PARIS VERMELHA

7º CAPÍTULO - A CAMPANHA

— Tenho certeza! Nada impedirá minha eleição se fizermos uma campanha bem programada.

Depois que Gerald Champoudry se retira, Hosana vai até a sala de Geraldo Bastos.

— Gostei dele — afirma ela. — É homem sincero. Realmente preocupado com o futuro do novo estado e do Brasil. Penso que, eleito, se tornará excelente governador.

Geraldo Bastos, com expressão intranquila:

— Não vislumbro campanha fácil.

Ela fica assustada.

— É mesmo? Por que não? Qual sua percepção para dizer isso?

Bastos continua:

— Não sei. Há alguma coisa acontecendo, que não consigo explicar. Viu Champoudry em inúmeros cartazes e também na televisão sendo entrevistado?

— Vi, sim.

— Acontece que isso cessou, de repente.

— Não entendo. Parou por quê?

— Ninguém fala às claras, mas há incontáveis boatos muito estranhos a respeito. Um dos vestígios é de que alguém que apoiava Champoudry, entrando com todo o dinheiro para sua campanha, por algum motivo se afastou, de repente.

— No meio de uma campanha em que ele está na frente? Não faz sentido, Bastos.

— Por isso minha desconfiança.

— Por que acha que ele nos procurou?

— Champoudry quer ser eleito. Suponho ser homem ambicioso. Pretende dar sua contribuição à política. Pediu para prepararmos uma campanha que não lhe custe muito dinheiro. Ele não está em condições de comprar tempo na televisão ou pagar propaganda na imprensa escrita ou falada. Seu tempo gratuito na TV, concedido pelo TRE, é ínfimo. O que podemos fazer por ele agora é conseguir entrevistas, distribuir notícias para a mídia, essas coisas. — Bastos faz uma pausa, balança a cabeça. — O outro candidato a governador, Adilson Guedes, está gastando uma fortuna na campanha. E Champoudry sofreu queda considerável nas pesquisas das últimas duas semanas. É pena. Ele é bom advogado, empresário do ramo da perfumaria, mas o patrimônio dele iria se exaurir, se continuasse naquele ritmo. Conseguira um patrocinador, mas que agora se afastou. Estou convencido de que ele seria um bom governador, porém vamos ver como caminha.

Gerald Champoudry é o primeiro grande desafio que Hosana tem na agência.

Duas semanas depois de ele procurá-los, Bastos sugere a Hosana abandonar a conta, já que ele não pode pagar os honorários normais da agência. Hosana o persuade a continuar com a conta, dizendo:

— Encare como serviço de utilidade pública.

Bastos a estuda em silêncio, por um momento.

— Está bem.

***

Hosana e Gerald Champoudry estão sentados num banco no Parque do Carmo, na região leste da capital de São Paulo, onde localizados o Museu do Meio Ambiente, um anfiteatro natural e ciclovia. Há 34 anos recebe a "Festa das Cerejeiras", tradicional em Itaquera, que comemora o florir da árvore japonesa. O "Bosque das Cerejeiras" se tornou a marca da comunidade nipônica que vive na região. É num dia após a festa, que eles sentam ali para conversar e admirar as flores.

— Detesto política — afirma Gerald.

Hosana fica surpresa.

— Então por que se meteu nisso?