2. Sete chaves

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— Tomem muito cuidado por essas bandas, moçada — avisou uma das humanas do acampamento, enquanto suas amigas mais jovens davam risinhos tímidos e apontavam para Érico e Miro. Tratava-se de um acampamento apenas de mulheres, as Amazonas Livres, que vinham para a lua competir nas maratonas. A presença de rapazes nas redondezas era sempre um evento singular.

— Pode deixar — Vexel tentou se apressar para tirar logo os meninos dali, mas falhou: Miro já estava perto delas, todo simpático.

— Você é aquele videocaster dono do Videoespaço Miromania? — perguntou uma delas.

— Sou eu, sim — entusiasmou-se o rapaz com todo seu charme, passando a mão nos cabelos enrolados no alto da cabeça e raspados do lado. Por fim, trocou contato com as moças.

Tsc, esse seu irmão, Érico, só pelos astros... — disse Vexel, com os braços cruzados em espera.

Érico não pensava muito em relacionamento, embora já tivesse saído com algumas pessoas apresentadas por Miro. Ver aquelas moças soltando risinhos ao observá-los fez seu rosto esquentar.

Depois que Miro voltou todo risonho, Vexel preferiu acampar o mais longe possível das moças para mantê-lo na linha.

Na manhã do ciclo seguinte, eles progrediram quando as primeiras luzes surgiram entre as duas luas. As informações dos IDs avisaram que era suicídio ficar exposto no Vale da Lua ao cair da noite e Miro não queria descobrir o porquê.

Ao final do segundo ciclo, já exaustos de tanto caminhar, Érico e Miro desabaram no chão enquanto Vexel ria da cara deles.

— Dois molengas mesmo! Acho que esse lugar é bom pra gente passar a noite — disse ela, enquanto suas narinas se moveram, farejando o ar. Supostamente, daquela forma, ela analisava as condições climáticas. Afirmava, inclusive, ser capaz de saber se ganharia ou não uma corrida pelo cheiro do suor das adversárias. Óbvio que se tratava de uma de suas loucuras.

Acomodaram-se sob pedras de formações engraçadas. Algumas lembravam bichos e outras formas geométricas precisas. Érico e Miro acenderam uma fogueira após juntarem pedaços de madeira e Vexel voltou com um filhote de cervonaut — espécie de roedor com pelagem listrada e rabo escamoso — abatido sobre os ombros. O bicho serviria de carne assada para se alimentarem.

— Por sua culpa, vou ter que sair da minha dieta e comer essas porcarias. — Vexel fulminou Érico com os olhos, tratando a carne como se fosse um monstro pronto para devorá-la.

Érico e Miro não conseguiram evitar os risos. Vexel girou a carne em um espeto acima da fogueira. Quando notou que estava bem assada, repartiu e os serviu.

— Só assim pra gente comer no mesmo cômodo, né? — observou Érico.

— Na mesma formação rochosa, você quer dizer. — Miro olhou para o céu.

Logo, os três estavam fitando as luzes das civilizações de Luna I e II orbitando o céu como estrelas.

— Ow, vamos cair fora desse lugar algum dia, né? Esse Universo é grande demais pra gente ficar só nessa lua chata — perguntou Érico, com um sorriso sonhador.

— Vamos! — disse Vexel.

— Podemos ir, embora eu não odeie Miesac tanto quanto vocês — disse Miro.

— É uma promessa — declarou Érico. — Vexel, você vai ser uma corredora mega famosa. Miro vai ser um videocaster em um mundo civilizado! E eu vou ser um hacker numa equipe de caçadores.

Os irmãos concordaram, mais para ele parar de encher o saco do que por compartilhar de sua vontade. A verdade é que eles já estavam satisfeitos com suas vidas. Érico é que ambicionava mais. Muito mais.

Prévia de Absolutos: Sinfonia da Destruição - Livro 1 | Rodolfo SallesWo Geschichten leben. Entdecke jetzt