Capítulo 5 - (A)mar

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Rio de Janeiro, Março de 2049.

Os braços fortes estavam cruzados em cima do peito, suas costas estavam grudadas na parede e tinha a cabeça baixa. Seus olhos volta e meia se tornavam molhados, seu coração volta e meia entrava em pane e sua mente volta e meia, desaparecia.

As órbitas verdes encaravam o chão do hospital e sinceramente, não fazia ideia de quanto tempo estava ali. Apenas foi tirado dos seus devaneios pela mulher que parou em sua frente e carinhosamente segurou suas bochechas.

"Pronto?"

Soltou a respiração que nem percebera estar presa e descruzou os braços, deixando que seus ombros caíssem.

"Eu nunca estou, você sabe."

"Eu sei. Eu também nunca estou." A garota então se aproximou deixando um beijo sobre sua bochecha e entrelaçou seus dedos. "Vamos."

Os dois juntos caminharam até o quarto que sempre entravam todos os dias no mesmo horário. E logo os olhos capturam a imagem da mulher sob a cama e enquanto a outra segurava sua mão e lia algo.

"Ei." Chamou.

"Oi, querida. Entre." Com o convite, os dois entraram.

Logo a mulher que antes lia, deixou as folhas sobre a mesa e se aproximou dos dois. Durante todo aquele processo, os olhos castanhos observava tudo atentamente, tentando ao menos se localizar e entender o que acontecia.

"Ela quer que você cante."

São Paulo, 2022.

Em todos os seus anos de profissão, Thelma já havia atendido centenas de pacientes que eram extremamente diferentes. Cada um tinha seu jeito, sua personalidade e sua dor. Mas ela nunca havia encontrado alguém como Bianca.

O seu jeito era um pouco complexo ou estava se tornando complexo, não conseguia de uma forma muito fácil uma aproximação ou uma intimidade para avançar em assuntos delicados. A carioca parecia ter uma barreira invisível que a terapeuta não conseguia quebrar.

Aquela barreira só era rompida ao falar sobre Rafaella ou Cadu, era como se o mundo se tornasse cor de rosa. Bianca sorria e falava, falava, falava e poderia falar sobre aqueles dois por horas, dias, meses e talvez anos.

Mas fora daquele assunto, nada. Não obteve nada.

"Como está as coisas com a sua mãe e irmã?"

"Elas parecem estar se acostumando, eu acho." Bianca deu de ombros brincando com a manga da blusa. "As vezes a minha mãe me abraça e chora, mas acho que é o processo."

"Cada um tem a sua forma de lidar, Bia. E como está Íris?"

"A Íris tá meio distante, depois que eu contei, ela tenta fingir que tá tudo bem, mas acho que não caiu a ficha pra ela ainda."

"É compreensivel, ela é nova e tem em você todo o exemplo de irmã mais velha, Íris se inspira em você. É como se você fosse uma super humana, pra ela, tu é imbatível. Mas agora ela tá vendo que estava errada e que você pode cair."

"É..." A carioca murmurou desviando o olhar para a janela.

"Você ainda não contou pro resto da sua família, certo? Seu padrasto, seus sogros, irmão e cunhado. O pessoal que trabalha com você? Nada?"

Bianca somente negou com a cabeça e suspirou, passou as mãos sobre as coxas sentindo o tecido jeans da calça e se levantou caminhando até o parapeito da janela.

"Eu tenho medo da água, sabia?"

"Tem algum motivo?" Thelma questionou Bianca largando o caderno de anotações e dando sua total atenção para a carioca.

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