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Uma vez, eu já ouvi dizer que o amor é uma opção, mas eu não concordo nem um pouco com isso. Se fosse, será mesmo que escolheriamos passar por tantos dramas, medos, intensidades...? Não me entendam mal, não me arrependo nem um pouco de amar Stephanie, mas tem momentos que eu me pergunto se foi bom pra ela ter o meu amor.

- O QUE VOCÊ FEZ?! - Os seguranças seguravam Stephanie que tentava vir em minha direção enfurecida.

A polícia acompanhava os pais dela pra fora do hospital. Sua mãe, antes tão quieta, gritava alto que não tinha feito nada enquanto o padrasto se mantia em silêncio, me olhando de longe enquanto outras pessoas tentavam conter a mulher escandalosa.
Eu tentava ignorar os gritos de Stephanie, com meus braços cruzados em uma tentativa de me esconder não sabendo se tomei a decisão correta, mas tendo seguido meu coração.

- ME SOLTA! PORRA, CECÍLIA! O QUE VOCÊ FEZ? - Ela se debatia, seu cabelo bagunçado e suas lágrimas desciam de maneira agressiva, mas seu olhar não era triste. Ela me encarava de um jeito que eu nunca tinha visto antes. Não era ódio, parecia muito mais profundo e assustador, fazendo o medo se apossar do meu corpo.

A enfermeira chega com uma injeção, os seguranças a seguram e a mulher aplica o líquido nela com cuidado por Stephanie não parar de se mexer. Aos poucos, ela vai relaxando e logo ela desmaia. Eu abaixo a cabeça, não aguentando a culpa.
Sinto alguém tocando meu ombro, eu viro o rosto e vejo Lexi com a expressão mais confusa de todas.

- Oi, seu pai precisou dar uma passada em casa, ele pediu pra avisar que qualquer coisa você pode ligar pra ele - Ela olha a confusão em volta - Cara, o que aconteceu? Eu só fui comprar um lanche. - Ela pergunta, a polícia já havia saído do hospital com os pais de Stephanie e ela estava desacordada nos braços de um segurança que a levava para o quarto. Mas tudo ainda estava tumultuado e algumas viaturas permaneceram no hospital.

- Fui eu. - Eu digo baixo e ela me encara novamente - A Stephanie... - Eu suspiro antes de continuar - O padrasto da Stephanie bate nela, todos os dias pelo jeito e a mãe não faz nada. Ela me disse que depois que ela saísse daqui, seria mil vezes pior por não ter conseguido se matar, Lexi. Eu fiquei com tanto medo de quê algo pior pudesse acontecer com ela, existem tantos casos por aí, eu....então eu denunciei. Por isso toda essa confusão.

Lexi me encara por alguns segundos antes de dizer alguma coisa. Ela balança a cabeça negativamente, coloca as mãos na cabeça e suspira profundamente enquanto fecha os olhos.

- Cecília, o que você fez... - Ela repete e eu consigo escutar os gritos de Stephanie novamente. Eu me afasto de Alexia, e ela me olha percebendo - Você tem noção do que você acabou de fazer? - Ela me pergunta séria.

- Eu não posso perder a Stephanie, Alexia. - Eu digo e ela balança a cabeça negativamente novamente, me segura pelos ombros e me encara ainda séria.

- Eu não perguntei isso, eu perguntei se você tem noção do que você acabou de fazer. - Eu me desvencilho de suas mãos e cruzo os braços, ficando irritada.

- Eu tenho noção do quê eu fiz caralho, eu não sou idiota. Eu sei as consequências que eventualmente vão aparecer, Lexi. Eu sei.

- E mesmo assim você fez? - Ela diz com um sorriso fraco ladino no rosto, me olhando.

Eu fico sem saber o que dizer, ela tira uma mecha do cabelo na frente do rosto suspirando e murmurando alguma coisa que não consigo escutar. Olha em volta antes de voltar seu olhar em minha direção.

- Não quero te chatear, não mesmo, mas você não acha que isso foi longe demais? - Ela pergunta e antes que eu possa responder, ela continua - A Stephanie não vai te perdoar por isso, Cecília. Você sabe disso, não é? Você acabou perdendo ela de qualquer jeito, só deixou tudo mais difícil pra ela. - Sinto um choque pelo meu corpo, ela abre a boca parecendo querer dizer mais algumas coisas mas desiste colocando as mãos na cintura - Eu vou pra casa, Ce. E acho que você também deveria.

Ela me dá um sorriso fraco, antes de ir em direção à porta do hospital. Eu me sento na cadeira da sala de espera, anestesiada por tantas emoções. Alguns minutos se passam, e todo aquele barulho no hospital vai diminuindo, vejo notificações de mensagem do meu pai, as viaturas de polícia já foram embora e eu ainda permaneço aqui.

Mas esperando quem?

Eu me levanto, sentindo a garganta queimar, os olhos arderem, o coração palpitar e a cada segundo ficar mais difícil de respirar, de aguentar. Saio do hospital, olho em volta tentando me manter o mais tranquila possível. Uma lágrima desce sem minha permissão e eu a limpo com raiva, um casal passa por mim e me encaram estranho antes de entrar no hospital e aquilo é a gota d'água.
Eu saio correndo pra longe daquele lugar, as lágrimas descem e durante a corrida eu as limpo com grosseria, sentindo toda aquela raiva crescer e crescer. Porra, o que eu fiz? O que eu fiz?

Minha respiração ardia e eu paro, me apoiando nos meus joelhos, vendo minhas lágrimas caírem no asfalto enquanto alguns carros passam do meu lado. Ainda não tinha clareado, meu celular vibrava no meu bolso, provavelmente o meu pai mas eu não atendo. Eu vou em direção à um banco da calçada em frente a uma loja de brinquedos, me sento e os soluços que até então não tinha percebido que tinham vindo durante a corrida aparecem, as lágrimas não param de descer e eu só sinto vontade de gritar. Eu mordo meus lábios e abaixo a cabeça, subo minhas mãos até meus cabelos e os puxo, desço uma mão e aperto minha blusa na direção do coração e mais um soluço escapa.

- O que eu fiz? - Eu fecho os olhos, os apertando com força - Porra, porra, porra... - Tampo os ouvidos, querendo sumir. Me sentindo o pior lixo do mundo - Por favor meu Deus, se você realmente existe faz essa dor parar. - Eu olho pra cima, minha visão embaçada - Eu não pedi nada disso, por que você então não me ajuda porra?! - Eu grito, me levanto e mais soluços escapam, encaro o céu novamente - Cadê você quando eu preciso?! CADÊ VOCÊ?! - Mais lágrimas descem e aquela agonia cresce, eu sentia meus olhos inchados e o sentimento não passava. Me sento na calçada, encostando minhas costas na parede da loja e cubro o rosto. Solitária.

Com o tempo, eu vou me acalmando e minhas lágrimas vão secando, meus olhos pesam e eu os fecho.
Sem saber quanto tempo ao certo se passou, sinto uma mão me chacoalhar, e uma voz um tanto familiar me chamar. Eu levanto a cabeça, não enxergando direito a silhueta na minha frente no primeiro minuto por estar me acostumando com a luz e os olhos inchados.

- Cecília? O que está fazendo aqui? - Minha visão se acostuma, e eu encaro a mulher na minha frente sem saber como reagir.

- Mãe...?

Eu odeio amar você.Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang