UNTIL THE END - C²

1 - It's Not Your Fault

Bahrain, 2023

- No, no, no.... - Charles suspira enquanto guia o seu carro para fora da pista. Ele pisa fundo no acelerador e nada.

  Era a primeira corrida do ano e já somava um DNF para a lista, que belo jeito de se iniciar um ano, não é mesmo?

  Ele mentiria se não dissesse que está completamente frustrado. Eles tinham tudo, tinham um carro bom e competitivo, ele tinha feito um tempo relativamente bom no qualify e ótimos pneus para a largada, mas o carro... meu deus, o carro...

  Ele retirou o volate, abriu os trincos da lateral e saiu do carro tentando se manter calmo sem acreditar na sorte, ou na falta dela, que ele tinha. Ele tirou o apoio de pescoço, o capacete e pegou uma garrafinha de água tomando um gole longo querendo afogar a frustração junto com ela. Ainda não tinha caído a ficha que isso estava acontecendo.

  Leclerc nunca quis tanto que a maldição do Bahrain fosse verdade, porquê assim ele teria uma pontada de esperança no meio de todo aquele caos. Ele não conseguia distinguir o caos dentro dele e o caos do lado de fora enquanto ele voltava para a garagem da ferrari completamente infeliz, sem disfarçar a sua cara de enterro.

  Ele nem queria ouvir os engenheiros, mas precisava, era parte das suas obrigações, porém na primeira oportunidade, ele fugiu dali indo para o seu motorhome. Ninguém tentou impedir ele, todos ali sabiam muito bem que agora não era um bom momento.

  Leclerc nem quis assistir o final da corrida, não queria saber se a outra ferrari também tinha dado DNF, ou se tinha terminado. Ele não conseguia distinguir os gritos do lado de fora, se eram da ferrari ou se eram das outras equipes, mas ele não queria saber.

  Era tudo culpa dele, mais uma vez. Ele se deixou levar e levou o carro ao limite, era completamente arriscado, mas ele fez mesmo assim. A sua parte racional afirmava que ele não podia fazer nada, o carro tinha que funcionar independente se estava no seu limite ou não, mas a parte dominante, a parte da ansiedade, consumia ele por dentro e consumia tão rápido quanto o carro do Grosjean pelo fogo naquele mesmo circuito em 2020.

  As coisas na sua cabeça estavam uma loucura e ele só conseguia se afundar no sofá mais e mais enquanto a sua mente tomava mais e mais dele. O monegasco não ligava se as suas roupas estavam fedendo a gasolina e, consequentemente, o seu motorhome. Ele não tinha forças para levantar e tomar uma providência quanto a isso.

  Ele não conseguia tomar uma providência quanto a nada.

  Ele se sentia imerso naquele sentimento que corroía ele de dentro para fora.

  Mas as batidas na porta tiraram ele daquele transe e ele sabia que a batida idiota era de uma pessoa específica.

‐ Lorde Perceval? - a voz do espanhol soou do outro lado da porta e ele segurou a respiração como se isso fosse tornar ele invisível, como se fosse afastar o seu amigo de lá. Ele até queria abrir a porta, mas ele não conseguia ‐ Charlie, eu sei que você está ai...

  O tom suave na voz do Carlos fazia ele querer se afundar mais ali, mas ele sabia que o Carlos não iria a lugar nenhum até que ele abrisse a porta.

   Ele não queria parecer um miserável, mas pela expressão do seu parceiro, era exatamente assim que ele aparentava... completamente miserável.

  Carlos não falou nada, só entrou fechando a porta atrás de si e abraçou Charles apertado. O monegasco não sabia que precisava tanto de um abraço, até ele receber o do Carlos. Ele se permitiu ficar pequeno e ser envolvido pelo espanhol só querendo chorar, gritar e sumir. Ele não sabia como tirar tanta frustração de dentro dele, parecia que alguém segurava o coração dele e prendia o ar de seus pulmões.