Capítulo Único

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Meia-noite


Era estranha essa sensação opressora. Eu sabia que naquele momento nada de bom havia ali, toda a atmosfera tornou-se densa demais, era difícil respirar, meu corpo doía, quando a não muito tempo atrás, eu estava completamente bem.

E mesmo assim, eu não sabia como explicar, havia vultos passando pela porta, consigo perceber isso pelo canto dos olhos. Então, sinto como se houvesse alguém me espionando, perto demais ao meu lado, me viro e não havia ninguém, disso eu tinha certeza. Sinto o arrepio tomar conta do meu corpo, é estranho. Eu nunca me senti assim antes, mas não posso acreditar que seja real, não assim. Não acredito que seja assim.

A cada segundo que passava me sentia como se estivesse levando um soco na barriga, mas esse soco não ia e vinha, ele apenas vinha e empurrava. Minha visão embaçava sempre que queria, não consigo respirar.

Preciso sair e pegar um ar, não quero acabar desmaiando. Mas não posso, não posso demostrar esse mal-estar, eu sei que estou sendo infantil e teimosa, no entanto, não quero que me vejam assim.


Por que inventei de participar desse jogo idiota?

Está tão frio...

Como eles não sentiram isso ainda? Mas ela, me olha atenta, sabe de algo, sabe que sei, ela me vê reagindo, mas o que pode ser que ela está pensando agora?

— Você está aí? Mande um sinal — disse a nossa representante na frente do Ouija. Na primeira oportunidade que deram, me recusei a fazer as perguntas, parecia estúpido demais. Além disso, o que eu perguntaria? "Ei, de que comida você gosta mais?" que patético, foi com certeza a melhor ideia não dizer nada. Alguém como eu não merece ter o prazer de dizer nada.


Está ficando pior, eu sinto isso, a cada momento, a cada segundo. Quando tudo isso acaba? Se não sairmos daqui agora, algo ruim acontecerá, sinto isso.


A sombra é opressora e entende a maldade, quando se está por perto, a observa, porque não há diversão maior do que está.


Não consigo discernir se foi obra do destino ou se cansaram de tentar, apesar dos bons resultados. Continuar naquela sala, definitivamente, teria me deixado ainda mais doente. Mas com bastante dificuldade e persistência, consegui sair sem tropeçar ou me apoiar na parede, felizmente ninguém notou, espero que não.

Após a sessão espírita no casarão abandonado, fomos embora, no caminho para casa pude notar que melhorei, mas eu ainda sentia algo me olhando, no fundo do meu cérebro, eu sabia, havia algo que não me deixou um minuto se quer. Preferi, então, ignorar essa sensação estranha e seguir a vida, eu tinha muito o que fazer e tomar um bom banho é a minha maior prioridade, por agora.


Assim que pisei os pés no banheiro, mal passou um minuto e algo estranho aconteceu e aquela sensação piorou. Parecia que eu tomava banho com alguém ao meu lado, algo perverso. Isso me deixou com medo.

Tudo o que eu queria naquele momento era sair do banho, fugir daquele quarto e ter uma boa noite de sono. Até porque nada disso continuará amanhã se eu dormir agora. Provavelmente, estou apenas cansada demais.


Não consigo dar dois passos sem que algo aconteça, coisas estão batendo, móveis se mexendo e barulhos como rosnados para todos os lados. Isso está me deixando louca e não sei o que fazer. Me sinto sendo pressionada, encurralada, parecia que alguém estava tentando entrar na minha cabeça. Estou alucinando? Nada disso está certo.

De onde veio todo esse sangue? Em um momento minha casa está um caos e então um silêncio opressor, não ando nem dois passos e o chão está todo molhado, eu fechei a torneira do banheiro, por que estaria molhado? Então quando vi, não era água, mas sangue. Isso definitivamente não estava certo. Continuo andando e o sangue parecia vir de todos os lados, como se quisesse inundar a casa. Então paro desesperada e confusa, posso sentir meu coração querer sair pela boca e então ouço ele sussurrar, eles sussurram.

— É sua culpa... foi você... você gostou, não? Foi divertido...

Em todos os lugares, tudo quanto é barulho, bateção de porta, arranhar na parede, alguém correndo, a risada maligna que não vinha de lugar nenhum. Isso era demais, o que eu faço? O que faço?

— Você sabe... — sussurram para mim novamente — por que foge? Você não pode...

Fugir? Do que quero fugir? Não é culpa minha, eu não sei do que está falando, por que não me deixa em paz? Porque todo esse barulho, simplesmente, não para? É tão insuportável, é como se fosse uma TV sem sinal nenhum chiando na minha cabeça, sem parar, sem parar, sem parar...

Estou enlouquecendo, não? Posso sentir isso.

— culpa sua... — sussurraram.

Não, não, não, eu não tenho nada a ver com isso, eu não fiz nada.

— estão todos mortos... pelas suas mãos...

Eu não matei ninguém, eu juro, por quê? Por quê?


Toda essa loucura era demais para mim, eu não conseguia explicar a dor que eu sentia, essa estática insuportável em meu cérebro, as vozes, as alucinações. Tudo era simplesmente demais.

Pude sentir a dor em meus joelhos, quando caí no chão, ajoelhada como se pronta para orar em nome de alguma divindade que pudesse me ajudar, sinto minhas mãos presas a minha cabeça, como se me segurasse para que a dor parasse.

E então, em um piscar de olhos, eu levantei e abri meus olhos.

Então vi, eu nunca fui para casa realmente. Estou no casarão abandonado, no meio da sala de estar, ajoelhada em uma enorme poça de sangue, minhas roupas todas sujas com sangue que não era meu. Olhei ao redor e o que era para ser a equipe que eu acompanhava, estava deitada no chão, imóvel como se dormisse pacificamente.

Íamos gravar um vídeo sobre o Ouija e espíritos, eles queriam provar que essas coisas existiam e eu duvidei, eu era a base teste para eles, a testemunha.

Aos poucos, fui me recordando, o momento em que chegamos, preparamos tudo e começamos, mas nunca terminamos. Eu realmente passei mal e desmaiei, depois disso...

E ainda em choque, peguei uma das câmeras, voltei o vídeo para saber o que aconteceu e vi, era como se tivessem me possuído.

— Ela é muito receptível a entidade, vamos tentar nos comunicar enquanto eles estão assim. Qual é o seu nome espírito? — a representante disse no vídeo, mas não recebeu respostas. Por um tempo eles continuaram tentando, ainda não recebendo respostas, então, de repente, começo a rir como um verdadeiro louco.

— Ninguém sairá vivo hoje... — o meu eu do vídeo, falou. O silêncio era obvio no vídeo, mas ninguém levou muito a sério, eles tentaram continuar a comunicação, até me acordar, mas falharam. Então, não muito depois, eu os ataquei e ataquei e ataquei... não parei até ter todos eles mortos e sangrando, até arrancar pedaços e comer. Todos eles gritaram, choraram e imploraram por misericórdia, por ajuda.

Mas ninguém podia escutá-los, não havia uma alma viva a quarteirões daqui.


O bizarro nisso tudo? Eu me sinto bem agora, agora que entendi o que aconteceu. Posso sentir, ainda, o prazer que senti ao matar aquelas pessoas, e eu sei que esse tipo de coisa não é normal, talvez, eu ainda esteja possuída ou pode ser o choque, não sei, mas seja lá o que for, foi bom demais.

Sinto um grande alívio agora, sério, estou começando a rir até.


Acho que não estou nada bem. Hahaha

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