Capítulo 21

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03 de Julho - Domingo


Acordei acabada no dia seguinte. Meu corpo todo doía e meu quarto parecia um freezer. Eu percebi que tinha dormido e esquecido de ligar o aquecedor. O meu celular não parava de tocar e eu só levantei da cama para atender porque sabia que era Camila. Ela me ligou para confirmar a hora que eu estaria na casa dela. Tínhamos marcado para encontrar com o tio dela pela manhã mas eu tinha perdido toda a vontade de saber sobre qualquer coisa que envolvesse Mikael. Pedi mil perdões e perguntei se poderia deixar para a tarde. Eu não tinha qualquer condição de falar com ninguém àquela hora da manhã. Fiquei na cama o máximo que eu podia, me sentindo miserável e com raiva de mim mesma.

Como eu não tinha percebido o quanto eu fazia mal a ele? Eu nunca tinha visto, em toda a minha vida, alguém tão transtornado como Mikael ficou ontem. E saber que todo aquele mal-estar foi porque ele me beijou, me fez sentir uma porcaria. Minha autoestima tinha ido pro ralo.

Meu pai entrou no meu quarto para ver se eu já estava acordada e me encontrou sentada na cadeira olhando pela janela para o dia cinza e apagado. Praticamente como eu. Ele notou imediatamente meu abatimento. Eu disfarcei o melhor que pude. Disse que tinha tido outro pesadelo e como isso não acontecia há um bom tempo eu tinha ficado um pouco abalada, mas já estava melhor.

- Tem certeza de que está bem, minha filha?

- Tenho sim, pai...

- Bom... então desça para tomar café. Eu vou aproveitar que a chuva melhorou e vou dar um pulinho na sede para ver os estragos, mas volto antes do almoço. Sua mãe está lá embaixo te esperando.

Eu desci completamente desanimada. Minha mãe também notou meu desânimo e eu dei a mesma desculpa esfarrapada que tinha dado ao meu pai. Ele nos beijou e saiu. Eu achei que enganava minha mãe tão facilmente quanto enganava meu pai e, obviamente, quebrei a cara. Mal ficamos sozinhas e ela disparou.

- O que foi que aconteceu entre você e Mikael, minha filha?

Eu perdi o ar e a cor.

- Eu... como... não aconteceu nada...

- Filha... você sabe que pode confiar em mim, não sabe?

- Sei, mãe, mas...

- E você já sabe também que não consegue me esconder nada, não sabe?

Puxa vida... ia ser difícil.

- Vamos lá. Desembucha. Essa cara sua não tem nada a ver com pesadelos. Eu conheço uma decepção amorosa quando vejo uma.

- Mãe... eu... eu gosto... quer dizer... eu acho que estou apaixonada por... por ele...

- Por Mikael?

- Sim.

- Já disse isso em voz alta pra você mesma?

- Não... mas acho que disse algo semelhante pra ele ontem.

- Quando vocês estavam discutindo?

- Você ouviu?

Meu coração parou de bater!

- Não tudo... mas deu pra perceber os ânimos exaltados. Não sei como seu pai não ouviu nada...

- O que mais você ouviu, mãe?

Minha vergonha estava atingindo o espaço. Meu Deus, será que minha mãe tinha ouvido tudo o que eu disse... tudo o que eu fiz?

- Não se preocupe minha filha... eu não ouvi a conversa de vocês. O que presumi, foi devido à cara de Mikael ontem. Ele estava arrasado quando saiu daqui... novamente não sei como seu pai não notou nada... às vezes, a cegueira masculina me espanta! E hoje eu tive a confirmação quando te vi. Não quero que você me conte nada se não se sentir à vontade. Eu quero é que você saiba que eu estou aqui pra você. Para o que você precisar!

O inferno de BeatrizDove le storie prendono vita. Scoprilo ora