Ainda não sou mãe, sequer terei a chance de engravidar durante o meu primeiro ano de casamento e agora ainda nos primeiros dias de casada estou simplesmente tendo que deixar minha família, minha casa e toda a minha vida abandonada pelo fato de que serei mãe em algum momento de alguém a quem muitas pessoas querem dominar.

— Sei que está cansada, mas precisa ter calma.

— Estou calma, só não estou feliz.

Virgo estende a mão e toca a minha face, pouso a mão sob a dele e beijo sua palma enquanto o fito, é verdade que não desejei esse casamento, mas ainda carrego dentro de mim todas as sensações que tenho vivenciado desde que o conheci.

A velocidade das coisas está de alguma forma me afetando, não é algo do qual eu esteja acostumada.

— Entendo suas frustrações, minha esposa, mas precisa ter paciência — ele fala me fitando — E eu trouxe cacau.

Dou um pequeno sorriso para ele e depois o abraço puxando-o para junto do meu corpo, eu gosto dele, como poderia não gostar? Mesmo que ele tenha mentido para mim e omito a verdade por trás de sua decisão de se casar comigo, nutro esse forte sentimento por ele.

Quando Virgo me abraça é como se eu encontrasse um carregador de baterias, como quando no momento exato eu coloco uma bateria de lithium dentro de um modelo de relógio antigo ou como se fosse o exato instante em que os dois ponteiros do relógio se encontrassem em uma hora par, como o encontro dos ponteiros na segunda hora da noite ou na última hora da noite.

— Ficaremos bem, minha esposa.

Eu gosto quando você me chama de minha esposa.

— Vamos tomar nosso banho, infelizmente será rápido, não queremos levantar suspeitas.

— Já estou acostumada, o que trouxe além do cacau?

— O bastante para nossos dois primeiros meses.

Caminhamos até o banheiro e começo a puxar a minha túnica para cima, já estou descalça, não gosto da ideia de que ficaremos dois meses aqui trancados, mas quem poderia adivinhar do que essa gente é capaz?

— Minha comunicação com minha mãe será através de carta — ele diz e vai já nu até a área de higienização, liga o painel de costas para mim.

Me aproximo e fico parada ao lado dele, o vejo digitar a senha e o contabilizador liga, é automático, a ducha dispara uma água gelada e refrescante, teremos dois minutos.

Começo a me esfregar depressa, Virgo faz o mesmo esfregando os cabelos depois os braços, pelo que entendi, a água daqui já vem pronta para banho, não há necessidade de sabão ou algo do tipo para banho.

— Eu comprei alguns panos para os seus dias de período, minha mãe colocou essa lista em minha bolsa de viagem — ele diz e me dá as costas lavando as partes íntimas. — Ela colocou contraceptivos também, disse como devemos usar e tomar.

— Não saberia o que é pior, engravidar agora enquanto sou perseguida pelo Estado e por um bando de Rebeldes ou se engravidar depois e continuar vivenciando tudo isso para depois ver meu filho crescer tendo que lidar com tudo isso.

— Ele não será como nós — Virgo alega muito calmo. — Eu não gostaria que ele fosse como eu sou.

— O menino seria rabugento — respondo com um sorriso no rosto enquanto me lavo, olho o contabilizador ligeiro. — Um minuto.

— Eu sei que ele seria rabugento e rancoroso se saísse a mim.

— Nem consigo imaginar a criança usando uma capa preta e se sentindo o dono de metade da arrogância que ainda sobrou em nossa civilização.

— Ou de toda ela.

Consigo rir, Virgo me agarra por trás de repente e me abraça colocando um beijo quente no meu pescoço.

— Minha esposa está toda engraçadinha.

— Assim como meu esposo.

Ele ri e me dá outro beijo quente, mas agora nos lábios, sorrio entre o beijo enquanto me viro e meus braços envolvem-no pelo pescoço e sou puxada para cima, abro as pernas e enlaço ele pela cintura ficando pendurada em seu corpo, as mãos grandes me seguram pelas nádegas. O fito, a água para de repente, me inclino e dou um beijo suave em seus lábios.

— Eu lamento que tudo isso esteja acontecendo, tenho certeza de que se fosse outra mulher você estaria tendo os melhores dias da sua vida.

— E eu estou tendo os melhores dias da minha vida — esclarece ele com resiliência. — Não lamente por nada, eu escolhi você, eu escolhi estar aqui e não me arrependo por nenhuma decisão que tomei.

Eu o beijo e me sinto aliviada, bem, feliz, tantas coisas que vão surgindo que cada vez mais é difícil decifrar os sentimentos e sensações.

— Você é a minha escolha, Hielena, não há o que se discutir sobre isso, tudo bem?

— Sim, meu esposo.

Mais que bem.




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