— Porque sente tanto medo assim? — Questionei, curioso.

— O medo é um sentimento geral. Não há como viver sem ele. O homem sem medo é um homem burro. Ele não sabe quando sentir, quando viver. Acha que é maior que o mundo em qualquer momento.

— Então o medo é... uma coisa boa?

— Todos os sentimentos são bons, se na medida certa. Você não pode viver no medo, assim como não pode viver sem ele.

— Entendi, eu acho. Mas, e, por exemplo, algumas coisas que dão medo no geral? Tipo a morte?

Queria muito perguntar sobre. Muito. Não tinha como esconder algo tão direto. Espero que ele não tenha se ligado.

— A morte?! — Perguntou, espantado — Sinceramente, eu temo muito a morte. Ela é algo que não podemos evitar, de maneira alguma. Mas, sabe, por mais que eu a tema, assim como todo mundo, eu não acho que vou me sentir mal, quando a minha chegar. Na verdade, tenho certeza que não.

— Porque não? Ela chega do nada, sem avisar, e pode, sei lá, acontecer amanhã?! É algo surreal e maldoso.

— Mas eu tive a oportunidade de viver. Por isso ela não é maldosa. A morte nada mais é que o fim de um ciclo. E eu tenho muito orgulho do ciclo que eu vivi. Criei uma família linda, dois filhos lindos, tive uma esposa linda. O quê mais eu posso pedir da vida?

— Não tinha pensado por esse lad... pera, você errou no número de filhos, cabeça oca! — Exclamei, brincando — Eu sou filho úni...

— É — Me interrompeu, sorrindo, enquanto acariciava meu rosto e os olhos se enchiam de lágrimas — Acho que você foi promovido a irmão mais velho.

Não consegui acreditar. De jeito nenhum, não conseguia acreditar. Eu iria ter um irmão? Ou irmã? Meu. Deus.

— Pera, você tá brincando né?! Só pode ser brincadeira.

— Nada me deixa acordado de madrugada, lembra? Só se for algo que me deixe muito ansioso. Recebi a notícia hoje da sua mãe, e ela queria te fazer uma surpresa mais 'pra' frente, mas eu achei uma ótima ideia falar agora. Não sabemos o sexo ainda, mas algo me diz que será uma garota.

— Meu Deus...

Eu... Eu vou ter uma irmã!

Uma garotinha! Uma irmãzinha! Uma mini Lucas! Que vai pular, brincar, viver, como ninguém nunca viveu! Puta merda, eu vou ter uma irmã!

Eu posso não viver amanhã. Posso morrer e sumir da terra. Mas saber que terá alguém para viver o que eu não pude! Aproveitar meus pais, minha família, minha cidade, tudo!

Até mesmo, aproveitar a Letícia. Quero pedir algo especial para ela amanhã. Tenho certeza que ela vai amar a notícia!!

— Pai, obrigado! Mesmo! Não tinha forma melhor de tirar minha cabeça do lugar! Preciso escrever umas coisas agora, mas, obrigado! Mesmo!

Abracei-o com toda a força que eu tinha no corpo. Abracei-o como se fosse a última vez, sem saber se era ou não, a última vez. Ele devolveu o abraço, com o maior carinho possível de pai para filho. Me senti amado, de novo. Senti-me vivo.

Depois de longos segundos de abraço, levantou-se e foi até a porta do quarto, sorrindo.

— Não dorme tão tarde, cabeção! Escreva o máximo que puder. Você tem um dom 'pra' isso. Se precisar, eu to aqui no quarto do lado! Eu te amo Luquinhas.

— Eu te amo pai. Boa noite! Já vou 'pra' cama!

Logo que fechou a porta, alonguei meus dedos. Teria muito trabalho a fazer.

12 dias até minha morteWhere stories live. Discover now