"Fale alguma coisa!"-Digo quebrando o silêncio que me engole junto com a água.

Nada! Nem uma palavra.

Quando ele terminou de me lavar eu o vi se levantar e pegar uma toalha. Com suas mãos fortes ele segura meu braço e me levanta, minhas pernas tremem e eu quase caio mas ele me segura me envolvendo no pano.

"Aaron!"-O chamei outra vez grudando minhas mãos em seu peito.

Seus olhos caem sobre mim, o brilho sumiu, mais ainda assim continuam verdes.

Suspiro quando sou erguida do chão outra vez e segundos depois estou sobre a cama. Ele puxa a toalha e enfia por minha cabeça um moletom que me cobre por inteira.

Quando ele ameaça se afastar eu grudo minhas unhas em seu braço chamando sua atenção para mim.

"Fale comigo, alguma coisa...por favor!-"Eu peço outra vez-"Você me deve isso"

"Durma!"-Ele diz.

Então abre a gaveta e tira um remédio de dentro dela, junto com o copo de água que estava em cima da cômoda, ele me entrega.

"É para dor!"-Ele diz e então se vira e sai.

Quando eu finalmente acordei a luz queimou meus olhos sensíveis, um gemido saiu de mim quando eu me levantei sentindo minhas entranhas doloridas.

Olhei em volta e percebi que ainda estava no quarto da cabana. Em passos lentos eu fui até o banheiro, em cima da pia tinha um sabonete de rosto e uma escova com pasta de dente.

Lavei meus rosto e escovei meus dentes, depois que sai do banheiro abracei o moletom e me olhei no enorme espelho que tinha ali no centro. Levei minha mão até minha boca quando vi as marcas nas minhas pernas, tinham um tom forte de violeta com pontos esverdeados. Quando ergui a roupa as marcas continuaram por minha barriga e braços.

Quando eu voltar, com certeza irei a um psiquiatra, preciso saber o que tem de errado comigo. Porque mesmo vendo essas marcas eu não sinto remorso, eu não sinto medo ou qualquer coisa do tipo. A garota inocente e delicada que todos conhecem, gosta de um sadismo puro.

Que vergonha!-Eu grito na minha cabeça.

Desci as escadas em passos lentos e meu estômago revirou de fome quando me aproximei da cozinha e senti o cheiro de café fresco e ovos.

Quando parei na porta Aaron estava de costas pra mim mexendo nas panelas, eu me proximei devagar e tinha uma xícara com café dentro e do lado um remédio.

"O que é isso?"-Pergunto apontando para a pílula

"Tome, é uma pílula do dia seguinte."-Ele responde sem se virar.

Certo, eu tinha me esquecido que ele não usou camisinha e eu não tomo nada. Então enfiei a pílula na boca e engoli junto com o café morno.

Puxei o banquinho que tinha ao meu lado e com um gemido baixo eu me sentei. Meus olhos continuaram vagando sobre seus ombros rígidos e tensos. Ele está se culpando pelo o que aconteceu? Ele sente algum tipo de remorso?

Eu deveria dizer que por mais doente que aquilo tivesse sido, eu gostei?

"O que você está fazendo?"-Eu pergunto tentando quebrar novamente o silêncio.

Sem nenhuma resposta ele apenas se vira e coloca os ovos mexidos com bacon em meu prato, com uma colher ele aproxima de mim.

"Coma!"-Ele diz com seu tom sério.

"Aaron!"-Seguro seu braço e pela primeira vez ele me encara -"Me diga alguma coisa"

"O que você quer que eu diga?"-Ele pergunta sem tirar os olhos de mim.

Devil's childrenWhere stories live. Discover now