2°| O Luzente é uma desilusão

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Descobri que o nome do Luzente é Parius. Quando eu li sobre eles, os grandes portadores da sabedoria, imaginei-os de tudo quanto é forma, mas o homem conversando relaxadamente com Brand é uma desilusão. Até mesmo Brand parecia tensa com o jeito largado dele... Embora, parte dessa tensão esteja voltada pra mim, pra se certificar de que eu não explodirei em neve como aconteceu na minha primeira janta aqui. Mesmo se eu querer, meus poderes no máximo irão fazer cócegas. Mas Brand não precisa saber disso.

_ Quando chega a sobremesa? - pergunta ele se afundando na cadeira e passando a mão em cima da barriga estufada. Seu terceiro prato ainda tem metade da comida. Eu e Diana seguramos o riso quando faíscas sobem nos cabelos ruivos de Brand.

_ Logo. - responde entre dentes. Ela faz um sinal com a mão e uma mulher aparece na nuvem de fumaça, usa a mesma roupa e máscara que Eyra e Lia. Ela começa a retirar a mesa e substitui os pratos salgados pelos doces. Parius se agarra ao seu prato de carne e não permite que ela o leve - Espero que esteja gostando do almoço.

_ Com tantos anos de vivência, a comida perde um pouco de sabor. Mas tudo aqui tem um gosto de defumado muito forte. - comenta enfático. Eu concordo com ele. Mas minha boca saliva apenas de pensar nos doces. Tortas e tortas açucaradas viajam em minha mente quando Parius vira a cabeça para o lado e encara Diana, que se mexe desconfortável na cadeira - Você está bem longe de casa.

Não é uma pergunta e soa como um aviso. Diana engole em seco.

_ Essa é minha casa. - responde com a voz baixa. Brand solta um ar de aprovação, quase que alívio. Até mesmo um sorriso parece querer se formar em seus lábios.

_ Interessante...

_ Como é Hellige? - eu disparo, tentando manter minhas expectativas baixas para não sofrer com a desilusão que tive ao ver que o Luzente na minha frente não é um ser brilhoso, alto e educado.

_ Só indo lá para descobrir. - ele me dá uma piscadela. Cruzo os braços, insatisfeita.

_ Eu acho que isso nunca vai acontecer então... - resmungo, alto o suficiente para Brand escutar.

_ Nunca é uma palavra muito forte, Lor Anihí. - contrapõe ele, perfurando sua carne com o garfo.

_ É Elle.

_ Não, não é! - balbucia impaciente - Seis meses desde que descobriu sobre suas origens e, mesmo assim, escolhe negá-las. Ainda tem esperança de voltar pra Califórnia? Sinto muito em dizer, mas destruíria aquele país quente e convidativo. Não sobraria uma ponta de calor ou felicidade, porque aquele mundo não pode suportar o poder dentro de você. E desconfio que nem esse.

Silêncio reina. Diana encara a comida mal tocada no prato, Parius engole seu último pedaço de carne e Brand me olha com furor. A temperatura no salão aumenta e as cortinas cor de rubi se enchem de fogo vermelho raivoso, as flores dos vasos se transformam em cinzas. Com todo o fogo ao redor, não noto que algo mais queima até que eu sinta minha pele arder. Labaredas dançam em cima do tecido brilhoso do meu vestido. Eu me levanto desesperada e tento fazer o gelo emanar de mim, acabando com todo e qualquer vestígio de calor, mas não me surpreendo quando falho miseravelmente. Minha pele queima novamente, dessa vez a dor é maior, mais alucinante. Com um último esforço, uma última tentativa, o frio pulsa em minhas mãos e neve me cobre por completo, virando água antes mesmo que toque o chão. Não encaro, enfrento ou desafio Brand, apenas me limito a olhar o chão com o corpo rígido, as queimaduras conflagrando. Eu já havia presenciado e vivido acessos de raiva parecidos quando estava com Catrina e sabia que quanto mais tentasse ir contra, pior seria.

Meia-Noite Cinderela - (Vol.2)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora