assim que entrou no cômodo, ligou a torneira e lavou o rosto, a água gelada ajudou a expulsar a sonolência. as memórias da noite passada eram vívidas na sua mente, o treinador tinha lhes dado um dia livre de treino ou jogos graças ao bom resultado na partida então o brasileiro propôs uma noite de drinks e pizza barata para comemorar a sua boa performance, ele até comprou soju e alguns lanches coreanos na lojinha do bairro, colocou um filme de heróis que tinha disponível e decidiram dormir na sala mesmo.

richarlison era alguém que preferia o conforto do lar a baladas ou saídas desnecessárias, foi o que ele tinha lhe contado depois do quinto copo de soju. foi um discurso longo e enfático que rendeu a heung-min um misto de gargalhadas e profunda empatia, ele até aprendeu uma palavra em português: caseiro, alguém que gostava de ficar em casa.

se lhe perguntassem do filme não saberia dizer nem qual era o nome do protagonista, totalmente hipnotizado com a imagem de um richarlison livre de inibições, com um moletom de esportes folgado demais caindo pelo seu ombro expondo as tatuagens de desenho e a do coração com a bandeira do brasil no peito. talvez devesse um dia dizer para ele começar a usar roupas que eram do seu tamanho e evitar causar tantos problemas para o pobre coração fraco de heung-min.

no fim, havia sido uma das noites mais divertidas que já passou com outra pessoa. quem via sua constante expressão séria em ambientes públicos não imaginaria o quão adoravelmente irritante o brasileiro era quando livre dos olhares de estranhos. ele até tocou o pandeiro para son, a música de um tal pagode de fundo para acompanhar - o que ele não estava conseguindo se a forma que era descoordenado com o ritmo original fosse um indicativo. não sabia a última vez que tinha soltado tantas gargalhadas num espaço de tempo tão curto.

saiu do banheiro depois de pegar um comprimido pra dor que o brasileiro havia comentado e foi até a cozinha pegar um copo de água, assim que engoliu só torceu para que fizesse efeito o mais rápido possível. o café da manhã era cereal e leite, o brasileiro comentou que acordou sem disposição para cozinhar, mas pelo menos tinha colocado as coisas na mesa e aquilo deveria contar para algo.

"ei, sonny," richarlison chamou sua atenção do celular assim que engoliu uma porção de cereais coloridos. fez um som para o incentivar a continuar, mas ele parecia hesitar por uns segundos. "eu, hm... só queria saber como você está se adaptando no time."

o que? aquilo tinha saído do nada. encarou o brasileiro brincar com a tigela de cereal por um tempo antes de começar a formular uma resposta. será que ele tinha notado a forma que os outros jogadores ainda o estranhavam? quer dizer, aquilo era normal até, uma pessoa nova chegou do nada no seu time, sequer era da mesma universidade para ter algum senso de irmandade. era desconfortável, claro, mas não uma surpresa.

"está tudo bem," bloqueou o celular e assentiu com a cabeça, medindo com cuidado as palavras, não queria soar irritado com os colegas de time e muito menos passar uma impressão errada para richarlison que obviamente estava se esforçando para ajudá-lo a se integrar desde que chegou. "acho que com os treinos e o tempo nós vamos nos dar melhor. eu entrei faz poucos meses, então... essas coisas levam tempo, sabe?" deu de ombros e enfiou uma colherada de cereal na boca para se impedir de falar alguma besteira acidentalmente.

"sei..." por algum motivo ele não parecia convencido, mas também não insistiu mais e na primeira notificação que recebeu no seu celular ele o desbloqueou.

o assunto estava encerrado entre eles, mas com certeza não na cabeça de heung-min.

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o dia da folga deles estava sendo no mínimo improdutivo, para não dizer preguiçoso.

herói por acidente ⧗ 2sonWhere stories live. Discover now