Prólogo

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Eu sabia que o dia me renderia a tragédia e a morte, dava pra ver nas linhas das nuvens escuras que se aglomeravam no céu. Uma tempestade era prometida e ela veio. Eles invadiram quando a noite chegou, cobertos pelo véu da escuridão, portando espadas para enfim cumprir a extinção jurada. Eu sabia que viriam, todos sabiam, apenas torcíamos para ter um dia a mais. No entanto, não foi o que aconteceu, o aviso sonoro de invasão ao acampamento ocorreu no último momento, eram sons de sino badalando.

Embora soldados tenham sido mortos e tendas invadidas, enquanto existisse vida ainda havia esperança. Me levantei, viver fugindo me consumia forças, mas estando fraco ou não, peguei a minha espada e sai da tenda. Soldados corriam, um deles parou na minha frente me prestando saudação.

- Wan Sui Ye.

- O que está acontecendo?

- Invadiram. Eles vieram.

Fiquei pensativo, enquanto acenava com a cabeça em confirmação.

- Entendo. Informe aos comandantes para evacuar os civis.

- Sim, Wan Sui Ye. Embora, devo adicionar, Wan Sui Ye que deve ser escoltado para lugar seguro!

- Besteira, eu lhes darei algum tempo para evacuação. Agora vá, soldado! Vá!

O soldado hesitou, mas acabou obedecendo, ele se afastou ágil.

Avancei na direção dos invasores, meu peito bombeava ódio e fúria pelas minhas veias. Desembainhei a espada, lâmina roxa brilhando num fogo lilás. Eu os destruiria.

Lutei contra eles, os cortando ao meio, corpos se aglomeravam ao chão, formando pequenas elevações. Minha ira era infindável, minhas forças não. Estava cansado e lento, os novos adversários, se aproveitaram. Golpes e mais golpes, cortes e mais cortes. Desabei ao chão, meus joelhos fracos, sangue se esvaindo em cascatas pelos ferimentos, que eram mais profundos do que eu admitiria.

Uma forma branca ondulou, era a minha irmã, a qual lutou contra aqueles malditos, ela era rápida e tão devastadora quanto um trovão. Ela girou sua espada, decepando braços e destacando cabeças, com uma velocidade espantosa.

- Já evacuamos os civis. Hora de ir, gege!

Me apoiei na espada para levantar.

- Isso é bom, meimei.

Outros chegaram, eles me auxiliaram a permanecer de pé. Fui conduzido para trás de uma formação deficitária do que restou de nosso grandioso exército. Agora um punhado de soldados, lutando pelas próprias vidas, com o semblante tão cansado quanto o meu. Estávamos exaustos de viver fugindo.

Meus olhos contemplaram nossos inimigos, peões num grande jogo. Então, encontrei na multidão aqueles olhos obscuros. Aquele que começou a ruína de meu povo, estava ali assistindo a destruição com um sorriso largo no rosto.

- Eu vou matá-lo. - prometi num sussurro.

Em algum momento, minha consciência me deixou, quando voltei a acordar, meu corpo dolorido e fraco, mal se movia. Minha irmã chorava, suas mãos apertavam as minhas.

- As feridas não estão fechando!

Eu sabia o que aquilo simbolizava, meu corpo entraria em coma até estar completamente recuperado.

- Traga a semente.

- Gege?

- É o único jeito de acelerar a minha cura, meimei.

- Se fizer isso, pode diminuir sua estimativa de vida!

- Não posso me dar ao luxo de hibernar por mil anos! Não quando meu povo precisa de mim! Agora me escute, tenho uns mapas no baú, existe um lugar seguro, leve nosso povo. Os proteja e se mantenha segura, não faça nenhuma besteira. Eu estarei de volta em breve. Pode fazer isso?

Ela soluçava, mas acenou com a cabeça em confirmação. Minha irmã se virou e se levantou, pegou o pote de porcelana e o abriu, o aproximou de mim. Havia uma única semente em seu interior. Com dificuldade ergui a mão e a peguei. Encarei sua casca amarela, e naquele momento não desconfiei sobre o que tal decisão me traria. Sim, tudo mudaria depois disso. Tudo.

Notas:

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Notas:

Wan Sui Ye: Literalmente o "senhor de dez mil anos", pronome utilizado para se referi ao imperador.

Gege: irmão mais velho.

Meimei: Irmã mais nova.

A Espada que Corta as TrevasWhere stories live. Discover now