00 - antecedente a apresentação real

17 1 0
                                    

Os meus passos me levaram até o jardim real do castelo vestindo um traje de dormir branco e básico. A brisa do fim do dia sussurrava a beleza dos arbustos úmidos, trazendo consigo o aroma das flores e ervas aromáticas do outono. Precisava de uma pausa da agitação que tomava conta do reino e, possivelmente, de todo Eldrid, a respeito do evento que minha família estava tão ansiosa para consagrar. Caminhei pelos caminhos de pedra do jardim iluminado, admirando a natureza à minha volta mesmo com a cabeça aflita pelas minhas inseguranças. As luzes brilhantes dos lampiões se refletiam nas águas calmas da fonte central, criando uma sensação de tranquilidade e harmonia que meu coração sentia falta, mas não queria admitir. As luzes que preenchiam a fonte davam um brilho característico para a água dela quando se mexia.

O jardim florescia com a profusão de cores e formas, uma obra-prima da natureza. Cravos vermelhos, rosas rosadas e lírios dourados se misturavam com hera verde-escura e grama macia. Maciços de flores seguiam os caminhos de pedra, criando um caminho sinuoso até o coração do jardim. Parei diante de uma hortênsia, admirando sua forma perfeita e o tom azul-escuro de suas pétalas. A beleza da natureza sempre me trazia uma sensação de paz e conforto, e me perguntava se essa seria a única beleza capaz de destoar das calamidades da vida moderna. Continuei caminhando em volta do cenário, desfrutando da calma do jardim e tentando aliviar a tensão no estômago. A apresentação oficial como membro da realeza estava chegando e, claro, eu sabia que as responsabilidades seriam ainda maiores. Mas por mais que tentasse, não conseguia me livrar da sensação de insegurança que me acompanhava.

De alguma maneira, minha família parecia cada vez mais alegre em me ver crescer e entender que, com a minha idade, viria aquele diálogo clássico de que eu precisaria amadurecer. Eu já desconfiava disso, afinal, nenhum elfo da minha classe havia recebido um preparo tão rigoroso quanto aulas de etiqueta, defesa bélica, saúde e capacidades além do que outras pessoas poderiam alcançar com suas capacidades financeiras. Por um lado, eu me sentia feliz por poder entender melhor as coisas ao meu redor e obter conhecimento. Mas, ao encarar a água daquela vez e semicerrar os olhos para meus cabelos loiros bagunçados, o aperto no estômago me trouxe uma sensação que me disse outra coisa. Eu me pergunto: estou mesmo preparado?

O reino - a cidade - vinha enfrentando mudanças bruscas agora que minha mãe partira de viagem. Um reino sem sua rainha parecia cada vez mais desmoronar; vivíamos em uma sociedade matriarcal, e embora meu padrasto soubesse o que estava fazendo, eu gostaria de poder ter mais fé nele além da pouca que ainda restava. Os mantimentos estavam acabando mais rapidamente no reino, as pessoas passavam mais fome, a infraestrutura e a arquitetura típica mágica e colorida começava a mostrar falhas e a única pessoa que poderia recorrer a isso estava ausente.

Bem, pelo menos até ver a rainha, minha mãe, na cerimônia no dia de amanhã, mais um motivo para me preocupar sobre a seriedade da situação.

"Príncipe Lyrian!" Ouvi Aria me chamar de longe. Seu tom parecia um pouco mais pesado do que o habitual. Quando ela chegou perto, pude admirar sua elegância, vestia um traje feminino típico do reino: um vestido rosa brilhante adornado com lacinhos e rendas que dançavam ao vento à medida que ela se movimentava. Eu admiro a forma como minha mãe governa e exalta a beleza feminina, sem cair na vulgaridade. Ela usava três piercings em suas orelhas pontudas, que brilhavam dourado entre as folhas e flores da noite. Eu não pude deixar de sorrir, eram novos.

"Tudo bem, Aria?" Perguntei, com um sorriso tímido. "Desculpe se deixei o meu quarto sem avisar. Às vezes, precisamos de um pouco de ar, você entende."

