– Desde quando?

– Depende... – Não pude deixar de sorrir. – Em minha opinião, desde sábado quando ele meio que me avisou. Na opinião dele, desde domingo quando pediu para os meus pais.

– Você tá namorando um velhote de 40 anos?

– Não. Ele deve ter uns 26, 28, não sei bem.

– Não sabe bem? Está saindo com ele desde quando?

– Hum... Sábado. – Cara, colocando assim fica bem imbecil mesmo. Eu só saí com ele sábado!

– Você tá louca. – Ele disse baixo. – Eu vou esperar você voltar a si e vir falar comigo. – Ele levantou, deu um beijo em minha testa e saiu.

Pensando bem, foi tudo realmente muito rápido. Se a Polly me contasse algo desse tipo eu riria muito e também diria que ela está louca. Preciso dela. Pego o celular e ligo.

– Hum... – Pra variar, aquela magrela está comento.

– Amiga... Preciso de você. Onde está?

– Em casa terminando um trabalho da facul. Quer dormir aqui?

– Tô chegando.

Alguns minutos depois...

– Ei bonita!

– Oi.

– Ixi. O que tá acontecendo? – Sentei na cama dela, com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

– Polly, quer uma bomba? – Ela fez que sim com a cabeça. – Eu estou N A M O R A N D O.

Por um segundo ela fez cara de espanto, mas depois começou a rolar de rir no chão, nas almofadas que havia sentado.

– Você está me ouvindo rir com você? – Perguntei com as sobrancelhas erguidas. Ela parou e me encarou.

– Você tá falando sério Vali?

– Uhum.

– Agora eu vou levantar, pegar muitos salgadinhos de merda, umas cervejas e você vai me contar tudo.

Ela foi e pegou tudo isso na cozinha. Sentou de frente pra mim e fez uma cara de "e aí?".

– Bom, nós não nos falamos depois que mudei para a fazenda.

– Hum, vejo que não está mais com ódio do lugar.

– Longe disto amiga. Você precisa passar o próximo fim de semana lá comigo.

– Que bom Vali! Mas continue.

– Então. – Dei um gole na cerveja para tomar coragem. – Meu pai contratou um de seus veterinários de confiança do hospital para cuidar de tudo por lá. Um dia da semana passada eu o conheci.

– Detalhes querida. Conheceu como?

– Eu meio que quase o atropelei.

– Ãhn?

– É, eu quase o atropelei. Foi assim que o vi pela primeira vez. No mesmo dia a noite, quando cheguei, ele havia deixado flores do campo recém colhidas e um bilhete de desculpas pra mim no meu quarto.

– Eita. Como ele entrou no seu quarto?

– Tem abertura para a varanda da casa.

– Ual! Prossiga.

– Viramos policiais agora? Prossiga? Tudo bem. Na sexta-feira lembra que não quis sair? Então, eu arrumei minhas coisas e fui descansar numa rede na varanda da casa. Adormeci. Acordei no colo dele e ele me levando para a cama. – Polly se remexeu no colchão fazendo sinal para eu continuar. – Ele só me colocou lá e me cobriu. No sábado fui aprender a cavalgar com ele e meu pai, mas já estava mexida por ele. Ele é tão lindo e másculo. Não sei dizer. Mais tarde, fui com meus pais numa festa numa fazenda vizinha. Não resisti e...

– Você agarrou ele! Sabia! – Polly pulava e me apontava, com a boca cheia.

– Pois é. Você sabe como sou impulsiva para este tipo de coisa. Mas minutos depois eu vi que tinha feito merda. Tipo, ele não é como os nossos caras daqui. Ele é diferente. Eu fugi dele.

– Nossa, amiga, você está perdidamente apaixonada.

– Por que diz isso?

– Você não foge da raia Vali. Se fosse qualquer outro, você teria ido até o fim e ainda não atenderia suas ligações no dia seguinte. Você já estava apaixonada antes de agarrar ele.

– Faz sentido... – Nesse momento, o número estranho volta a tocar no meu celular e atendo.

– Alô?

– Posso saber por que é tão difícil falar com minha namorada? – A voz rouca e brava do outro lado da linha arrepiou todos os meu pelos.

– Oi peão. Eu não reconheci o número e acabei não atendendo.

– Isso é porque nem trocamos telefone. Tive que pedir para seu pai que riu da minha cara dizendo "oh, cara, você vai ter trabalho".

Eu não pude evitar rir com a imitação dele do meu pai.

– Eu vou gravar o número agora peão.

– Quando você vem para casa?

– Não vou. Estou com uma amiga e vou dormir aqui.

– E por que não me avisou?

– Como assim avisar?

– Avisar tipo "Ei, namorado. Vou dormir fora hoje. Tudo bem pra você?".

– Ah vá. Você acha que eu tinha que te avisar? Pior, você acha que eu tinha que te pedir? – A última frase saiu meio esganiçada com a raiva contida. Olhei para a Polly e ela ria sarcasticamente.

– Tem certeza que quer namorar Valentina? – Ele perguntou friamente.

– Já não sei mais Marcos. Conversamos amanhã. – Desliguei o telefone.

Pollyanna balançava a cabeça de um lado para o outro, parecendo ponderar minha conversa ao celular. Quem ele acha que é para agir assim comigo? Nem meu pai me controla! Tenho 24 anos porra! Como diria Cássia Eller: "Eu ando nas ruas, eu troco cheque. Mudo uma planta de lugar. Dirijo meu carro, tomo meu pileque.".

– Se você está pensando na porra da música da Cássia Eller de novo, eu vou te bater. – Disse Polly, tirando-me de meu devaneio.

– Sim, é claro que eu estava. Ele foi idiota.

– Seu celular é alto e consegui ouvir tudo. Vou repetir a pergunta dele: você acha que realmente quer namorar?

– Eu, eu não sei! Ele me pressionou e não me deu opção!

– Qual o seu medo?

– Exatamente o que aconteceu agora. Por que ele acha que eu deveria ficar dando satisfação para ele desse jeito?

– Bom, namorados cuidam Vali. E pra isso é preciso um pouco de controle. Ele queria que o tivesse avisado por simples consideração. E queria que tivesse pedido por respeito.

– Eu não gosto de controle, e para mim confiança basta. Confiança é o que deve se ter acima de tudo. Assim é minha relação com meus pais e assim terá que ser com um homem.

– Fale isso para ele, meu bem. Ele não tem uma bola de cristal.

– Que merda! Tá vendo? É por isso que sempre fugi de relacionamentos.

– Eu sei. Mas um relacionamento seria bom pra você. Você precisa relaxar e aprender a deixar o controle em outras mãos de vez em quando.

– O controle da minha vida não.

– Eu desisto. Se você realmente gostar desse peão, vai aprender aos poucos.

Debaixo do Pôr do SolWhere stories live. Discover now