1° Convidado Especial

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Eyra e a Outra surgem no pé da banheira através da nuvem de fumaça. Afundo meu corpo na água, tentando o esconder com as bolhas. Três meses e ainda não me acostumei com a falta de privacidade. Eyra riu e pegou a toalha, estendendo-a pra mim. Outra permaneceu inexpressiva e com a postura perfeitamente ereta.

_ O almoço será servido mais cedo hoje - anuncia Eyra. Pego a toalha de sua mão e me enrolo.

_ Aconteceu algo? - pergunto preocupada. Brand é excessivamente pontual, nem um segundo atrasada ou adiantada.

_ Não podemos responder, Alteza. - Outra se apressa em dizer. Diferente de Eyra, seguia as regras Brand e estava sempre reprimindo a amiga por falar demais.

As duas me conduzem pra fora do banheiro. Outra anda até o guarda-roupa, procurando uma roupa adequada. Por fim, ela escolhe um vestido lilás, com pedras roxas espalhadas pelo corpete em forma de flores. O tecido brilhoso me confirma que temos visita.

_ Quem vem hoje? - pergunto enquanto Eyra aperta o espartilho.

_ Um Luzente de Hellige. - sussurra em meu ouvido e ri cúmplice. Outra bufa.

Luzentes, eu havia lido sobre eles. São os primeiros seres que habitaram estas terras, anunciando profecias desde os primórdios. Possuem a sabedoria de séculos. Vivem isolados em Hellige, a Terra Sagrada, e dificilmente visitam os reinos. Não pude evitar a curiosidade.

_ O que fazem aqui?

Novamente, Eyra respondeu antes que Outra a repreendesse.

_ Eu estava na cozinha e lá dentro é o coração de fofocas do castelo, então eu ouvi de Freya, que escutou de Rauli, que recebeu uma carta da própria Brand para ser enviada para Hellige, pois parece que ela quer descobrir um jeito de adiantar a realização da profecia.

_ Eu vou buscar alfinetes. - Outra declara, correndo pra fora do quarto. Eyra revira os olhos e bufa no momento em que escuta o bater da porta.

_ Ela é tão medrosa. - expressa irritada. Ela mexe no tecido em volta da minha cintura, procurando formas para apertar. - Tem medo de confiar em você, mas eu já falei que você não é como Brand ou como os outros ternianos. É bobagem e, talvez, muita ousadia de minha parte, mas sinto que somos amigas.

Sorri sentindo o coração aquecer. Eyra estava certa, possuímos um tipo de amizade cordial. Mas talvez amizade ainda seja um nome muito forte, afinal ela continua sendo uma Vermelha, continua sendo de Brand. Eu não arriscaria contar meus segredos para ela, mas era divertido ter sua companhia.

_ Qual o nome dela? - pergunto em um resmungo - Estou cansada de ter que me refeirir a ela como Outra, parece grosseiro.

Eyra dá uma espiada na porta fechada, antes de responder:

_ Lila.

Olho-a supresa: - Uau, não imaginei que o nome dela fosse Lila! É tão delicado e ela é tão...

_ Bruta? - Eyra ri e eu a acompanho. Quando dou por mim, estamos gargalhando e fazendo comentários engraçados sobre tudo enquanto ela me arruma.

 Quando dou por mim, estamos gargalhando e fazendo comentários engraçados sobre tudo enquanto ela me arruma

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Eu e Diana somos as únicas na sala se jantar. Ela mexe irritada a cada dois minutos no decote comportado, é a primera vez que eu a vejo com uma roupa que mostre tão pouca pele ou que não marca tanto o corpo. O tecido é amarelado e fosco, com bordados vermelho no corpete e na barra da saia, as mangas são bufantes e a gola chega na metade do pescoço. Ela parece puritana demais. Ou um bolo de casamento.

Não consigo segurar o riso. Suas mãos abandonam a gola e ela me encara furiosa.

_ O que foi? - questiona entre dentes.

_ Deve estar sentindo bastante calor com tanto tecido. - dou de ombros, a gargalhada foi embora, mas um sorriso ainda assombra meus lábios. - Pensei que decotes provocativos fossem indispensáveis!

_ Muito engraçado, Elle. - ironizou rolando os olhos. As mãos puxaram novamente a gola - Só estou usando isso porque Brand foi pessoalmente em meu quarto dizer que a visita é muito importante e eu devo parecer respeitável. - bufa, mas mágoa marca presença rápida em seus olhos escuros. De fato, soa bem ofensivo.

Empatia vibra dentro de mim. As lembranças de todas as vezes que Catrina me tratou daquela forma, abusando psicologicamente de uma órfã, destruindo qualquer estima que a criança podia ter consigo mesma. Hoje em dia, carrego as consequências disso e não posso olhar para um espelho sem pensar: sou um defeito. Diana se aparenta cada vez mais com as gêmeas de Sussex, buscando desesperada pela aprovação da figura materna. Meu estômago embrulha só de lembrar que é essa a estranha e enigmática relação que Diana e Brand possuem, mãe e filha. E embora Diana não seja sua filha de verdade, Brand é uma terrível mãe, de qualquer forma.

_ É engraçado ela pensar assim, já que vocês se vestem da mesma forma.

Ela oscila um sorriso. As portas se abrem abruptamente eu me sobrassalto assustada. A figura de Brand faz meus músculos tensionarem, mas o homem ao seu lado me aguça a curiosidade. Até mesmo minha raptora está menos vulgar, embora o vestido longo carmesim ainda faça um bom trabalho em delinear as curvas do quadril, o corte nas laterais não ultrapassam o joelho e o decote contorna sua clavícula. O homem parece ser a única peça que não se encaixa, parado ao lado dela com roupas casuais e uma barba cinzenta que parece ir em todas as direções, grande e bagunçada demais. Os olhos dele caem direto em mim, são esbugalhados e lhe confere um ar de louco.

_ Finalmente nos conhecemos, Lor Anihí. - a voz é calma e controlada - Vejo que Peter ainda não te salvou.

_ Você o conhece? - senti uma pontada no coração. O vazio que eu ainda sentia gritou em meus ossos.

_ Não seja boba - Brand desdenhou- Luzentes não falam com qualquer um...

_ No entanto, aqui está ele falando contigo. - vocifero.

Um sorriso venenoso dança em seus lábios pintados de vermelho escuro. Suas garras invisíveis surgem em torno do meu coração, me avisando pra ter cuidado com as palavras. O homem estranho não tira os olhos de mim, como se pudesse ver as presas ocultas de Brand brincando perigosamente. Com aqueles olhos loucos, eu não duvido que ele realmente consiga.


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VOCÊ É ÍNCRIVEL!

Meia-Noite Cinderela - (Vol.2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora