𝕂𝕙𝕒𝕝𝕖𝕖𝕤𝕚
Um dia se passou depois do enterro de Neteyam.
Ele agora estava junto dos ancestrais dos Metkayina.
Esse dia foi longo.
Neytiri estava com os olhos inchados e cansados ainda.
Jake tentava ao máximo não demonstrar tristeza, e Lo'ak...
Desconfio que ele ainda esteja se culpando pelo acontecido.
Não posso tirar essa ideia da cabeça dele, de uma hora para a outra. Ele precisa de tempo para aceitar o que aconteceu e entender que não foi sua culpa.
Enquanto isso, eu tento ao máximo dar apoio a todos eles.
Kiri não chorava em minha frente e nem demonstrava estar tão mal. Não na minha frente. Mas seus olhos também estavam inchados. Acho que ela aceitou o que aconteceu, querendo ou não.
E Tuk... Eu estava tentando dar apoio a ela também.
Ela é apenas uma criança, e estava bem abalada com isso.
- Oi, Khaleesi... -Spider se sentou do meu lado, enquanto eu trançava folhas.
- Oi, Spider.
- Eu... Posso te perguntar uma coisa?
Eu já imaginava o que ele iria perguntar, então dei de ombros.
- Pergunte.
- O que fez com ele?
- Eu já disse que o matei.
- Mas como...
- Eu o cortei. Até que não pudesse mais falar, até que não tivesse mais força. E o deixei afundar na água.
Ele engoliu em seco.
- Minha vez. Por que você quis salvar ele?
- Porque... Ele é meu pai. Eu sei que não devería, e sei que ele é um desgraçado. Que estragou tudo.
- Que matou Neteyam e minha irmã de espírito. E a mãe de um bebê tulkun inocente. -Completei. Ele assentiu.
- Eu sei que ele não merecia. Mas... Eu não consegui o deixar se afogar. Não quería ter esse peso, não quería lembrar que o deixei morrer.
- Ele estragou nossas terras, Spider. Matou nosso povo. Nossos animais. Caçou a família do Lo'ak... Você não podería ter feito isso.
E eu estava lutando contra minha vontade de gritar.
Porque, naquele momento... No momento em que vi ele tentar salvar aquele homem... Aquele avatar. Um avatar podre. Ele não merece ser chamado de Na'vi. Um assassino. O assassino do meu amigo, da minha irmã.
Naquele momento... Eu enxerguei Spider como um traidor.
- Eu sei. Só... Não consegui o deixar lá. Não tenho mais o que falar. Sei que ele fez coisas ruins, sei que matou. Mas não consegui. Desculpa.
(...)
- Tuk! Guerra de cosquinhas! -A ataquei, fazendo cosquinhas em sua barriga. Por um momento, ela parou de chorar e deslanchou a dar risadas.
Limpei suas bochechas molhadas de lágrimas e continuei as cosquinhas.
Dei um momento a ela para se recuperar e respirar, quando Lo'ak entrou na cabana.
- Oi, Lo'ak!
- Oi, Tuk... -Ele forçou um sorriso, olhando para nós duas.
- Aonde você estava?
- Escalei as palmeiras e trouxe belas frutas.
Cortei a fruta em cubos, enquanto ele brincava com Tuk.
Dei um dos cubinhos a ela, para que experimentasse.
- Que docinho! Adorei isso.
Sorri pequeno para Lo'ak, contente pela distração de Tuk. Ela se animava com qualquer coisa.
(...)
- Será que eu posso falar com você?
Revirei os olhos.
- Diga.
- Você está tão irritada assim comigo?
- Estou.
- Por causa do beijo?
- Também.
- Eu pensei que você quería. Foi mal.
- Não, eu não quería. Pensei que éramos amigos.
- Somos amigos.
- Não somos. Você contou tudo ao seu pai! Ser chamada de fêmea intrusa na frente de todos, não é legal, sabia? Foi humilhante, Aonung.
- Eu não sabia que ele iria usar isso para te ofender.
- Mas não devia ter contado.
- Foi mal! Eu já pedi desculpas. E quería dizer que sinto muito por sua irmã.
Suspirei. Pensei por um momento e decidi não discutir mais.
- Tudo bem. Obrigada.
- Ainda somos amigos?
- Eu não sei. Não sei se posso confiar em você.
- Eu sabia que você gostava do Lo'ak. Mesmo assim pensei que pudesse gostar de mim, já que estávamos amigos. Eu não devia ter te beijado. Então, foi mal por isso. E por meu pai ter dito aquelas coisas.
- Tudo bem. Tanto faz, está desculpado.
De qualquer forma, eu não ligo.
Para o que ele faz, para o que pensa, se é meu amigo ou não.
Ele esperou alguns segundos em silêncio, e como eu permaneci quieta, ele deu as costas e foi embora.
(...)
Nos sentamos na barbatana de Payacan.
- Amigo, eu não tive a chance de te dizer isso ainda, mas... Você foi valente na guerra. Contra o povo do céu. Você foi fantástico. -Disse a ele- Obrigada.
Lo'ak conversou um pouco com ele também.
Ele parecia menos triste enquanto falava com Payacan.
O abracei, observando a conversa.
E passamos a tarde assim.
Conversando com Payacan e nadando, isso era algo que animava Lo'ak.
(...)
- Kiri... -A chamei, a fazendo parar de caminhar e me esperar. O sol estava desaparecendo.
- Oi, Kha.
- Olha... Sobre... Sua conexão com Eywa. Você acha que... Consegue fazer alguma coisa?
- Como assim alguma coisa?
- Sobre o Nete...
- Eu pedi ajuda da grande mãe quando descobri que ele morreu. Na minha despedida. No enterro dele... Se ela não fez nada até agora, então acredito que não vá fazer.
- Ela não pode.
- É a grande mãe, Khaleesi.
- Então ela tem que proteger seus filhos! Seu povo! Ela não pode deixar seu guerreiro morto. Uma morte imprópria e injusta assim? Morrer por culpa de um humano idiota? Ele não merece isso.
- Eu já tentei, Kha... Juro que tentei. Mas ela não atendeu meu pedido. Mas... Você também tem essa conexão.
- Não tanto quanto você.
- Mas tem.
- Eu também tentei. Antes mesmo dele morrer. Antes de seu último suspiro, eu estava ajoelhada, implorando por misericórdia. E ela não me ouviu.
Eu sei que não devería.
É a grande mãe.
A grande deusa.
Eywa.
Mas não aceito isso.
Estou irritada por ela tê-lo deixado morrer.
Muito irritada, desacreditada.
- Então, talvez isso esteja nos planos dela.
- E se tentarmos juntas?
- Eu não sei, Khaleesi... Não podemos confrontar Eywa.
- Não vamos confrontar. Vamos apenas pedir. Pedir ajuda. É seu irmão, meu amigo. E ele não merece a morte que teve.
Ela considerou a ideia por alguns segundos.
- Você pode me ajudar? Tentar. Vamos fazer isso?
- Posso. Nós vamos. Depois que todos dormirem.
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Gente, talvez esse seja o penúltimo capítulo! TALVEZ
Se quiserem, podem dizer cenas que querem que apareçam nessa fanfic, eu posso usar algumas das ideias.
