar tudo que tem direito. Trufa. Ursinhos. — Acho que uma cesta com lanche e batata do Méqui também serve, né?

Estou rindo sozinho quando me dou conta, conversando com meus filhos como se eles pudessem me entender e me ajudar a mimar a mãe deles.

De repente a cortina se abre ao meu lado, atraindo minha atenção e uma mulher loira, que eu conheço muito bem e faz meu coração se aquecer, adentra o espaço. Me levanto rapidamente do banquinho pra receber minha mãe.

— Ah, me desculpa. Se eu soubesse que ela estava dormindo, teria vindo mais tarde.

— Relaxa, mãe — dou um abraço nela.

— Como ela está? — Lanço um olhar pra Luanna deitada e dormindo serenamente depois de uma madrugada ruim pra cacete.

Puxo minha mãe pro corredor e fecho a cortina pra conseguir conversar com ela com mais privacidade e sem correr o risco de acabar acordando a Luanna.

— Mal — é o que consigo responder. — Mas a pressão dela está estabilizando, o problema são os remédios.

— Ela não está aceitando?

— Não. E eles não podem dar qualquer tipo de remédio pra não fazer mal aos bebês.

— E como eles estão?

HOTEL CARO ━ gabigolWhere stories live. Discover now