Prólogo

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Acordo de sobressalto com um barulho estridente, me acalmo quando percebo que na verdade é apenas o despertador tocando ao som de "Chop Suey!". O que não deveria estar acontecendo, já que são 22:30 e não deve fazer nem uma hora desde que peguei no sono, mas é só olhar pela janela que tudo faz sentido. Na Austrália são 7:30 agora, e se eu ainda estivesse por lá essa seria a hora em que eu começaria a me arrumar para ir à escola. Digo ainda pois não estou mais na Austrália e sim na Inglaterra, mais especificamente em Londres. Aparentemente para meus queridos pais Darel e Aura, um lugar frio, com pessoas distantes é muito mais fácil de viver, e parando para pensar, na verdade combina muito com eles. Não que sejam pais ruins, eles só não demonstram seus sentimentos, ou conversam muito comigo, o que contribui imensamente para minha dificuldade em me abrir com as pessoas, mas não posso culpá-los, ou posso.

Depois de muita luta e muitos vídeos de ASMR (que eu sempre assisto pois me ajudam a pegar no sono), finalmente consigo voltar a dormir, mas após poucas horas meu sono é novamente interrompido, dessa vez sem nenhum motivo aparente. Sabendo que provavelmente não conseguirei dormir novamente após ter acordado duas vezes, simplesmente decido fazer o que faço de melhor: ser impulsiva e imprudente. Resolvo pular minha janela e saio para dar uma volta pela vizinhança, já que desde que cheguei não tive tempo de fazer isso por causa da mudança. Caminho tranquilamente pelas ruas do meu bairro, e não sei se devo sentir medo ou agradecer por não ter nenhuma alma viva perambulando por aí as 3:00 da manhã. Os londrinos costumam dormir lá pelas 23:00, então os únicos motivos para alguém estar na rua agora seriam se a pessoa sofresse de insônia ou estivesse com más intenções.

Paro em uma esquina quando percebo que estou perdida, pois com certeza já passei por essa rua antes. Como a rua seguinte não tem saída só me resta seguir pela direita ou pela esquerda, e é aí que tudo dá errado, pois não lembro qual caminho eu havia seguido quando passei pela primeira vez então decido seguir minha intuição, que me induz a seguir o caminho da esquerda. Não ando nem meio quarteirão quando, assim como nos filmes de terror, as luzes começam a falhar. Sinto um calafrio e começo a me preocupar, pois isso nunca é um bom sinal. Se eu estivesse em um filme esse seria o momento em que apareceria um monstro, uma assombração, ou um serial killer, e como eu não gostaria de estar presente em nenhum dos casos, começo a andar mais rápido. Dou uma olhada para trás só para ter certeza de que não tem nenhum louco me seguindo, e quando olho pra frente de novo vejo uma pessoa andando calmamente em minha direção. Meu coração acelera e minhas pernas dão uma leve falhada. Quase solto um grito tamanho o susto que levo, mas no último segundo consigo me segurar, o que é ótimo já que ao que tudo indica a aparição ainda não me viu. Considero minhas opções, e opto por fazer o que qualquer um faria no meu lugar: Corro. E corro como se estivesse em uma maratona e minha vida dependesse disso (talvez dependesse mesmo). Não que o "ser" parecesse uma pessoa má intencionada, mas temos que concordar que é no mínimo estranho esbarrar em plena "hora morta", em uma rua deserta, com as luzes falhando, com uma pessoa vestida de preto da cabeça aos pés, segurando uma pasta como se a qualquer momento ela fosse criar asas e voar. Então tenho plena certeza que em meu lugar todo mundo faria o mesmo.

Sigo correndo pelo caminho contrário ao que estava indo, sinto uma brisa leve me acariciar passando-me uma sensação de calma, e apesar de até pouco tempo atrás eu estar totalmente perdida, estranhamente consigo encontrar minha casa com facilidade, então entro pelo mesmo lugar que saí, e como nada nunca é fácil pra mim consigo fazer a proeza de tropeçar no fio do abajur, o que faz com que ele caia no chão e produza um barulho ensurdecedor que com certeza deve ter acordado meus pais. Como tenho amor à vida, coloco ele de volta no lugar e finjo que estou dormindo. Quando minha mãe aparece no meu quarto para conferir a fonte do barulho e não encontra nada ela fica por uns minutos na porta, como se estivesse se certificando de que realmente estou dormindo, após se dar por satisfeita volta para seu quarto e eu finalmente consigo dormir, sem interrupções dessa vez. 

Aella: Wind HorseWhere stories live. Discover now