a aposta maluca de davin ivrin

341 64 72
                                    

por Davin Ivrin

A família Ivrin é tão poderosa quanto parece ser. Constituída por toda a costa leste desde o século passado, o império começou com uma pequena vinícola que, atualmente, é uma multinacional, com filiais espalhadas por quase todos os países. Com o sucesso no ramo empresarial, os Ivrin logo expandiram os seus domínios por outros âmbitos. Você pode encontrar um deles no mundo da moda, no entretenimento, no ramo acadêmico, na ciência, nas artes, como maquiador da Lady Gaga... Em outras palavras, talento e oportunidades correm entre as veias dos Ivrin. Todos eles respiram dinheiro, vivem popularidade e usufruem de todo o privilégio que o mundo pode dar.

E eu, Davin Ivrin, sou meio que o parasita da família.

Não sei, acho que nasci com algum problema nas minhas veias – embora cheio de toda essa oportunidade, não vim com o talento instalado de fábrica, como meus irmãos, ou meus primos. Mesmo que eu tenha nascido tão bonito quanto qualquer um dos Ivrin, nunca me dei bem em conseguir dinheiro. Quer dizer, além do que ganho de mesada para manter os padrões de vida da família em sociedade. É meio que uma obrigação social de um Ivrin ter uma mansão, uns cinco carros, um escândalo sexual aos dezesseis, oito meses de reabilitação e... Dinheiro. Para manter as aparências no alto escalão, Davin Ivrin é tão bem sucedido quanto o resto da sua família.

— Você é tipo... Um fracasso, você sabe, né?

Eu ergo o olhar para Kris Roberts. Ela é rica, supermodelo (corpo alto, esbelto, magra), ácida e minha melhor amiga. Nos conhecemos desde criança, porque nossas mães são quase irmãs. Filha de um empresário no ramo de cosméticos e uma cirurgiã plástica (olá, peitos da minha mãe!), a função dela no mundo é posar para fotos e ganhar rios de dinheiro com isso. Ah, e roupas de alta costura também. Eu nunca me dei bem com câmeras - tentei ser modelo, é claro. Um Ivrin que não se dá bem com câmeras, que piada.

— Você sabe que nunca vai ser a Julia Roberts, né? — Rebato, colocando a revista de moda, cujo ela é a capa, em frente ao meu rosto.

Kris ri, mesmo sem se dar por vencida. O lance com a nossa amizade é que nunca dá para ficar brigando por muito tempo, um dos lados acaba perdendo a paciência. Quando se está com a cabeça ocupada, perder tempo com trivialidades é bobeira. Ao mesmo tempo, a arte da futilidade deve ser dominada por todos os ricos, então esse tipo de conversa está sempre em pauta, de qualquer maneira.

A supermodelo põe o dedo indicador na barra da revista, sua unha pintada de vermelho como as garras de um gato tirando minha atenção (até parece) da leitura. Ela abaixa a revista e eu a largo na mesa.

— Você quer conversar sobre isso?

Ela suavizar a frase, por exemplo, é uma demonstração da trivialidade. Kris quer amenizar a pergunta, torná-la mais paupável. Felizmente, ou infelizmente, sou tão rico quanto ela – as palavras continuam sendo desconfortáveis e eu me ajeito na cadeira. Cruzo os braços, o que não melhora nada. De repente, estou na defensiva. Kris percebe isso, é claro, mas não diz nada.

Isso ela se refere a um dia da semana anterior. Uma droga de dia.

*

Quase uma semana atrás – ou não.

Ser um Ivrin significa estar, quase que sempre, bêbado. Em parte porque somos donos da maior vinícola do mundo, então temos um estoque ilimitado dos melhores vinhos. E, também, porque ricos sempre estão sofrendo com problemas que parecem ser o fim do mundo – o planeta não acabaria por uma questão do tipo nem se fosse pago para isso.

Borboletas na garganta Where stories live. Discover now