Capítulo 2

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Ao abrir os olhos noto a claridade invadindo o quarto, encaro a janela e sinto a ausência da locomoção do navio, aparentemente chegamos. Levanto da cama, puxando minha mala e a de mamãe colocando cada uma delas nos ombros, e caminho até a mesa pegando o papel com as informações que vamos precisar quando estivermos na cidade.

Saindo do corredor que se localiza os aposentos encontro Dylan e minha mãe no deck parados encarando a cidade, ambos parecem inacreditados com a vista de Londres, os prédios, a vida que está lá.

— Vi que adiantou as malas do Dylan, minha coluna agradece.— Passo o braço pelo ombro de mamãe que permanece distraída.

— Vamos morar em um desses prédios Fúria? Se sim, espero que o elevador deles funcione.— Dylan me encara com o semblante preocupado, movimentando as mãos freneticamente.

— Caso não funcione faço sua cadeira levitar pela escada de emergência.— Mostro os dentes assanhando o cabelo dele, lhe deixando irritado.

— Santa paciência Fúria, não tem a mínima graça essas piadas que você faz com seu irmão ele...

— Foi vítima de uma tragédia mãe.— Alinho meu pescoço a sua altura para lhe encarar.— Dylan faz piada com suas pernas toda sexta-feira no bar e as mulheres gostam disso, teve de namorar diversas delas.

Dylan arregala os olhos incrédulo.

— Só foram duas garotas.— Ele diz sacudindo o braço da nossa mãe.

— Essas você assumiu, as outras foram só noitadas mesmo.— Ergo os dedos, tirando alguma sujeira de minhas unhas.

— PAREM! Dylan, pouco me importa com quantas mulheres você dorme, você parando de se comportar como um garotinho e virando um homem, está de bom tamanho pra mim.

— É cara, você aleijou as pernas e não a mente.— Quando termino de formular a frase sinto um estalar na minha cabeça.

— FÚRIA!

Apoio a mão na cabeça tentando aliviar o impacto da dor, ouço o som de uma respiração conhecida se aproximar, o imediato. Afasto de minha família girando o corpo para lhe encarar, quando sua atenção está em mim agarro as paredes de sua mente.

"Não diga uma palavra com eles, apenas libere o desembarque."

Ele assente meneando a cabeça e estreita os olhos.

"Evito gastar saliva com bastardos imigrantes como vocês, invasão de mentes libertadora? cada dia seu grupinho se desenvolve mais, mas pensei que tivesse interesse em..."

Assim que o imediato dispara sua resposta em minha mente ele começa a tossir, sangue espirra sujando o piso amadeirado do navio, me aproximo e sinto seu poder paralisando meus movimentos.

Ele não quer ser ajudado.

"Mestre deseja você em seu apartamento assim que deixar sua família na nova casa"

Rápido assim? Pensei que ele quisesse me conhecer e esperar para ter certeza se sou confiável. O imediato passa por minha família,abrindo a portinhola e indica o desembarque.

  ••

Não é um apartamento, mas sim um casarão moderno acompanhado de um toque aconchegante, transmite a energia de um lar. Mamãe está com o rosto enterrado nas mãos, lágrimas estão jorrando desde o momento em que colocamos os pés na residência.

A casa é térrea, deixando Dylan totalmente aliviado com a mudança, aparentemente é a única do bairro pois a maioria possuem mais de dois andares. Mamãe vai ficar com o quarto próximo ao jardim, Dylan com a suíte, optei pelo quarto mais simples já que não passo tanto tempo em casa e talvez me mude para os dormitórios da Federação da Luz, tendo uma cama e canto para guardar minhas coisas está de bom tamanho.

Sento ao lado de mamãe, seguro sua mão e lhe encaro, as lágrimas pararam mas seu olhar ainda é de angústia.

— Seu pai nunca vai conseguir sentir essa paz.

— Não vai mesmo, mas você Dona Clare já está sentindo.— Deito minha cabeça em seu ombro, buscando tranquilizá-la.

— Você já está de saída não é?— Ela ergue os olhos em minha direção, os lábios comprimidos.

Olhar para mamãe assim é pior do que dar fim em uma entidade possessiva.

— Sim, já fui avisada para ir lá assim que acomodar vocês aqui.

— Tome cuidado e feche os olhos.— Ela susssurra me abraçando.

O som de rodas no chão ecoa no espaço, Dylan se aproxima de nós.

— Não use sua magia, ele é um feiticeiro de sangue.— Seu rosto carregado de preocupação.

— Não vou usar, vai ficar tudo bem e finalmente vamos viver em paz.— Solto do abraço de minha mãe e agarro o ombro de Dylan.— Toma conta da mamãe, uma hora vou retornar.

Me direciono até a porta e saio de casa, para cumprir minha parte da barganha.

A Libertadora das SombrasWhere stories live. Discover now