Capítulo 1

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Olha que coisa mais linda,
mais cheia de graça
É ela, menina,
que vem e que passa
Garota de Ipanema, Tom Jobim

Olha que coisa mais linda,mais cheia de graçaÉ ela, menina,que vem e que passaGarota de Ipanema, Tom Jobim

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A culpa era dele.

Afinal, era muito difícil comer um sonho de padaria sem deixar cair uma parte do recheio. Se mordesse de um lado, por mais habilidosa que fosse, o corte de um lado ao outro se abriria e deixaria parte daquela maravilha de doce de leite transbordar. O padeiro era generoso, então ou sujava a mão ou deixava que o recheio escapasse. Não era culpa dela que, quando escapava, o doce de leite sujava sua roupa.

Além disso, era natural que uma mãe dedicada e cuidadosa retirasse da bolsa da filha a blusa reserva para lavar. Toda mãe gosta de ver a filha bonita e cheirosa, não era um crime.

O problema não era ela ser desastrada ou sua mãe mexer em suas coisas sem avisar. Era ele.

Aquele homem de 1,90 m parado em frente à porta do imóvel de dois andares e enormes janelas de vidro é que era o responsável por todo o desastre. Se não fosse ele e sua mania de cores claras, nada que aconteceu com Sara naquela manhã seria um transtorno.

Qual era o problema de uma jovem recepcionista usar uma camisa marrom? Teria sido possível disfarçar o quão desastrada era. Porém, por causa da regra que ele conseguira impor no consultório (e daí que a regra já existia antes de ela chegar?), ela precisava ir trabalhar com uma camisa bege clara, que evidenciava o erro de sua escolha para o café da manhã.

Sara respirou fundo e avançou em sua caminhada, embora ainda não estivesse preparada para o confronto que viria quando ele a visse. Mas não tinha muito jeito, já que precisava abrir a porta e começar a trabalhar.

Tentou andar apressadamente, mas com passos leves para que ele só percebesse que tinha chegado quando estivesse de frente para a porta, com a chave na fechadura, mas foi em vão (por que escolhera trabalhar de salto mesmo?).

Olhos castanhos quase tão escuros quanto os cabelos percorreram o corpo de Sara da cabeça aos pés, voltando e concentrando-se na mancha de doce de leite acima dos seios pequenos levantados com a ajuda do sutiã de aro.

— Bom dia — ela cumprimentou, não tinha jeito de se livrar mesmo.

— Não sabe comer como uma adulta? — ele perguntou, ignorando seu cumprimento e fazendo Sara ficar vermelha tanto de vergonha como de raiva.

— Se o seu padeiro não sabe rechear um sonho, o problema é seu — ela respondeu enquanto se virava para abrir a clínica.

— O que o padeiro tem a ver com você não usar um guardanapo?

— Eu usei um guardanapo, só que tinha muito recheio e acabou caindo.

— Estava atrasada de novo? — Ele entrou logo depois dela, seguindo-a até a sala dos funcionários, onde os armários para guardar suas coisas estavam estratégica e lamentavelmente um ao lado do outro.

White - Série Clube Mask 1Onde histórias criam vida. Descubra agora