Aria franziu a testa, preocupada. "Na verdade, eu estava preocupada com você, meu príncipe. Conheço-o bem o suficiente para saber que você viria para cá. É tão bonito à noite, e sempre soube que você é mais atraído pela natureza do que o resto da família real. É o único que sempre vejo rodeado por ela. Devem acreditar menos no estereótipo de que todo elfo ama a natureza, não é?"

Sorri, concordando. "Sim, é verdade, mas agora que minha mãe está viajando para Elinord para resolver um acordo de paz entre nossos reinos e com a cerimônia logo chegando, não posso evitar a ansiedade, ela está tomando conta de mim... Você lembra daquela carta, não lembra, Aria? Eu a achei hoje entre minhas coisas e..." Parei, engolindo em seco, sentindo o ar faltar por alguns segundos.. "Eu... eu não consigo deixar de me perguntar o que ela significa."

Ela tentou conter um sorriso de desaprovação ao ver minha reação, mas sabia que, por causa de minha posição, não poderia expressá-lo de forma aberta. "Você não pode responder, nem pense em ler isso novamente!", ela sussurrou, se aproximando tanto quanto o protocolo permitia. "Você não se lembra do quanto sofreu com isso antes? Céus, meu príncipe, esse é um elfo noturno, um caso perdido!" Sua voz baixou ainda mais ao me lembrar das leis que governavam nossa sociedade. "E, além do mais, ele é um elfo noturno. Você se lembra das leis? O que aconteceria com sua mãe, e o papel que você desempenha para todos, se soubessem que você está se relacionando com alguém de um gênero e classe inferior?"

Eu respirei fundo e soltei um longo suspiro, sabendo muito bem que a união afetuosa entre indivíduos do mesmo gênero era uma proibição severa na nossa sociedade rígida. No entanto, naquele momento, a lembrança dos riscos foi uma mensagem bem-vinda. Eu não poderia correr o risco de agir imprudentemente tão perto da cerimônia, eu sabia muito bem das consequências. Sentei-me na beirada da fonte, em um silêncio pensativo, talvez ainda estivesse abalado com o fato de ter recebido a carta de um elfo noturno, que declarou sua atração por mim. Uma sensação estranha, quente e perigosa, pairava em minha mente, imaginar o que poderia acontecer se eu cedesse a esse desejo. Mas eu resisti a essas ideias, mantive o bom senso e me virei para Aria. "Bem, vou pensar nisso com mais cuidado depois, sim? E você, o que está acontecendo com o reino agora que o meu padrasto está governando? Há algum rumor que você queira compartilhar comigo?" perguntei com um tom curioso.

Aria se esforçou para responder minha pergunta, mas os passos que se aproximavam pelo caminho de pedra florido eram mais rápidos e pesados, denunciando ser os guardas pelo barulho de suas armaduras no chão e ao colidir uns com os outros. Eles nos abordaram como se a vida deles dependesse disso, eu senti o incômodo em meu rosto, eu me levantei imediatamente, sabendo que algo estava errado. Por que interromper algo tão importante, a não ser que fosse realmente importante? Eles demoraram para conseguir se expressar, mas finalmente disseram diretamente aos nossos ouvidos: "Meu príncipe, o Conselho dos Anciãos está convocando você. Perdoe-nos por interrompê-lo, sua mãe retornou mais cedo da viagem e precisa vê-lo para discutir assuntos do reino. Ela disse ser questão de vida ou morte."

Eu tremia ao ouvir as palavras dos guardas. Olhei para Aria, perplexo, sem saber ao certo o que pensar. Porém, não havia tempo para pensar. Eu sabia que precisava agir. Sem dizer mais nada, segui os guardas, com Aria ao meu lado. Era impossível não imaginar se minha mãe estaria sendo dramática ou se realmente havia algo de muito grave acontecendo. Mas, por enquanto, eu precisava me concentrar em descobrir o que estava acontecendo e deixar aquelas frustrações e inseguranças sobre a carta apenas para as conversas no jardim.

Eu queria acreditar que poderia apenas ignorar isso, a carta, e esse mistério por trás dela. Juro que queria.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 03, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Eldrid: o caminho da luz (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora