banho de mentiras

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[de todos os capítulos que escrevi, esse foi o meu favorito :) espero que gostem]

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Capítulo 09

Água. Espuma. O som do líquido escorrendo pelo ralo. O cheiro dos sabonetes que, apesar de doces, enjoavam e esfoliavam a pele simplesmente porque era convencional estar sempre com a epiderme amaciada. Um banheiro. Um cavaleiro dentro de um chuveiro com água fria lhe escorrendo o corpo. 

Geralmente seus banhos duravam bem menos do que aquele, mas, nas outras vezes em que se banhara, a água tinha a função apenas de lavar o corpo, não as sujeiras do coração. 

Por mais que tentasse ignorar seus sentimentos, não conseguia deixá-los de lado. Sua mente tornava a repetir aquele maldito momento em que sua princesa conhecera Shindo. O que ela havia visto naquele cara?! Seu físico não era tão invejável assim e sua beleza era bem mediana, sem falar que suas sobrancelhas eram esquisitas…

Aquele tal de Ainosuke estava mais para um principezinho de meia-tigela. 

... Mas, mesmo sendo um príncipe de meia-tigela, ele com certeza tinha modos bem melhores que os seus. E, mesmo com as sobrancelhas esquisitas, ele com certeza recitaria poemas para ela dignos de serem impressos nos melhores livretos do Estado. E... Mesmo com uma beleza bem mediana, ele tinha um castelo, e súditos, e uma sucessão garantida no trono, e um bando de freiras malucas, e dinheiro para dar à Cherry a vida que ela de fato merecia... E, mesmo com um físico não tão invejável assim, Ainosuke fora o escolhido para desposá-la e seria o homem com quem ela passaria o resto da vida... E Kojiro nunca chegaria aos pés dele nem se tentasse... 

Talvez fosse melhor abrir mão daquilo que nunca fora seu. Talvez fosse melhor deixá-la livre para se casar com um homem que realmente pudesse fazê-la feliz da forma como ela merecia. Talvez fosse melhor esquecê-la da mesma maneira como Cherry fizera quando colocou os olhos em outro. Talvez fosse melhor nem assistir ao casamento. Talvez fosse melhor apenas acabar o banho e ir embora de lá. 

É! Aquele era um bom plano! Iria terminar aquela ducha melancólica, vestir alguma roupa e ir embora de lá. E poderia fazer isso tranquilamente, afinal, fora pago apenas para entregar a princesa; uma vez a moça entregue, estava livre para ir embora e nunca mais olhar na cara daquela flor repleta de espinhos, que passara os últimos dois dias plantando ilusões em seu peito. 

Poderia ir para onde bem entendesse, agora que era um homem livre de obrigações. Poderia visitar as praias do sul... Ou talvez os clubes noturnos do interior... Ou até mesmo ir atrás daquele moreno que fisgara seu coração durante aquela noite na taberna. Isso! Era isso o que iria fazer! Iria substituir a princesa em questão de dias... Nem ia se lembrar que um dia a moça existiu; se ocuparia de um novo amor. 

É, talvez essa história de casamento nem tenha sido tão ruim assim, no final das contas. Aquilo ajudou o esverdeado a colocar os pés no chão. Afinal, agora que não teria mais a rosada para bagunçar sua mente e brincar com seu coração, poderia focar em novos horizontes. 

Uma vez o assunto concluído em sua cabeça, desligou o chuveiro e se secou com uma toalha que uma das freiras havia lhe dado. Tentou vestir as roupas de qualquer maneira e ir embora, mas as religiosas o viram saindo do banheiro e trataram de colocá-lo em um quarto e arrumá-lo devidamente. Era impressionante como, mesmo sendo mais alto e mais forte que aquelas senhoras, o esverdeado não obtivera nenhum sucesso em tentar resistir. 

O sol da meia-noite (MatchaBlossom)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora