Cap 1- Gabriel

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A primeira semana de aula sempre é um pé no saco. Todos os professores se apresentando novamente (como se os alunos já não estivessem lá a 3 anos), apresentando como calculam média e falam da vida deles como se fosse algo muito interessante. Prometo a todos os meus futuros alunos que jamais vou fazer isso. A Isabela olha pros professores com aquela cara de tédio costumeira dela, espero profundamente que ela levante e saia da sala pra eu poder ir atrás dela. As vezes eu queria ter a coragem da Isa de simplesmente levantar quando algo é chato e desinteressante sem se importar com que os outros vão dizer. Obviamente ela faz isso por causa dos traços do Autismo, mas acho que devia ser uma prática adotado por nós neurotipicos.
Ela solta um suspiro longo, graças ao bom Deus ela vai levantar e sair, lili cantou.
No momento que ela se prepara pra levantar o diretor entra na sala e Isabela senta de novo.
Ótimo, agora o diretor chato veio encher o saco da turma. Eu honestamente odeio esse babaca, desde o primeiro dia que eu comecei a trabalhar aqui ele me tratou mal. Olha pra mim como se eu fosse uma aberração e já escutei de diversos professores que ele fala mal de mim pelas costas. Dizendo que do jeito "viadinho" que eu sou logo logo os alunos vão começar a me imitar e exigir serem tratados com pronome neutro (mesmo sendo não-binário nunca pedi que usassem pronome neutro comigo). Ele é um machista/homofóbico e todos os preconceitos juntos e misturados em uma pessoa só. Não duvido que um dia apareça com a bandeira de Hitler no braço.
Ele entra na sala sem nem pedir licença:
" Bom dia, professora, como está indo a aula?"
" Estamos alinhando como vai funcionar o esquema de notas, diretor, para que no final nao apareça ninguem desavisado implorando por nota"
O velha puxa saco.
" Ótimo, etapa final dos estudos de vocês antes da faculdade espero não ter que ficar empurrando aluno com a barriga. Vim aqui pra apresentar o novo aluno que entrou na nossa escola. Ele veio lá da Inglaterra. Pode ser que se atrapalhe e não entenda nada no começo então vou botar ele aqui na sala já que tem o Gabriel pra auxiliar."
Ótimo mais trabalho pro idiota do Gabriel que tá aqui por R$ 600 reais. Inglaterra? O moleque saiu da Inglaretta pra vir no Brasil estudar? Numa escola pública ainda? Os pais dele tem o que na cabeça? E outra coisa quem disse que eu sei falar inglês? Agora vou ter ficar com o Google Tradutor ligado pra falar com o maluco.
" Pode entrar Ash, você vai sentar ali do lado do MENINO de cabelo comprido e blusa rosa" Homofóbico de merda.
O garoto passa pela porta e puta merda que garoto lindo. Ele é bem mais alto que os meninos da sala, deve ter quase 1,90 de altura e ébem fortinho, deve praticar algum esporte, tem cabelos pretos cortado naquele estilo Bad boy americano e se veste como um também e tem decendencia asiática. Só faltou uma tatuagem no pescoço e um cigarro na boca pra ser o perfeito badboy. Ele sorri pra professora e se apresenta.
" Oi muito prazer eu sou o Ash!" Ele tem um sotaque muito fofo que denuncia que não é brasileiro, principalmente quando ele fala o "R" que fica bem arranhado na garganta.
Ele olha na minha direção e dá um sorriso caloroso mostrando as covinhas e caminha na minha direção. De longe da pra sentir o cheiro de perfume amadeirado e cigarro de menta. Que clichê.
Depois de uns 10 segundos me encarando ele percebe que não tem nenhuma mesa vazia do meu lado.
" Onde eu vou sentar?"
" Pega uma mesa pra ele Gabriel" o diretor fala irritado.
" Vocês vão que que pular uma carreira pra trás e a Bia que tá ali no fundo vai ter que mudar pra fileira do meio"
" Ah que isso Gabs eu não quero sentar longe das minhas amigas!"
Eu lanço um olhar de ódio pra Bia com quem diz "me obedece porque o diretor tá ali na frente"
"Vamo Beatriz levanta e muda de carteira, vamo vê se assim você para de falar e presta mais atenção na aula."
Toma não quis me obedecer.
Os alunos pulam a carteira e Ash senta do meu lado, me manda outro sorriso caloroso e olha pra frente.
" Se comporta em garoto, espero não ter que ver você na minha sala tão cedo."
" Relaxa diretor, não sou do tipo que apronta na escola."
Ele cruza os braços e lança um sorriso sarcástico de canto de boca.
Legal, ele vai aprontar tudo e mais um pouco, e com absoluta certeza a culpa dele não se comportar vai ser minha.
A Isa começa a encarar ele. Desde que eu descobri que o hiperfoco dela é mapear padrões de comportamento nas pessoas já sei que quandk ela encara demais assim é por que está analisando a pessoa pra identificar o que ela vai fazer. Eu acho muito legal isso (principalmente porque ela sempre acerta), mas gostaria muito que ela compartilhasse o que ela descobre. Queria saber o meu padrão de comportamento.
A aula segue normal e a Isa desiste de sair, o aluno novo prendeu a atenção dela. Agora ela não vai sair e eu vou ter que ficar nessa tortura.
" Ash peço que se você não entender alguma palavra pergunte o significado pra não ficar com dúvida" a professora fala pausadamente como se estivesse falando com uma criança.
" Tudo bem, vou perguntar!" Ele responde imitando o jeito pausado dela de falar.
As aulas seguem e Ash não me faz nenhuma pergunta, nem olha pra mim de novo. Até que toca o sinal do intervalo, Isa é a primeira a levantar e sair da sala. A maioria dos intervalos eu não passo com ela, por que como ela mesma diz "precisamos de um tempo pra não surtar um com o outro" eu adoro essa garota.
Ash levanta pega alguma coisa na bolsa e olha pra mim.
" Você poderia me mostrar a escola enquanto estamos no intervalo! Nao gosto de ficar andando por ai sozinho!"
" Tudo bem, só vou passar na sala dos professores antes pegar um café pra mim."
"Okay" Ele fala com sotaque britânico.
Ele anda atrás de mim como uma sombra e para na entrada da sala dos professores quando eu entro.
" Oi Tia Bia!" Ele grita na porta pra professora de português.
" Ash! Meu Deus garoto como você tá gigante, logo logo não tá passando nas portas da escola! Esse aqui é o filho da minha amiga que eu falei pra vocês!"
" Olá, tudo bem?" Ele fala pra todo mundo.
" Eai Ash, como foram as primeiras aulas?"
" Ah foram legais até, pensei que teria uma grande diferença mas, como a minha mãe diz, no fundo todas as escolas são iguais. Agora vou dar uma volta na escola com o Gabriel pra ele me mostrar um pouco daqui."
O meu nome pronunciado naquele sotaque fofo me fez ter um arrepio. Quando olhei pra ele, estava sorrindo calorosamente, como antes.
" Bora da uma volta então, gringo."
" É maldade de minha parte pedir um copinho de café também?"
" Vai lá pegar garoto" Diz a professora Bia de português dando um tapa nas costas dele. Nos pegamos o café e começamos a tour.
" Bem acho que aqui é bem óbvio, temos o barzinho aonde você pode comprar uns doces e refrigerantes e ali no fundo temos a cantina, que é onde é servida a merenda da escola. Você pode olhar o cardápio ali na parede e ver o que tem hoje. Se quiser  comer a merenda já entra na fila que as vezes acaba."
Quando olho pra trás ele esta me encarando.
" Quais são seus pronomes?"
"Que?"
" Percebi que você... se irritou quando diretor te chamou de menino"
"Não me importo com os pronomes que use. Mas sou não-binario."
"Certeza?"
"Sim. E os seus, quais são os seus pronomes?"
"Ele/dele"
Ficamos nos encarando por uns segundos.
"Vai querer comer alguma coisa?"
"Não, estou sem fome. Vamos continuar andando!"
Nos ficamos dando volta nos corredores, eu falando e ele apenas acenando com a cabeça.
"Chegamos ao final da tour, essa é a arquibancada."
"Meio inútil, não? Já que a quadra tá atrás da atrás da arquibancada não na frente."
"Eu nunca tinha parado pra reparar nisso." Realmente ele tava certo, quem foi o arquiteto idiota que desenho isso aqui?
Ele senta no chão da arquibancada.
"Muito obrigado por me mostrar a escola Gabriel! Vou sentar aqui e admirar o lindo telhado da escola!"
Ele pega alguma coisa no bolso de trás da calça, é uma cartela de cigarro. Ele tira um e coloca na boca, casualmente, como se ele não tivesse NA PORRA DA ESCOLA.
"EI GAROTO SE TA LOUCO!"
Ele leva um susto e me olha, já tá com o isqueiro aceso prestes a acender.
"O que foi?" Ele pergunta com o cigarro preso na boca.
"Tá louco fuma dentro da escola moleque?
" Não pode? Na minha antiga escola podia."
Que raio de escola deixa os alunos fumarem dentro? São adolescentes pelo amor de Deus.
Não qie eu não fumasse na minha época de escola e tudo mais. Mas pelo menos eu matava aula pra ir fumar não fazia isso dentro.
" Desculpa eu não sabia" ele da usa risadinha e me lança de novo aquele sorriso caloroso. " Viu como foi importante essa tour, se não fosse por você já estaria na sala do diretor!"
"Vê se não apronta mais nada até o intervalo acabar, senhorzinho. E você não é muito novo pra fumar não, sua mãe sabe que você faz isso?"
" Ela nao sabe, nem a tia Bia, esse vai ser nosso segredinho!"
Ele me da uma piscadinha e sorri sem mostrar os dentes. Eu dou uma risadinha e saio. Esse moleque vai me dar trabalho.

Um amor bipolar Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora