Procura-se match (com date)

O início

— Um minuto de atenção, pessoal, por favor.

Ouvi, sem nenhuma empolgação, a frase de uma das minhas chefes através da música que rolava em meus headphones, mas Dani, minha colega de trabalho ao lado pensou que eu não tivesse escutado e me deu um cutucão brusco. Aquela mulher era um poço de delicadeza, pensei com uma ponta de rabugice.

— A Sônia vai falar da festa do fim de ano — ela sussurrou, com uma animação que eu só imaginava poder ter vindo da caneca de café vazia em sua mão.

Todos os anos, desde que entrei para a equipe da Athena Store, uma loja virtual de roupas e acessórios femininos, a festa de confraternização era feita em uma churrascaria, que se localizava à esquina do prédio em que trabalhávamos. Nada que levasse o meu humor para um clima festivo, ainda mais quando eu seria a pessoa a ficar de plantão no SAC do site, explicando um milhão de vezes sobre os procedimentos de troca de produtos.

As festas de fim de ano estavam longe de serem as minhas favoritas. Não que quando primeiro de dezembro surgisse no calendário, minha pele começasse a ficar verde e um sorriso sinistro surgisse no meu rosto, eu não era o Grinch – tudo bem que poderiam comparar o meu humor ao dele, mas eu não odiava o Natal, só estava de certa forma cansada dele.

A repetição das mesmas brigas familiares. A mesma corrida em supermercados e lojas, pois sempre falta alguma coisa. O mesmo sorriso amarelo e forçado diante da velha piada inconveniente do tio Zé.

Sempre a mesma coisa.

E isso me desanimava totalmente para começar a cantar Jingle Bells à plenos pulmões. Nesse ponto, eu estava mais para sofrer ao som de Simone, quando "E então é Natal e o que você fez?" surgia no alto falante de alguma loja.

Resumindo, eu não queria saber do Papai Noel tão cedo, mas como eu estava ao lado do Mike Tyson, fiz questão de mostrar que estava interessada no recado da Sônia, pois caso contrário, eu levaria mais um beliscão.

— Pessoal, como as vendas esse ano bateram recordes e a nossa equipe inteira cresceu, desde a expedição ao atendimento, eu e a Rosana resolvemos levar a nossa confraternização para o hotel Renaissance.

O nome do lugar era uma lenda em quesito de lugares caros da cidade, onde apenas ricos ou pessoas que economizavam muito conseguiam visitar o lugar. De fato, ele era muito famoso por sediar festas de casamento de alguns famosos. Não à toa, a sala onde trabalhávamos ficou em silêncio.

— E contratamos buffet e banda, para termos música ao vivo e comida boa! — Nossa chefe continuou a contar as novidades diante das nossas expressões de surpresa. — Além disso, nós queremos conhecer a família de vocês, então, o convite também é para os namorados, maridos e filhos!

— Ai, estamos muito animadas! — Rosana, nossa outra chefe, deu um pulinho de empolgação ao lado da sócia, daqueles que a gente só imagina ver em desenho animado. — Foi tão bom podermos crescer! Olha só aonde a gente chegou! — Ela circulou o ambiente ao redor com as mãos.

A central de atendimento da loja ocupava o andar inteiro de um prédio de salas comerciais, com uma decoração moderna e pegada industrial, já que o espaço era amplo, como um grande galpão. Apenas a sala da chefia e de reunião era ambientes mais privativos e longe da nossa bagunça diária. E claro, tinha a nossa querida copa, onde fazíamos as nossas pausas para um cafezinho e no almoço, a fofoca rolava solta.

— E ai, gente! Ter uma equipe maravilhosa dessas é para poucos! Somos muito orgulhosas de termos um quadro interno só de mulheres! — Rosana disse entusiasmada.

E de fato, todos os departamentos eram geridos por mulheres.

Mídias sociais era comandada pela Dani, uma ruiva alta e praticante de crossfit, que sentava ao meu lado e era um tantinho estabanada. Bruna, a mais alta da equipe, era responsável pelo departamento financeiro/jurídico, sua marca registrada era o hábito saudável de alimentação, sempre oferecendo chips de alguma coisa desidratada para todos, além de usar "obrigada" e "por favor" como ponto final de suas frases.