Prólogo 3 - Lara Maria Avellar

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PRÓLOGO 2

LARA

AGOSTO DE 2004

Era um típico almoço de domingo, quando parentes de longe vinham, se reuniam com os de perto e todo mundo acabava em um restaurante próximo ao apartamento onde eu morava na Taquara.

A mesa era imensa e nela cabiam 12 pessoas, que falavam alto, passavam pratos de comida de um para outro, riam contando casos. O clima que reinava era gostoso, de alegria e agradecimento, principalmente porque naquela semana minha mãe tinha sido definitivamente constatada como curada do câncer que a tinha acometido anos antes. Depois da retirada de um seio e do útero, de sessões de quimioterapia e um acompanhamento longo, estava totalmente curada. E isso já era mais do que motivo para festa.

Aos 16 anos, entre minha melhor amiga Marcinha, da minha idade, e meus primos Ricardo e Rômulo, um de dezessete e outro de dezoito, eu me sentia leve e solta, sorrindo muito, implicando e sendo implicada por eles. Moravam no interior do Rio e nem sempre nos víamos, mas quando isso acontecia, era farra na certa. Na verdade, eram meus primos de segundo grau, filhos da minha prima Danila, de 38 anos.

Minha mãe era a caçula de três irmãos e só foi me ter aos 40 anos de idade, assim, meus primos todos eram bem mais velhos. Os que se equiparavam à minha idade eram os filhos de Danila, sobrinha da minha mãe, filha da minha tia Julieta.

Enquanto os mais velhos ficavam em uma parte da mesa, nós ocupávamos outra ponta, entre risadas e muito mais. Ricardo e Rômulo tinham levado dois amigos, um rapaz e uma moça, Gustavo e Raquel, gêmeos de dezessete anos. Raquel era namorada de Rômulo. E, enquanto rolava o maior clima de paquera entre Marcinha e meu primo Ricardo, eu sentia os olhares de Gustavo sobre mim. E sorria para ele, sentindo-me admirada e agraciada, já que era um gatinho.

Eu sabia que chamava atenção dos rapazes com um corpo cheio de curvas e com cabelos cheios de cachos até a cintura. Onde passava, recebia cantadas e olhares. Gustavo não era diferente, parecendo encantado comigo, mal comendo para poder me observar, como se fosse paixão à primeira vista. Se eu dava atenção ou sorria para ele, ficava vermelho, sem saber ao certo o que dizer. Sua timidez era encantadora, me fazia sentir poderosa e feliz, ao mesmo tempo que me dava uma sensação boa de ser importante para alguém.

- Lara e Marcinha, o que podemos fazer depois do almoço? - Indagou Ricardo, animado para uma boa farra. Só iam voltar para casa à noite e queriam aproveitar para se divertirem.

- Podemos ir com eles na praça do skate, não é, Lara? - Marcinha ria de orelha a orelha e, apesar de ser bem mais quieta do que eu, parecia incentivada com as atenções do meu primo, seu ombro colado ao dele.

- Ou ao cinema. - Opinei e, maliciosa, pisquei para Gustavo. - Está passando um filme de terror, mas pode ficar perto de mim, Gu. Protejo você e seguro sua mão se ficar com medo.

O rapaz branquinho ficou tão vermelho que até seu couro cabeludo abaixo dos fios de cabelos aloirados coraram violentamente. Todos riram e eu mais ainda, o que só o fez olhar em volta meio inseguro. Por fim, fitou-me nos olhos e afirmou:

- Não tenho medo. E garanto que eu é que posso proteger você, Lara.

Gostei muito daquilo, da maneira como parecia falar com sinceridade. Por um momento, deixei-me levar pelo seu olhar, pelo ar de bom moço e garoto responsável, ficando levemente sonhadora. Em geral os garotos não me levavam a sério, pois eu estava sempre rindo, brincando, na verdade sentindo-me superior a eles. Era maliciosa e muito além da minha idade. Não me sentia uma adolescente comum e tinha meus motivos. Antes que eles ocupassem minha mente, empurrei-os para o fundo, decidida a me divertir naquele dia.

Rendida (Livro 4 da Série Segredos)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora