2. O Festival

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O Festival de Poseidon era o melhor dia do ano, o único em que Darya não se importava de ficar na cidade, pois sabia o quanto iria se divertir.

Aquela era a ocasião em que todos se reuniam para celebrar a paz e comemorar o ato de benevolência que os salvou na queda de Atlântida. No entanto, esse conhecimento foi perdido e a data se tornou apenas uma comemoração muito esperada por todos do reino.

Para Darya, aquele era o dia de celebrar sua mãe e quando sentia sua presença mais forte dentro de si e em cada canto da festividade.

Queria chegar logo à praça da cidade, porém manteve a rotina de fazer o desjejum com o pai. Mesmo que estivesse eufórica para provar as iguarias vendidas no festival, precisava daquele momento com ele.

— Bom dia, filha — Nereu a cumprimentou com uma expressão soturna, antes de voltar a comer seus corais.

Aquele era um dia cinza aos olhos do rei, pelo mesmo motivo que Darya, por outro lado, amava: suas recordações da rainha. A data servia apenas para lembrar ao tritão do que ele perdeu e, por isso, preferia passar o tempo sozinho, com suas memórias tão estimadas, em vez de sair para comemorar.

Darya comeu seu prato de algas com pressa, ansiosa para juntar-se a todos. Deu um beijo no rosto do pai antes de nadar para fora do castelo, como se estivesse sendo perseguida por um tubarão.

Ao chegar no festival, circulou entre as pessoas, observando todas as cores que a rodeava. A cidade estava decorada com esmero, repleta bandeiras enfeitando as construções e luzes que formavam desenhos dos momentos mais importantes da cidade: a prisão do Kraken e o sacrifício da rainha, a criação da barreira, a expulsão da Bruxa do Mar — e o seu preferido, sua mãe sendo coroada no dia no casamento, os cabelos ruivos estavam enfeitados com cochas e tinha um largo sorriso. As pinturas de dia, já eram lindas, mas quando a noite chagasse, tudo ficaria ainda mais mágico e brilhante.

No festival também havia danças, brincadeiras e comidas que os moradores de Atlântida só podiam provar naquele dia. Não poderia se esquecer também do teatro infantil, que ensaiava o ano todo para o dia. Naquele ano, apresentariam A Guerra das Conchas e a Batalha da Rainha Ondide Contra o Kraken.

Enquanto Darya nadava pelo festival, conseguia imaginar sua mãe ali, rodeada por um grupo de crianças, dançando ou até mesmo aprontando, durante sua juventude. Algumas poucas lembranças pertenciam à filha, mas a maioria era de histórias que outros lhe contavam, com saudade pelos momentos vivenciados.

Em sua empolgação, cumprimentava a todos que cruzavam seu caminho em direção à praça, local onde a maior parte dos eventos aconteciam e o ponto de encontro que havia combinado com as amigas.

Um sorriso brilhou no rosto assim que as viu, próximas das pequenas barraquinhas de jogos. Fazia alguns dias que não saíam juntas e Darya estava com saudades.

— Pensei que princesas deveriam ser pontuais. —Pérola a cumprimentou com um tom dramático assim que Darya se juntou ao grupo, passando as mãos pelos cabelos ruivos. Ela era sempre a mais exagerada.

— Calma, o festival acabou de começar! — Ula, a outra amiga da princesa, revirou seus olhos azuis.

— Não quero passar o meu dia vendo vocês duas brigarem. — avisou Darya, com a melhor expressão séria que conseguia fingir, enquanto segurava o riso. — De novo.

— Não brigamos tanto assim! — reclamou Pérola, com os lábios rosados formando um bico.

— Verdade, é só desde... que aprenderam a falar? — a princesa ironizou, arqueando as sobrancelhas.

As duas amigas se olharam com tanta intensidade que quase saíram faíscas. Não era algo que preocupava a princesa, pois se amavam na mesma proporção que se provocaram. Em menos de cinco minutos, esqueceriam daquilo.

O Canto da Sereia (Degustação)Where stories live. Discover now